domingo, 24 de dezembro de 2017

Razões para continuar vivo ________________________ Matt Haig

Domingo, véspera do Natal. Uma data que para boa parte das pessoas é de alegria, união ... Mas para outras, é um momento de dor, saudades, solidão ... ou de sentir ainda mais distante dos demais ...

Por isso, a postagem da semana será sobre o livro"Razões para continuar vivo".

"Com pouco mais de 20 anos, Matt Haig viu seu mundo ruir. Ele simplesmente não conseguia mais encontrar dentro de si a motivação para permanecer vivo. Na época, Matt morava em Ibiza, Espanha, perto de um penhasco. Em meio à neblina da depressão, ele foi até a beirada do precipício e olhou para o mar. Era a paisagem mais linda que já tinha visto, e ainda assim aquilo não parecia mais ter importância. Sem encontrar sentido na vida, Matt queria apenas dar um fim ao vazio em seu peito. Entretanto, em vez de se jogar, ele recuou.

Ao intercalar diversos episódios dos três anos em que sofreu de depressão com diálogos internos entre o eu do passado e o eu do presente, listas breves das atividades que o ajudaram, tuítes de leitores, além de dados sobre a doença que afeta milhões de pessoas no mundo todo, Matt Haig constrói uma obra única e delicada. Razões para continuar vivo é mais do que um livro de memórias: é uma análise comovente sobre como viver melhor, amar melhor e se sentir mais vivo".


Razões para continuar vivo
  1. As coisas não vão piorar. É o ponto mais baixo. Daí só é possível subir.

  1. Praticamente qualquer ser humano seria capaz de encontrar um motivo para se odiar se pensasse tanto no assunto quanto você. Nós, seres humanos, somos todos uns canalhas completos, mas também perfeitamente maravilhosos.

  1. A mente tem um clima próprio. Você está num furacão. E os furacões acabam perdendo força. Aguente firme.

  1. Ignore o estigma. Toda doença um dia teve o seu estigma. A gente tem medo de ficar doente, e o medo leva ao preconceito antes de levar à informação. A culpa da pólio, por exemplo, costumava ser atribuída aos pobres. E a depressão muitas vezes é vista como “fraqueza” ou falha de caráter.

  1. Um dia você vai sentir uma alegria equivalente a essa dor. Vai derramar lágrimas de euforia ouvindo Beach Boys, observar o rosto de um bebê adormecido nos seus braços, fazer grandes amizades, saborear comidas deliciosas que nunca experimentou, contemplar a paisagem de um lugar bem alto sem pensar na possibilidade de morrer na queda. Existem livros que você ainda não leu que vão enriquecê-lo, filmes que verá enquanto come sacos gigantes de pipoca, e você vai dançar, rir, fazer sexo e sair para correr à beira do rio e conversar noite adentro e rir até chorar. A vida está esperando você. Você pode estar preso aqui por algum tempo, mas o mundo não vai a lugar nenhum. Aguente firme aí se puder. A vida sempre vale a pena.


 

domingo, 17 de dezembro de 2017

“Era de manhã quando recebi o telefonema avisando que meu irmão tinha se suicidado. Enforcou-se. Levei um susto muito grande, foi um choque. No caminho até minha casa, senti vergonha por ser da família de um suicida. Tenho três tias velhinhas, que são de uma geração em que o suicídio era ainda mais estigmatizado – e disse a elas que devíamos contar para todos que o meu irmão havia se suicidado. Preferi não ocultar. O gesto dele me trouxe uma sensação dolorida de que também poderia acontecer comigo. Tive medo de ser o próximo. Fiquei muito assustado. Venho de um núcleo de morte – minha mãe morreu jovem, de câncer, quando eu era criança, e meu pai sofreu um infarto agudo há alguns anos. Não acredito que tenham sido mortes naturais, talvez eles quisessem mesmo morrer.
Me senti muito culpado, foi inevitável. Pensei que talvez pudesse ter feito alguma coisa. O suicídio é uma violência muito grande. Parece uma bomba, uma explosão. Era meu irmão mais velho. Acho que ele nunca desejou alguma coisa com empenho. Tudo, para ele, tanto fazia, qualquer coisa estava bem. Era uma situação crônica. Ele entrou em várias faculdades e não terminou de cursar nenhuma. Tentou vários empregos, mas saiu de todos eles. Foi casado, separou-se, tinha uma namorada. Aparentemente sua vida estava estruturada. E ele não era depressivo. Talvez não estivesse vendo perspectivas. As razões do suicídio são um mistério. Pensei muito em quais teriam sido os motivos. Só relaxei quando assumi que não podia entendê-los. No enterro, senti uma raiva muito, muito grande. Naquele instante, experimentei uma profunda sensação de abandono. Nunca tinha sentido isso antes. Meu irmão foi enterrado no mesmo túmulo onde já estavam os meus pais.
Fiquei sozinho. Tenho muita vontade de viver. Acho que é uma espécie de resistência – gosto de festas, brigo pela vida, vivo intensamente, tenho amigos, curto meu trabalho, sou afetivo… Sempre fui assim, mas o suicídio me fez ver de maneira mais consciente que a vida é uma só. Não sou nada religioso, mas acho que todos nascemos para ser felizes, para desfrutar.
Pensei muito nisso, logo depois do suicídio. Um dia, fiquei parado uns 15 minutos diante de uma avenida onde os carros vinham em alta velocidade e não havia faixa de pedestres. Era só um passo, tão fácil, e tudo se acabaria. Depois, ao visitar um novo apartamento, também contemplei a janela demoradamente… Num ato poderia resolver tudo, todos os meus problemas. Mas prefiro os meios mais difíceis. Não acredito em outra maneira.”

