domingo, 30 de dezembro de 2018

Do luto à luta: Morte de filhos leva pais cearenses a investirem em projetos sociais


domingo, 16 de dezembro de 2018

Mitos e verdades sobre o suicídio no final do ano



"Natal e réveillon são datas de comemoração, uma época de alegria, paz, esperança e gratidão, celebrada em reuniões alegres, na companhia de pessoas que amamos. Ou pelo menos seria bom que fosse assim. Mas nem sempre é tão simples. Para alguns, esse é um dos períodos em que mais afloram angústias. O balanço do ano que terminou e as perspectivas para o próximo costumam despertar apreensões, ainda que mescladas com esperança.

Parece lógico que para uma pessoa deprimida os feriados possam ser especialmente difíceis – com uma dose a mais de estresse, sentimentos de solidão e lembranças tristes de entes queridos que já se foram. Não é de estranhar, portanto, que tanta gente acredite que os índices de suicídio crescem nos dias próximos ao Natal. Entretanto, dados de pesquisa realizada revelam uma história diferente. Estudos recentes de vários países mostram que os índices de suicídio em dezembro – e no Natal em particular – tendem a ser os menores do ano, mas nos outros feriados há uma ascensão, especialmente no ano-novo

Em um desses estudos, os índices de suicídio na Inglaterra sofriam uma queda consistentemente no Natal e uma ascensão no ano-novo durante o período de estudo de 15 anos, segundo o artigo publicado em junho no Journal of Affective Disordersof Public Health. Os pesquisadores relataram um pico geral na primavera e os índices diários mais elevados foram observados nas segundas-feiras.   
Um estudo menos recente relatou um declínio semelhante no dia do Natal nos Estados Unidos, com índices até 15% mais baixos do que a média naquele dia. As descobertas relatadas em 2015 no mesmo periódico coincidem, revelando cerca de 25% menos suicídios por volta da época do Natal na Áustria. Os índices lá eram especialmente baixos no dia 24 e permaneciam assim até
1º de janeiro, quando ocorria o maior número de suicídios em relação a qualquer outro dia do ano. Os autores observaram também maiores índices nas segundas e terças-feiras, assim como durante a semana após a Páscoa.  
No entanto, há exceções a essa tendência. Austrália e México mostram índices ligeiramente elevados tanto no dia de Natal quanto no ano-novo (assim como no Dia das Mães e no dia da independência mexicana). Mas a maioria das nações acompanha o padrão que coloca o mito em xeque: os índices de suicídio são mais baixos do que a média próximo ao Natal. “Muitas pessoas acreditam que as taxas de suicídio são mais altas nessa época do ano, o que pode deixar as pessoas mais alertas para situações em que há risco de suicídio, o que também poderia influenciar na diminuição das taxas de suicídio nesse período do ano”, diz a psiquiatra Joana Silveira Pargendler, da Associação Catarinense de Psiquiatria, coordenadora do Setembro Amarelo 2016 (campanha de prevenção ao suicídio).
Segundo ela, são registrados, em média, 24 suicídios por dia, o equivalente a 9 mil mortes por ano no Brasil. Os dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) sugerem que existe sazonalidade nas taxas de suicídio semelhante à encontrada em países de clima temperado, apenas na região Sul do Brasil, e não é possível identificar o mesmo fenômeno em outras regiões do país. Um estudo mostrou que as maiores taxas de suicídio nessa região ocorreriam na primavera, e não no inverno, como ocorre em países de clima temperado. A psiquiatra ressalta que, independentemente da época do ano, é fundamental falar a respeito do suicídio no Brasil e principalmente sobre sua prevenção. “Combater o preconceito ligado aos transtornos mentais é um passo importante que pode salvar vidas; se ideias de suicídio passam pela cabeça de alguém, é importante que se procure ajuda especializada para avaliação do risco.” A médica ressalta ainda que, na grande maioria dos casos, a pessoa que apresenta esses pensamentos tem algum transtorno mental que precisa ser tratado. 
SÍNDROME DE DOMINGO
De acordo com o psicólogo clínico Martin Plöderl, coautor do estudo austríaco na Universidade Médica Paracelsus, em Salzburgo, há tipicamente mais conexão social para muitas pessoas próximo ao Natal, o que é um fator protetor estabelecido para suicídio. As entradas em hospital psiquiátrico também diminuem durante esse período. 
Então, por que a ascensão no ano-novo? Os pesquisadores sugerem que o “efeito da promessa não satisfeita” pode explicar esse fenômeno, assim como os aumentos após a Páscoa e fins de semana. “Muitos de nós estamos familiarizados com os sentimentos após os feriados; há uma sensação de vazio, como a ‘síndrome do domingo à noite’, em que muita gente se sente bastante angustiada – é como se pairasse no ar uma pergunta: ‘Então era só isso?’. Em geral esperamos nos divertir e relaxar mais; de repente, nos damos conta de que não foi tão bom quanto queríamos e no dia seguinte temos de voltar para rotina”, diz Plöderl. “Para pessoas deprimidas, a promessa não cumprida do Natal e o ano em branco à sua frente aumentam a desesperança e, dessa forma, o risco de suicídio.” 
O consumo maior de álcool que ocorre na véspera e no dia de ano-novo pode também desempenhar um papel no rebaixamento de inibições. “Algumas pessoas podem postergar sua morte planejada para que suas famílias e amigos possam aproveitar o Natal ou para se darem uma última chance”, acredita o pesquisador.   
Embora esses achados não sugiram nenhum risco de suicídio de um indivíduo em particular, trazem implicações importantes para a política pública e profissionais de saúde. Os Centros Americanos para Controle e Prevenção de Doenças advertem em seu website que perpetuar o mito do suicídio no Natal pode afetar a prevenção e os esforços de conscientização pública. “Além disso, essa percepção equivocada pode se traduzir em um planejamento de alta dos cuidados psiquiátricos menos favorável”, diz Plöderl. “Pode ser bom para alguns pacientes deprimidos estar em casa durante os feriados, mas, à medida que janeiro se aproxima seria interessante que tivessem mais apoio.” 



