domingo, 25 de dezembro de 2016

Veronika decide morrer ___________________ Paulo Coelho

Um livro de Paulo Coelho, lançado em 1998, "Veronika decide morrer" aborda a temática do suicídio e também da loucura.

Sinopse: O livro conta a história de Veronika, uma jovem eslovena, que não aceita a ideia de viver uma vida sem sentido, decidindo se matar com uma overdose de calmantes. O suicídio fracassa e Veronika é internada em uma clinica psiquiátrica. Atendida pelo Dr. Igor, é informada que não terá mais que algumas semanas de vida, e provavelmente, morrerá internada. Durante seu tempo interna conhece Eduard, um jovem esquizofrênico que não conversa com ninguém. Veronika e Eduard se apaixonam e resolvem fugir da clinica psiquiátrica. Paulo Coelho inspira-se na sua própria experiência de vida, vivida aos 17 anos, idade em que também esteve internado numa clínica. 

"No dia 11 de novembro de 1997, Veronika decidiu que havia - afinal! - chegado o momento de se matar. [...]" (p. 07).

"Acreditava ser uma pessoa absolutamente normal. Sua decisão de morrer devia-se a duas razões muito simples, e tinha certeza de que, se deixasse um bilhete explicando, muita gente ia concordar com ela.
A primeira razão: tudo em sua vida era igual, e - uma vez passada a juventude - a tendência era de que tudo passasse a decair, a velhice começasse a deixar marcar irreversíveis, as doenças chegassem, os amigos partissem. Enfim, continuar vivendo não acrescentava nada; ao contrário, as possibilidades de sofrimento aumentavam muito.
A segunda razão era mais filosófica: Veronika lia jornais, assistia à TV, e estava a par do que se passava no mundo. Tudo estava errado, e ela não tinha como consertar aquela situação - o que lhe dava uma sensação de inutilidade total" (p. 13).

"Aos 24 anos, depois de ter vivido tudo que lhe fora permitido viver - e olha que não foi pouca coisa! - Veronika tinha quase certeza de que tudo acabava com a morte. Por isso escolhera o suicídio: liberdade, enfim. Esquecimento para sempre. No fundo do seu coração, porém, restava a dúvida: e se Deus existe? Milhares de anos de civilização faziam do suicídio um tabu, uma afronta a todos os códigos religiosos: o homem luta para sobreviver e não para entregar-se. A raça humana deve procriar. A sociedade precisa de mão de obra. Um casal necessita de uma razão para continuar junto, mesmo depois que o amor deixou de existir, e um país precisa de soldados, políticos e artistas.

“Se Deus existe, o que eu sinceramente não acredito, entenderá que há um limite para a compreensão humana. Foi Ele quem criou esta confusão, onde há miséria, injustiça, ganância, solidão. Sua intenção deve ter sido ótima, mas os resultados são nulos; se Deus existe, Ele será generoso com as criaturas que desejaram ir embora mais cedo desta Terra, e pode até mesmo pedir desculpas por nos ter obrigado a passar por aqui.”
Que se danassem os tabus e as superstições. Sua religiosa mãe dizia: “Deus sabe o passado, o presente e o futuro.” Nesse caso, já lhe havia colocado neste mundo com plena consciência de que ela terminaria por se matar, e não iria ficar chocado com seu gesto" (p. 14).

"- Por isso eu estava chorando - disse Veronika. - Quando tomei os comprimidos, eu queria matar alguém que detestava. Não sabia que existiam, dentro de mim, outras Veronikas que eu saberia amar" (p. 70) 
     
"Estava internada num hospício, e podia sentir coisas que os seres humanos escondem de si mesmos - porque somos todos educados apenas para amar, aceitar, tentar descobrir uma saída, evitar o conflito. Veronika odiava tudo, mas odiava principalmente a maneira como conduzira sua vida - sem jamais descobrir as centenas de outras Veronikas que habitavam dentro dela, e que eram interessantes, loucas, curiosas, corajosas, arriscadas." (p. 73)




domingo, 18 de dezembro de 2016

A era da autodestruição

Os jovens buscam cada vez mais no suicídio uma fuga para seus sofrimentos. Maior acesso a drogas, isolamento e perfeccionismo são algumas das explicações para o crescimento do problema

“Eu fiz de conta que era um dia normal. Levantei, fui à escola, voltei para casa e subi no telhado do prédio. Meu pé direito já estava no ar. Bem quando ia pular, olhei para cima. Do outro lado da rua, uma família olhava para mim da janela do seu apartamento. Havia essa menininha com o olhar fixo em mim, e ela balançou a cabeça e cobriu o rosto. Por causa dela, não pulei.”