E.S., médico e professor universitário, 45 anos



domingo, 10 de dezembro de 2017



    O documentário "Jornada de família: a cura e a esperança após o suicídio", material realizado pela AFSP (Fundação Americana de Prevenção do Suicídio), do qual o Instituto Vita Alere é associado, pelo Dia Internacional dos Sobreviventes.
    O vídeo traz depoimentos e histórias emocionantes e reais de pessoas que perderam seus entes queridos por suicídio e como tem sido sua jornada desde então.
    Obs: Para legendas em português, clique na CC.





domingo, 3 de dezembro de 2017

Livro: Depois do suicídio ______________________ Sheila Clark



Entre os poucos livros voltados especificamente para os enlutados por suicídio, "Depois do suicídio: apoio às pessoas em luto" traz informações e sugestões com muita delicadeza.

Na apresentação, a autora já traz sua proposta:

"Alguém que você amava e por quem se preocupava tirou a própria vida. Talvez você tenha ficado arrasado. Pode ter se sentido chocado, horrorizado. Por que essa pessoa fez isso? Poderia ter feito algo para impedi-la?
Essas e inúmeras outras emoções podem sufocá-lo, fazendo-o sentir-se ferido, indefeso e confuso. Haverá momentos em que você chegará a questionar sua própria sanidade e se perguntará se você ou sua família são as únicas pessoas no mundo a sentir esse trauma. Esses pensamentos são muito normais.
Você não está sozinho. Antes de você, muita gente enfrentou a mesma crise e sobreviveu. Este livro é a compilação  dessas experiências.
A morte pelo suicídio pode afetar profundamente a família e amigos mais chegados, mas não apenas esses. Ela também causa dor a conhecidos e a parentes mais distantes, como avós, primos, amigos, professores, colegas de trabalho e terapeutas.
Este livro foi escrito como resposta a muitos pedidos de ajuda feitos por pessoas que passaram pelo luto causado pelo suicídio. Ele tem a intenção de lhe dar alguma compreensão sobre a dor que você está sentindo, e de ajudá-lo a viver novamente de forma plena. Ele também pode ajudar as pessoas que o cercam a compreender suas necessidades" (p. 23).


A parte final, com autorização para fotocópia, traz dicas importantes sobre como ajudar os sobreviventes:


Ajudando o enlutado


O que ajuda

Reservar um tempo de sua vida e escutar atentamente.

Deixar claro que a situação pela qual estão passando é normal.

Estimular a manifestação dos sentimentos à maneira de cada um.

Aceitar seu comportamento – choro, grito, silêncio, riso.

Mostrar simpatia – é a base de um relacionamento.

Procurar entender e aceitar essa pessoa.  Cada pessoa é diferente de outra.

Permitir expressões como raiva, culpa. Reflita sobre o sentido de suas palavras. Deixar claro que você compreende o que estão dizendo.

Mostrar que o luto dura algum tempo para passar.

Manter contato pessoal ou por telefone. As visitas não precisam ser longas.

Abraçar quando julgar apropriado.

Falar da pessoa que morreu.

Incluir as crianças no luto familiar.


O que não ajuda

Evitar falar sobre a perda.

Inibir a pessoa oferecendo conselhos.

Dar sermões ou argumentação.

Esperar ou julgar como deveria ter sido.

Usar clichês.

Realizar falsos consolos.

Dizer ‘sei como você se sente’.

Tentar fazer tudo no lugar da pessoa.

Tornar a perda algo trivial.

Comparar com outras perdas.

Descrever a teoria do luto.

Tirar o foco daquilo que estão dizendo.

Interpretar.

Incluir seus sentimentos na situação atual.

Deixar de lado a pessoa, se o fardo se tornar muito pesado.

Dar detalhes de seu luto.


Ofereça:

Um bom ouvido;

Tempo para escutar;

Um abraço carinhoso.

Mantenha contato. (CLARK, 2007, p. 134-135).


CLARK, Sheila. Depois do suicídio: apoio às pessoas em luto. São Paulo: Gaia, 2007.