domingo, 9 de dezembro de 2018

O luto nas festas de finais de ano


Perder uma pessoa querida é uma das experiências mais difíceis que enfrentamos ao longo da vida. Porém, datas especiais (como o aniversário da pessoa falecida, a data do falecimento e datas como o Dia das Mães e o Natal) podem ser momentos nos quais a saudade e a dor se intensificam ainda mais, pelas memórias afetivas que as datas trazem e por às vezes aumentar a sensação da falta que aquela pessoa nos faz.

A página Psicologias do Brasil traz algumas ideias a respeito: 

Para os enlutados

Permita-se sentir a dor. Permitir talvez seja a palavra-chave. Permita-se sentir tristeza num momento em que todos estão alegres, afinal você está vivenciando a ruptura de um vínculo. Aceite seus pensamentos e sentimentos. Não tente racionalizar emoções tão fortes. Elas ocorrem porque perdemos, fisicamente, alguém que amamos, mas esta pessoa ainda está viva em nossos pensamentos e memórias. Fale das suas emoções, dos seus sentimentos e inquietudes.

Permita-se dizer não. Você não tem a obrigação de aceitar todos os convites. Faça o que for possível e o suficiente. Faça tão somente aquilo que fizer sentido para você e te trouxer um significado.

Encontre uma forma, mesmo que simbólica, de recordar o ente querido que morreu. Procure criar uma maneira, um espaço ou um momento e tempo específico para rememorar a pessoa que morreu.

Permita-se sentir alegria. Às vezes, quando estamos sofrendo, podemos ter um momento de leveza. Uma coisa engraçada acontece e nós sorrimos. Deixe a alegria e o riso acontecerem! Não repreenda a si mesmo por se sentir feliz em seu processo de luto.