Esse é o depoimento de um jovem de 20 anos que chegou à beira do suicídio em 2009 e mudou de ideia. O relato foi postado num tópico no site Reddit sobre os usuários da rede social que tentaram se matar. No início de outubro eram quase 10 mil comentários no tópico, boa parte relatos em primeira pessoa de uma epidemia silenciosa que não para de crescer no Brasil.

Segundo dados do Mapa da Violência 2014, a taxa de suicídio de jovens com idade entre 10 e 14 anos aumentou 40% no país nos últimos 10 anos. Entre os jovens com idade entre 15 e 19 anos, o crescimento foi de 33%. O Brasil é um exemplo de uma tendência que assola o mundo: o suicídio é a principal causa de morte entre jovens em um terço dos países. Por aqui, o suicídio está atrás de homicídios e acidentes de carro, com taxas 4 e 6 vezes maiores de mortes. O problema é que o assunto ainda é um tabu — e características da adolescência, como isolamento e alterações de humor, fazem com que o comportamento suicida muitas vezes passe batido para a família.

“O adolescente não tem uma visão crítica em relação ao prejuízo. Prepotência, despreocupação com o futuro e achar que aquilo não vai dar em nada os deixam vulneráveis”, diz Jair Segal, psiquiatra especialista em comportamento suicida. “Boa parte desses jovens é exposta mais precocemente a substâncias psicoativas, especialmente o álcool, usado para minimizar o sofrimento. E a sociedade está cada vez mais tolerante ao uso de álcool em todas as faixas etárias.”

O último Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), de 2013, aponta que 36% dos jovens consomem álcool de forma nociva — quatro doses ou mais em até duas horas. É um aumento de três pontos percentuais em relação há três anos, segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, da Universidade Federal de São Paulo. Quando a bebida é aliada à depressão, doença que afeta quase um terço dos adolescentes, tem-se uma combinação perigosa. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão é a principal causa de doença e inaptidão de adolescentes no mundo.

Outro fator apontado como uma das causas do aumento nos suicídios é o excesso de aulas, cursos e esportes a que os jovens são submetidos. Trata-se de um estilo de vida que está sendo investigado por psicólogos que relacionam a epidemia ao perfeccionismo. Estudo divulgado no ano passado nos EUA apontou que 70% dos 33 meninos que tiraram a própria vida tinham exigências altas demais. “O adolescente muitas vezes sofre com uma imagem fantasiada dos pais e não tem espaço para ser quem ele é, além de não tolerar a frustração”, diz Karen Scavacini, psicóloga e fundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio.


INTERNET – Entre trolls e anjos da guarda

A internet tem um papel ambivalente quando o assunto é suicídio. Por um lado, ela pode ser a origem dos problemas dos jovens que tiram a própria vida. Um caso bastante comentado no Brasil foi o de Júlia Rebeca, que em 2013 anunciou sua própria morte pelo Twitter depois que um vídeo íntimo seu com outra jovem e um homem foi divulgado no WhatsApp. Rebeca, que morava em Parnaíba, no Piauí, foi encontrada morta enrolada no fio do aparelho de fazer chapinha. Na mesma semana, uma adolescente de 16 anos se suicidou em Veranópolis, no Rio Grande do Sul, depois que um ex-namorado vazou suas fotos íntimas na internet. “Essa exposição provoca uma dor muito grande e, se os jovens não conseguem falar sobre isso com a família ou amigos porque vão sofrer rejeição, eles correm maior risco de entrar em depressão e cometer suicídio”, diz o psiquiatra Humberto Correa.

O bullying online já levou dezenas de jovens ao suicídio e fóruns virtuais oferecem até passo a passo para se matar. Um dos primeiros casos brasileiros de suicídio assistido foi do gaúcho Vinícius Gageiro Marques, que se matou em 2006. Marques foi orientado a usar o método barbecue, ou suicídio por inalação de monóxido de carbono. Ele consiste em manter duas grelhas queimando num local fechado e pequeno, como um banheiro. Marques pediu ajuda num grupo de discussão em inglês para saber como suportar o calor até desmaiar, e um bombeiro aposentado de Chicago lhe deu instruções. Foi uma amiga virtual do Canadá que percebeu o que estava acontecendo, ligou à polícia local e pediu que avisassem as autoridades gaúchas. Era tarde demais.

