Dica da Camila Appel (da página Morte sem tabu https://www.facebook.com/mortesemtabu), este livro fala do luto de pessoas que perderam seus entes queridos por suicídio.
Dá um nó na garganta, sim. A delicadeza do texto, com tantas histórias coletadas pela jornalista Carla Fine, que perdeu seu marido, não impede que a gente fique impactada pela dor dos sobreviventes enlutados. Mas é muito importante falar cada vez mais sobre o cuidado para quem sobrevive depois de um suicídio, para diminuir o estigma e apoiar aqueles que ficam depois de uma perda desta magnitude, "sem tempo de dizer adeus".
A autora fala muito sobre a importância de participar de grupos de apoio: "Pensei no estranho vínculo que une os sobreviventes do suicídio. Embora cada uma das situações seja única, todos passamos por etapas semelhantes em nosso processo de luto. Quando conhecemos alguém que passou por isso, nosso caos pessoal e nosso segredo parecem um pouco menos assustadores.
O suicídio é diferente das outras mortes. Nós, os que ficamos para trás, não podemos dirigir nossa raiva à injustiça de uma doença mortal, de um acidente aleatório ou de um assassino desconhecido. Em vez disso, sofremos pela mesma pessoa que tirou a vida de nosso ente querido. Antes de começar a aceitar nossa perda, precisamos lidar com as razões dela - e com o reconhecimento gradual de que talvez nunca saibamos o que aconteceu, nem por quê" (p. 13-14).
Ao abordar as especificidades do luto por suicídio, a autora explica:
"No meu luto, eu também queria ser igual a todo mundo. Queria que minha família e meus amigos me consolassem, e não me questionassem sobre os motivos de Harry ter se matado. Eu queria sofrer a ausência do meu marido, não analisar seus motivos para morrer. Eu queria celebrar sua bondade e amizade ao longo de 21 anos de casamento, não ficar com raiva dele por me abandonar no auge de nossa vida.
O suicídio de uma pessoa querida nos transforma de maneira irreversível. Nosso mundo fica em pedaços, e nunca mais seremos os mesmos. A maioria de nós se adapta, aprendendo finalmente a transitar num terreno em cuja segurança deixamos de confiar. Aceitamos, gradualmente, que nossas perguntas não serão respondidas. Tentamos evitar nos torturar por não ter conseguido prever a catástrofe iminente nem impedir que nossos entes queridos tirassem a própria vida" (p. 19-20).
O livro vale muito a leitura, e a autora termina com a seguinte reflexão:
"Numa jornada cheia de pontos de referência desconhecidos e reviravoltas inesperadas, aqueles de nós cujos entes queridos puseram fim à vida de forma tão abrupta e com tanta angústia não hesitam diante de uma certeza incontestável: nós temos muita saudade de nossas mães e irmãs, de maridos e filhas, de irmãos e filhos, mulheres e pais, parentes e amigos. No entanto, nossa sobrevivência - e mesmo nossa vitória - é o legado que levamos adiante, um tributo à memória daqueles que nós amamos e inexplicavelmente perdemos" (p. 209).