Para os familiares e amigos dos enlutados

Seja compreensivo. Eu penso que o primeiro quesito quando estamos ao lado de um enlutado é que sejamos compreensivos e solidários com a dor do outro. Então, ofereça-se para ajudar com alguns afazeres típicos dessa época, tais como, por exemplo, cozinhar um prato especifico para o almoço de Natal. Esta é uma ótima maneira da pessoa se sentir acolhida e saber que você se preocupa com o bem-estar dela. Se preferir, convide esta pessoa para almoçar em sua casa.

Esteja disponível para ouvir o enlutado. Não evite alguém só porque você não sabe o que dizer. A escuta ativa dos amigos e da família é um passo importante para ajudar alguém a lidar com a dor e os sentimentos da perda. Deixe-os compartilhar suas emoções e sentimentos. É de extrema importância que o enlutado se sinta acolhido em seu momento de dor e angustia.

Enfim, o Natal será para todo o sempre diferente depois de uma perda significativa. Faz parte do processo de luto compreender as emoções que estas datas nos proporcionam e, na medida do possível, se reorganizar emocionalmente para vivenciá-las. A morte de um ente querido implica necessariamente numa profunda mudança em nossas vidas e na forma como vamos continuar a caminhada. Talvez você encontre uma nova forma de vivenciar estes momentos, pois a elaboração do luto passa pela assimilação da ausência com a celebração com aqueles que estão vivos e fazem parte da nossa existência.




"Nossas digitais não se apagam das vidas que tocamos".

Pensando em tudo isso, no último encontro do grupo de sobreviventes enlutados por suicídio do Vita Alere do ano ontem (08/12), fizemos uma caixinha muito especial: cada um dos participantes (sobreviventes e facilitadoras) colocou suas digitais na árvore da vida, arte maravilhosa da dona Regina, mãe da Elis Cornejo, que facilita os grupos da Vila Mariana comigo. Cada um de nós levou uma caixinha para casa para lembrar que não estamos sozinhos.

Os entes queridos que partiram e cada um de nós somos únicos e insubstituíveis. Cada um de nós compõe esse espaço coletivo tão rico de significado e afetos.
Nosso grupo é este lugar de acolhimento, troca, lágrimas e sorrisos, saudade e esperança, amor e gratidão. 

Que nas festas de final de ano possamos respeitar os sentimentos do outro e os nossos.



domingo, 2 de dezembro de 2018

Suicídio e trabalho: um pesadelo real

Por Cacau Birdmad


Eu sei que já escrevi sobre suicídio, mas dessa vez quero trazer uma questão diferente, não relacionada à minha experiência pessoal, mas profissional. Quero falar do suicídio relacionado ao trabalho.

Quero falar disso porque é um tema muito ignorado quando falamos de suicídio. Na realidade, quando falamos de saúde mental, muito se fala de questões individuais e pouco se fala de questões sociais e – também, portanto – do trabalho.

Eu já falei, no meu texto sobre terceirização, sobre reestruturação produtiva. Um dos efeitos maléficos dessa reestruturação é a fragilidade de vínculos de trabalho, ou seja, a grande possibilidade de se ficar sem trabalho.

Vivemos numa sociedade na qual o trabalho é fundamental. É através do trabalho que garantimos nossa sobrevivência. É através do trabalho – infelizmente não como ferramenta de transformação do mundo, mas de produtividade – que somos socialmente valorizados. E é através do trabalho, também, que muitos de nós transformamos e construímos nossas identidades.

Estar excluído do trabalho é estar à margem de uma sociedade que deposita seu valor naquilo e no quanto você produz – em valores econômicos, apenas.

Quem trabalha, portanto, trabalha sempre sob a angústia da possibilidade de perder seu emprego – seu sustento, seu valor social, ferir parte de sua identidade. Quem não tem emprego tem ainda mais medo: de não aparecer outro bico, outro freela, de não ter o pagamento garantido.