Por outro lado, nem tudo é tragédia na relação entre web e jovens suicidas. A americana Trisha Prabhu, de 13 anos, criou um projeto para combater o cyberbullying, que a levou a ser finalista na Feira de Ciências do Google realizada neste ano. Trisha criou o “Rethink” (repense, em inglês), um sistema de alerta que exige que as pessoas pensem duas vezes antes de postar algo prejudicial em redes sociais. A ideia surgiu depois que ela resolveu estudar o cérebro dos adolescentes e descobriu que ele não está completamente desenvolvido, o que faz com que os jovens sejam mais impulsivos. Trisha testou o alerta com voluntários e, segundo ela, 93% desistiram de divulgar imagens depois do alerta.

A internet também pode ser um lugar onde se encontra ajuda. “As pessoas sentem que não recebem atenção ou são julgadas. Aí falam conosco e se sentem aliviadas”, disse à GALILEU Adriana Rizzo, voluntária do Centro de Valorização da Vida (CVV), ONG de combate ao suicídio que recebe um milhão de ligações por ano no Brasil. A ONG também atende por e-mail, chat e Skype. Hoje, a internet corresponde a 20% das assistências, a maioria voltada a jovens.

INFLUÊNCIA – Suicídio por contágio

Um rapaz da aristocracia alemã se apaixona por uma bela jovem casada, não é correspondido e acaba se matando com um tiro na cabeça. Esse é o resumo do romance “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de Johann Wolfgang Goethe, proibido em vários países no século 18 por causa de uma onda de suicídios entre jovens que usaram o mesmo método do protagonista.

Por causa disso, a psicanálise criou o termo “efeito Werther”, ou seja, o suicídio “por contágio” ou “copycat”, quando celebridades ou figuras públicas se suicidam e influenciam multidões. Segundo pesquisas, ao menos 5% dos jovens tiram a própria vida por contágio. A atriz Marilyn Monroe, por exemplo, causou um aumento de 12% nos suicídios nos Estados Unidos após sua morte por overdose de barbitúricos em 1962.

“A forma como um suicídio é tratado na escola ou na mídia pode influenciar outros jovens, principalmente se há uma identificação muito forte com essa pessoa”, diz Karen Scavacini. O comportamento em vida de artistas também pode ser uma influência ruim. Quer dois exemplos? No clipe Everytime, a cantora Britney Spears se suicida numa banheira e renasce. Outra cantora, Demi Lovato, já declarou que se cortava para aliviar a dor.

ESTIGMA DA LOUCURA – Elefante na sala de estar

Suicídio já foi um tabu maior no passado, quando os jornais sequer falavam no tema por medo do efeito contágio. Anos de debates depois, ficou claro que, na verdade, a melhor forma de combatê-lo é exatamente falando sobre o assunto. “Há 20 anos, ninguém falava em câncer, Aids”, diz Karen. “Hoje, por que as pessoas fazem exames preventivos do câncer? Porque essas doenças foram debatidas, houve mobilização e campanhas.”

O problema do tabu é que as pessoas que tentam o suicídio são vistas como loucos, não como pessoas doentes que precisam desesperadamente de ajuda — e isso só serve para isolá-las ainda mais. Mônica Kother Macedo, psicanalista especializada em suicídio e professora da PUCRS, trabalhou diretamente com pessoas que tentaram se matar e uma das frases mais ouvidas foi “se eu dissesse o que passava na minha cabeça iam dizer que estava louco”. “Às vezes nem a pessoa leva seu sofrimento a sério”, diz Mônica.

Em mais de 90% dos casos de suicídio havia uma doença mental envolvida, sendo a depressão a mais comum. “As pessoas são capazes de ir ao médico por causa de rinite alérgica, mas não procuram ajuda para curar uma depressão. Elas veem isso como uma falência pessoal ou familiar, e não como uma doença, que tem cura, ao contrário da falência pessoal”, diz o psiquiatra Segal.

Outro obstáculo que isola ainda mais a pessoa com comportamento suicida são os mitos, como o de que quem fala em se matar não vai fazê-lo. “Pode ser que a pessoa esteja falando para chamar atenção, mas isso não é necessariamente negativo, ela está pedindo ajuda”, diz Carlos Felipe Almeida D’Oliveira, que foi coordenador da Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio.