Esse medo faz com que nos submetamos a condições de trabalho que não nos fazem bem. Isso é mais grave para pessoas pobres, que tem menos opções de escolha e para quem as consequências de perder uma “oportunidade” são muito mais graves – mas é fácil pensar também em categorias consideradas mais privilegiadas que sofrem intensamente com isso, como programadores, designers, publicitários e bancários.

Aceitamos horas extras sem pagamento, trabalhos aos finais de semana. Aceitamos sobrecargas que nos roubam convívio social e espaço para o fortalecimento de outros aspectos de nossa vida, que nos deixam exaustos e fragilizados. Aceitamos, por vezes, até mesmo humilhações, agressões – ou mesmo passarmos por cima de nossa ética – aceitamos, ou aturamos assédio moral.

Passamos a ver nossos colegas e outros profissionais da nossa área como competidores – visão muitas vezes disseminada já nas faculdades e até mesmo nas escolas – pois podem “roubar nossa vaga”, o que reduz oportunidades de compartilharmos experiências, aprendizagens, de nos apoiarmos e confiarmos uns nos outros. Isso produz sensações de isolamento e de permanente desconfiança e tensão, além de, novamente, nos forçarmos a constantemente ignorarmos nossos limites para nos demonstrarmos importantes, úteis e necessários aos nossos locais de trabalho.

Em locais nos quais a produção é medida por equipe, passamos a ser vigias e carrascos uns dos outros, temendo que o mal desempenho de um colega nos afete.  Acima de tudo, essa competitividade exacerbada dificulta ou impede que nos unamos para lutar contra trabalhos massacrantes.

Nesse cenário, trabalhos que poderiam nos dar prazer e orgulho vão, por vezes, perdendo seu sabor. A vida se torna acelerada, cansativa, solitária e sem sentido. Somada a uma cultura que exalta a excelência e o valor por produção e que atribui resultados a fatores individuais, como personalidade e capacidade, nos sentimos fracos, incapazes, inadequados.

Fadigados pela sobrecarga, pela tensão, desconfiança, solidão e angústia, nós ficamos vulneráveis para o adoecimento mental. Não é à toa que os índices desse tipo de adoecimento só têm crescido, bem como os afastamentos do trabalho por questões de saúde mental.

É importante destacar que esse cenário do mundo do trabalho está inserido numa sociedade machista, racista, heteronormativa e transfóbica. Isso significa que pessoas que não são do gênero masculino, brancas, heterossexuais e cissexuais sofrem muito mais intensamente com essas questões, visto que suas chances de perder empregos e não conseguirem se recolocar no mercado são ainda maiores, motivadas por preconceitos sociais.

Entre bancários, no período de 1996 a 2005, havia tentativas de suicídio diárias, acarretando em uma morte a cada 20 dias. Não à toa, afinal a categoria bancária é considerada uma das mais afetadas pela reestruturação produtiva, com transformações gigantescas a sua forma de trabalho, que os transformou de pessoas que te auxiliavam no cuidado com seu dinheiro no banco em vendedores submetidos a metas exaustivas e medidas inescrupulosas para que sejam atingidas, contra as quais seu sindicato luta arduamente.

Outra categoria marcada pelas tentativas de suicídio são atendentes de telemarketing. Trabalho em não se exige grande especialização, ou seja, no qual parece fácil ser substituído (o que não é verdade), em que há grande controle daquilo que se faz e de como se fala, por vezes com frases prontas e cheias de regrinhas que se precisa lembrar o tempo todo, grande isolamento, violência (seja assédio moral de supervisores, seja a violência de clientes), pouca clareza ou controle dos resultados (muitas vezes não se sabe se o problema do cliente pôde ser resolvido, por exemplo, e não importa quanto se argumente, nem sempre vendas são garantidas, dependendo muito de outros). Ou seja: trabalho recheado de fatores prejudiciais à saúde mental.

Se o índice de tentativa de suicídios é maior em alguns tipos de trabalho, categorias e vínculos trabalhistas (terceirizados, trabalhos informais), por que ainda falhamos em ver suas relações com o trabalho?

Precisamos começar a falar sobre isso para que possamos compreender e transformar essas situações produtoras de tanto sofrimento. Para que possamos reconhecer as armadilhas nas quais somos colocados e procurarmos caminhos para nos livrarmos delas. Para que compreendamos que não estamos adoecendo por sermos fracos, incapazes ou inadequados – mas porque nossos trabalhos estão sendo pensados e feitos de modo a nos prejudicar. Para que possamos nos unir e lutar por outras condições sociais, por outros modos de trabalhar. Para que pessoas possam ter outras saídas desses cenários que não a morte.

Se você está percebendo que seu trabalho está te gerando sofrimento, procure ajuda. Na saúde pública você pode recorrer aos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador. Há também na Clínica Ana Maria Poppovic, em São Paulo, o projeto da Clínica do Trabalho, nos quais os atendimentos psicológicos olham cuidadosamente para essas questões. Alguns sindicatos, como o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, oferecem semestralmente grupos terapêuticos e de enfrentamento. Você pode também, é claro, procurar psicólogos clínicos, mas preste atenção na maneira com a qual eles encaram o trabalho: como um aspecto menos relevante do que fatores individuais ou como um elemento importante no seu adoecimento?

Você não precisa enfrentar esse problema sozinha.

http://ovelhamag.com/suicidio-e-trabalho-um-pesadelo-real/


domingo, 25 de novembro de 2018

6 coisas que pessoas com depressão gostariam que você soubesse

Há dois anos, fui diagnosticada com depressão. No auge dos meus 25 anos, interpretei como um atestado de fracasso, pois enquanto meus amigos cresciam nas carreiras e na vida pessoal, eu precisei me afastar do trabalho e me sentia esquisita trocando a cerveja do bar por gotinhas de inibidores seletivos da recaptação da serotonina — os remédios mais comuns para o tratamento da depressão e transtornos de ansiedade.

Com o tempo, porém, entendi que não havia nada de esquisito no meu diagnóstico, pelo contrário, eu estava exatamente no grupo de maior prevalência: mulheres com entre 18 e 25 anos, segundo o Instituto Nacional de Saúde Mental (NIH), dos Estados Unidos.  
E percebi que falar sobre o assunto é importante não só para me ajudar a lidar com os sintomas do distúrbio, quanto para conscientizar outras pessoas sobre um transtorno que já é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de problemas de saúde e incapacidade em todo o mundo.  Por isso, baseando-me em experiências próprias e conversas com outras pessoas que também têm ou tiveram depressão, reuni 6 coisas que gostaríamos que você soubesse:

1. Depressão não é sinônimo de tristeza
O sentimento de tristeza, que é muito mais uma sensação desesperança e falta de perspectiva em relação ao futuro do que vontade de ficar na cama chorando o dia inteiro, é só um dos sintomas do distúrbio. Muita gente, inclusive, reclama da inabilidade total de conseguir de fato derramar lágrimas.

2. Nem de preguiça
No auge de um episódio depressivo, até atividades de lazer, como assistir a um filme, podem se tornar difíceis. Isso porque a capacidade de concentração praticamente desaparece, e a única tarefa que não exige foco é ficar deitado — mas isso não necessariamente significa dormir. A insônia, aliás, é um dos sintomas mais comuns, ao contrário do que muita gente parece acreditar.

3. Nós somos os que mais duvidamos dos sintomas
Antes de sugerir que tudo possa ser “só uma fase” ou que “vá dar uma volta para melhorar o astral” a algum amigo que relata sintomas de depressão, saiba que tudo isso provavelmente já passou pela cabeça dele. Eu levei mais de seis meses de terapia, duas consultas em um clínico geral e uma em um psiquiatra para aceitar que o que eu tinha era real, e não um monte de frescuras e loucuras, e que eu devia tomar o remédio. Se você sente que precisa sugerir ou dar algum conselho, o melhor é oferecer ajuda para buscar recomendações de médicos ou mesmo acompanhar em alguma consulta.