ETNIAS – Índios em extinção

O Rio Grande do Sul é o estado com a maior taxa de suicídio do Brasil, quase o dobro da média nacional. Mas a cidade que ocupa a primeira posição do ranking de suicídios, com taxa dez vezes acima da média nacional, está no outro extremo do país: é São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. O motivo? Os índios entraram numa espécie de processo de extinção voluntária. É como se a ameaça de morte coletiva de 2012 da tribo Guarani Caiová estivesse se concretizando pouco a pouco em vários lugares do Brasil.

Nos últimos 10 anos, o suicídio entre jovens no Amazonas cresceu 134%, e a situação é parecida em outros estados do Norte, como Acre e Rondônia, que viram dobrar suas taxas de suicídios. E essa tendência não é registrada apenas no Brasil. Nos Estados Unidos, os jovens nativos com idade entre 15 e 24 anos se suicidam 3,3 vezes mais do que o restante dos norte-americanos. Já entre os indígenas Inuit do Canadá o índíce de suicídio é 11 vezes maior do que a média nacional. “Conflitos de terra, questões culturais, abuso de álcool. Precisamos de uma decisão política para considerar que é um problema de saúde pública”, diz o médico Carlos Felipe Almeida D’Oliveira.

DEPOIMENTO – O pior luto

“No dia 13 de março de 2014, dia do Arcano da morte segundo a minha religião, minha filha mais velha, de 18 anos, nos deixou. Naquela quinta-feira, ela almoçou comigo, pediu um suco de manga e conversou normalmente. Deixei-a na casa da mãe com o combinado de nos encontrarmos no final da tarde, perto das 19 horas, que é a hora em que meus outros dois filhos chegam da escola. Minha filha de 16 anos chegou 10 minutos mais cedo e viu a cena. No início ela achou que não era verdade, já que o corpo estava semiapoiado na escada. Eu cheguei na sequência, ela já gritando, meu filho também, chegando da perua.

Eu a peguei, a outra filha cortou a corda, o pequeno tirou os óculos, e tentei reanimá-la. Ela se matou falando no WhatsApp, sem explicação. Ela calculou tudo: foi no dia em que sabia que eu estaria lá porque é o dia da semana que eu sempre passo na casa deles. Ela já tinha feito vestibular para Direito e concurso de técnico judiciário, estava só esperando as respostas. Ela deixou um bilhete, que diz basicamente que ninguém tem culpa, que ela não aguentava mais. Terminou com uma frase destacada: “gente morta não decepciona ninguém”.

No bloco de notas que encontramos havia o desenho de um laço e, como ela já foi escoteira, fez dois laços de tal forma que demorei a soltar do pescoço. O livro de escoteiro estava fora do lugar, e depois descobrimos que havia um bonequinho enforcado no quarto dela. Sinais que só fiquei sabendo depois. Ela não sofria de depressão, ainda não conseguimos entender por que ela resolveu fazer isso.

Eu era o pai herói, fiz o parto dela, fui a primeira e última pessoa que ela viu na vida. A primeira palavra que ela falou foi “papai”. Era meu orgulho. Às vezes ainda ouço a sua voz. O luto de uma morte natural ou acidental uma hora acaba e vira uma saudade. O luto do suicídio não acaba nunca. Foi o que ouvi em depoimentos no grupo de enlutados por suicídio que frequento. É infinitamente pior saber que ela foi porque quis nos deixar. Por mais que queiramos racionalizar, fica a sensação de que não estávamos à altura para satisfazê-la.


DNA – Gene suicida

Já pensou se um simples exame de sangue detectasse tendências suicidas? Desde 1920, a neurociência e a psiquiatria se debruçam sobre os fatores genéticos do tema, e os resultados recentes são interessantes. Existe um denominador comum entre pessoas que tentaram se matar ou pensaram no assunto: uma mutação no SKA2, gene que desempenha um papel importante na forma como lidamos com o estresse. Estudo publicado no Jornal Americano de Psiquiatria mostra que os níveis de SKA2 estavam reduzidos nos genomas de pessoas que cometeram suicídio. O gene, responsável por orientar os receptores de hormônios do estresse nos núcleos das células, inibe pensamentos negativos e controla a impulsividade. Outro risco genético de suicídio está relacionado ao transporte do hormônio da felicidade. Estudos publicados nos últimos 10 anos relacionam depressão e tentativas de suicídio a alterações no transportador da serotonina, o gene 5-HTTLPR. O psiquiatra Jair Segal fez sua tese de doutorado com base nessa hipótese e diz que familiares de pessoas que se mataram têm um alto risco de tentar o suicídio, assim como gêmeos idênticos, com uma possibilidade de 15% no caso de um ter se suicidado. No entanto, essa relação é apenas um fator de vulnerabilidade. “Não existe determinismo genético, só sabemos que isso está ligado ao suicídio quando há algum transtorno mental”, explica.