4. E achamos que somos culpados por eles
Uma das maiores sacanagens da depressão é o sentimento de culpa não só pela situação, como por todos os problemas do mundo. O que não faz o menor sentido quando você vê de fora e está bem, mas menosprezar o sentimento, com frases do tipo “você está exagerando” ou “pare de frescura”, não ajudam em nada.

5. Não é só tomar um remedinho
Ao contrário de outras doenças, que têm um remédio feito sob medida para o tratamento, existem diferentes tipos de medicamentos para a depressão — e não estamos falando de genérico e não genérico, até porque a maioria deles é bem cara (alô, mundão, está na hora de deixar esse tratamento mais acessível, né?). Encontrar o ideal para cada pessoa pode levar tempo e mais tempo ainda pode levar até começarem a fazer efeitos: em média, três semanas. Tudo isso enquanto se aguenta no osso efeitos colaterais como náusea, boca seca, dor de cabeça. Como se estivesse com ressaca o tempo todo, não bastassem todos os outros sintomas.

6. Não se assustem
Depressão não é doença crônica, mas é quase como se fosse, por causa dos altos e baixos. Estou há alguns meses tentando parar de tomar o remédio, em vão. É claro que com o tempo a gente aprende a conviver e a identificar gatilhos que desestabilizam a química do cérebro, embora dificilmente haverá um momento de “cura”. Portanto, não se assustem se um dia estivermos bem e, no minuto seguinte, quisermos ir embora da festa. Acontece. É bom saber que você se importa e tem empatia, mas reações exageradas também incomodam — procure dar abertura para o deprimido conversar e só ouça o que ele tem a dizer.

MARILIA MARASCIULO

https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2018/09/6-coisas-pessoa-com-depressao-gostaria-que-voce-soubesse.html


domingo, 18 de novembro de 2018

No Outubro Rosa e no Novembro Azul também precisamos falar sobre suicídio


Quando falamos a respeito da prevenção do suicídio, sempre abordamos os fatores de risco e os fatores de proteção como aspectos fundamentais para a avaliação de risco. 

Como Kovács (1996, p. 17-18)  aponta:

"O diagnóstico de uma doença com prognóstico reservado traz à tona a fragilidade do ser humano e o contato com a sua finitude, lembrando a possibilidade da morte mais próxima. [...]
O medo do sofrimento, da dor e da degeneração podem fazer com que o indivíduo se sinta morto ou prefira morrer a viver uma quase vida".   

Existem estudos que relacionam as neoplasias a um risco mais significativo de suicídio, especialmente quando se trata de: pacientes do sexo masculino; período inicial do diagnóstico (os primeiros meses são apontados como momento de maior risco); diagnóstico de metástase e os desdobramentos da quimioterapia e de todo o tratamento; dor não controlada e impacto na qualidade de vida (OMS, 2000; ALBUQUERQUE E SAMPAIO, 2014).

Andrew Solomon, no livro "O demônio do meio-dia: uma anatomia da depressão" (2014, p. 256), relata o quanto o suicídio de sua mãe ("nos estágios finais do câncer terminal") quando ele tinha 27 anos, foi desestabilizador. "Embora eu admire minha mãe por ter feito o que fez e acredite em sua atitude, seu suicídio é o cataclismo de minha vida". 

Ele conta:
"O câncer de minha mãe foi diagnosticado em agosto de 1989. Em sua primeira semana no hospital, ela anunciou que ia se matar. Todos tentamos não levar a sério essa declaração, e ela não insistiu. Naquela época, ela não estava falando de um plano ponderado para terminar com seus sintomas - quase não tinha nenhum - , mas expressava uma sensação de ultraje ante a indignidade do que estava à sua frente e um profundo medo de perder o controle de sua vida. Na época, falava de suicídio como alguém que sofreu uma decepção no amor poderia falar dele, como uma alternativa rápida e fácil para o lento e doloroso processo de recuperação. Era como se quisesse vingança pela afronta que recebera da natureza; se sua vida não podia ser requintada como antes, ela não a queria mais" (SOLOMON, 2014, p. 259).    

Carvalho (1996, p. 94-95) comenta, a partir de sua experiência com pacientes da oncologia:
"[...] aprendi a reconhecer os que querem viver e os que querem morrer.. Não chego a dizer que o câncer já tenha sido provocado, inconscientemente, com essa intenção. Mas, uma vez instalado o processo canceroso, aqueles que realmente querem viver muitas vezes conseguem reverter o processo. Outros vão se entregando aos braços de uma dama atraente, às vezes libertadora, às vezes consoladora, chamada Morte. Já ouvi a frase - o câncer é um suicídio socialmente aceito".  

O diagnóstico do câncer pode mobilizar medo, angústia e potencializar o surgimento de quadros de sofrimento mental - principalmente a depressão e a ansiedade. Determinados transtornos mentais, associados a fatores psicossociais,  podem potencializar as tendências autodestrutivas, incluindo a morte autoprovocada.  
“O suicídio pode ser um meio de manter o senso de controle e uma alternativa reconfortante para pacientes que se sentem oprimidos pela incerteza, sentimentos de impotência e temor de experimentar um sofrimento insuportável” (SANTOS, 2017).

De acordo com uma pesquisa de Teng, Humes e Demetrio (2005), “pacientes oncológicos deprimidos aderem menos aos tratamentos propostos, piorando seu prognóstico. A qualidade de vida fica comprometida, acelerando um ciclo vicioso de desesperança que pode culminar em suicídio”.

Segundo Albuquerque e Cabral (2014):

"Ideias de suicídio podem surgir como uma alternativa, que alguns consideram racional, a uma morte dolorosa e incontrolável, especialmente em fases avançadas da doença 'se as coisas piorarem muito, terei sempre uma saída' " (p. 349).  

Considerando estas questões, é fundamental oferecer um cuidado integral para pessoas que se encontram em tratamento de câncer e fortalecer ainda mais os fatores de proteção. 

Para Albuquerque e Cabral, o primeiro cuidado deve ser a disponibilidade para discutir abertamente sobre a doença, suas angústias e o medo da morte. As autoras destacam ainda a importância do controle dos sintomas físicos, para promover o bem-estar e permitir que a pessoa tenha o menor sofrimento possível.

Redes de apoio, grupos terapêuticos e acompanhamento psicológico são recursos importantes para que a valorização da vida se intensifique cada vez mais.  

Como diz Rubem Alves: “Na verdade, a Morte nunca fala sobre si mesma. Ela sempre nos fala sobre aquilo  que estamos fazendo com a própria Vida, as perdas, os sonhos que não sonhamos, os riscos que não tomamos (por medo) [...] Ela nos convida a contemplar a nossa própria verdade. E o que ela nos diz é simplesmente isto:  'Veja a vida. Não há tempo a perder.
É preciso viver agora!  Não se pode deixar o amor para depois...'". 

Sempre é possível ressignificar nossas experiências, como Sophie Sabbage afirma no livro "O que o câncer me ensinou":

 "A partir do momento em que soube que minha doença era incurável, minha vida foi transformada radicalmente. Morrer é agora uma parte íntima e integral do meu viver. É minha companhia de todos os dias. Eu precisava aceitar essa presença e reconhecer que a morte não precisava me roubar do meu propósito, que eu ainda podia ser motivada e transformada pela maneira como me dedico a esta experiência. Mesmo as grandes feridas da minha vida podiam ser curadas antes de eu morrer.
[...] Eu poderia perdoar o que não havia sido perdoado; refazer relacionamentos que tinham sido negligenciados; publicar a poesia que  escondera em arquivos secretos no meu computador [...] e substituir os arrependimentos da minha vida por gratidão pelo que realizei ao longo do caminho. Eu poderia morrer curada, viver curada e sair transformada ou sobreviver transformada. O resultado final está nas mãos de Deus, mas isso é de minha total responsabilidade"Sophie Sabbage em "O que o câncer me ensinou" (2017, p. 93).

- Psicóloga Luciana França Cescon 

Referências

ALBUQUERQUE, Emília e CABRAL, Ana Sofia. Doença oncológica e suicídio. In: SARAIVA, Carlos Braz; PEIXOTO, Bessa e SAMPAIO, Daniel (coord.). Suicídio e comportamentos autolesivos: Dos conceitos à prática clínica. Lisboa: Lidel, 2014 (pp.349-356).  

CARVALHO, Margarida M. J. de. Suicídio: a morte de si próprio. In: BROMBERG, Maria Helena Pereira Franco; KOVÁCS, Maria Julia et al. Vida e morte: laços da existência. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.

KOVÁCS, Maria Julia. A morte em vida. In: BROMBERG, Maria Helena Pereira Franco; KOVÁCS, Maria Julia et al. Vida e morte: laços da existência. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Prevenção do suicídio: um manual para profissionais da saúde em Atenção Primária. Genebra, 2000.  

SABBAGE, Sophie. O que o câncer me ensinou. São Paulo: Sextante, 2017. 

SANTOS, Manoel Antônio dos. Câncer e suicídio em idosos: determinantes psicossociais do risco, psicopatologia e oportunidades para prevenção. Ciênc. saúde coletiva,  Rio de Janeiro ,  v. 22, n. 9, p. 3061-3075,  Setembro  2017.

SOLOMON, Andrew. O demônio do meio-dia: uma anatomia da depressão. 2a. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.  

TENG, Chei Tung; HUMES, Eduardo de Castro; DEMETRIO, Frederico Navas. Depressão e comorbidades clínicas. Rev. psiquiatr. clín.,  São Paulo ,  v. 32, n. 3, p. 149-159,  Junho  2005 .


domingo, 11 de novembro de 2018

Livro: A tristeza transforma, a depressão paralisa_______Neury Botega

Mais um trabalho incrível do Dr. Neury Botega, que aborda a depressão sob três aspectos: 1) para pessoas com depressão; 2)para familiares e amigos de alguém que esteja enfrentando a depressão e 3) com informações aprofundadas sobre o tema.

Em uma linguagem superacessível, com exemplos de relatos e casos que traz da sua vasta bagagem na área da saúde mental, é uma leitura mais do que indicada.

"Se a tristeza brota em meio a uma crise existencial nutrida por conflitos que se arrastam, é imprescindível examinar atentamente o que se passa dentro da gente e não fugir [...] A tristeza pode ser transformadora" (p. 19-20).

"A depressão altera radicalmente o modo de pensar, de se ver e de viver. Afeta o passado, o presente e o futuro. A lente da depressão aumenta o tamanho dos problemas e faz com que só enxerguemos defeitos e dificuldades, nenhuma luz. Por causa da depressão, deixamos de valorizar nossas qualidades e conquistas" (p. 26).

"Se você tivesse sido atropelado por um caminhão e sobrevivesse, já imaginou como seria sua recuperação, como levaria algum tempo? [...] Então, se você está sofrendo de depressão, de alguma forma você foi atropelado pelo destino!
Se a depressão estiver relacionada a uma perda ou uma adversidade, o sentido da vida terá de ser ressignificado" (p. 79).

"Algumas pessoas pensam que não há doença mental que resista ao esforço pessoal de superação. Pois não é assim. Força de vontade não cura depressão. [...] É preciso tratamento para recobrar forças!" (p. 115).

"Quem nunca teve depressão geralmente a imagina como uma tristeza, uma onda de baixo-astral que pode melhorar a partir do esforço pessoal. 'Você tem que reagir, tem que se esforçar pra melhorar!' Comentários como esse são comuns e têm o intuito de animar o paciente deprimido. O problema é que eles põem a culpa na vítima. A pessoa deprimida sabe o que deveria fazer, mas simplesmente não consegue iniciar uma ação. Sente desânimo e impotência paralisantes" (p. 117).