RANKING – Epidemia silenciosa

O suicídio está na 16ª posição no ranking da Organização Mundial de Saúde de doenças que mais matam no mundo. Embora não tire tantas vidas quanto a isquemia (que ocupa o primeiro lugar na lista), ele mata mais do que muitas patologias  e que guerras. Acompanhe:

HISTÓRICO – Uma longa história

A forma de encarar o suicídio mudou nos últimos 2,5 mil anos. Em Roma, quem queria se matar tinha de pedir autorização ao Senado, enquanto no Japão era um ritual de honra. Descubra o que mudou:

510 a.C. – Lucrécia, de origem nobre, foi estuprada pelo filho do tirano etrusco Tarquínio, o soberbo. Antes de cravar uma adaga no peito, pediu vingança e provocou uma revolta popular.

399 a.C. – Condenado à morte pelo povo de Atenas, Sócrates escolheu se suicidar com uma taça de cicuta a renunciar às suas ideias.

30 a.C. – Cleópatra, última rainha do Egito, morreu após tomar um coquetel de drogas aos 39 anos de idade. O mesmo destino teve seu amante, o líder romano Marco Antônio.

452 – O Cristianismo considerou o suicídio um “trabalho do demônio” no Concílio de Arles, uma espécie de julgamento da Igreja Católica.

Século 12 – Surge no Japão o haraquiri, o ritual de estripação de samurais para demonstrar pureza de caráter. Os pilotos suicidas da Segunda Guerra Mundial seguiram a mesma lógica de manter a honra.

Século 17 – Começa o processo de “secularização do suicídio”. A discussão sobre insanidade englobou o suicídio, que começou a ser visto a partir de uma perspectiva mental.

Século 19 – O sociólogo Émile Durkheim interpreta o suicídio por meio de fatores sociais, como a incapacidade de integração à sociedade, no livro O Suicídio, um Estudo Sociológico.

Século 20 – Em 1918, o papa Bento XV reconhece o suicídio como insanidade. Paralelamente, o ato deixa de ser crime em vários países e é estudado pela Psicologia.

ALERTA: Se você tem pensamentos suicidas ou está deprimido, entre em contato com um voluntário do CVV pelo telefone 141 ou através do site www.cvv.org.br .

⇒ Fonte: Revista Galileu

https://psicologiaacessivel.net/2016/11/22/a-era-da-autodestruicao/


domingo, 11 de dezembro de 2016

"Prezada Depressão,

Você não vai vencer. Às vezes você é ardilosa e parece que está vencendo e às vezes você está mesmo vencendo, mas eu sou conhecida por meus retornos e no final eu vou vencer. Você tenta jogar esses jogos de manipulação, procura isolar a todos e cada um de seus "jogadores", fazendo com que se sintam sozinhos e como se cada um de nós fôssemos os únicos neste jogo malicioso seu. Você não nos engana. Nós nos reunimos todos os dias e existe um poder e uma forte resistência que se forma quando as pessoas se reúnem. Nós não estamos jogando este jogo sozinhos, estamos jogando como uma equipe. E como uma pessoa nesta equipe, que chegou muito perto de desistir deste jogo que chamamos de vida, aqui vai o que eu quero dizer aos meus companheiros de equipe:
Eu estava na ponte, muito perto de ser vencida. A depressão não parava de me dizer: "Você está com tanta dor, isso vai fazer tudo desaparecer. Basta saltar. Você não vai conseguir nada tentando lutar por mais tempo. Você nunca vai ficar melhor. Eu sempre vou voltar. Que vida é essa que você está vivendo? Você é inútil, indigna de ser amada e nunca poderá fazer nada direito. Basta saltar. É essa a hora."
Depressão, você acha que eu não sei reconhecer esses pensamentos? 
Isso é você falando comigo, não sou eu! 
Você é como uma nuvem que desce sobre o meu cérebro e mascara quem eu sou realmente e esconde os meus pensamentos mais autênticos. Meus verdadeiros pensamentos têm lógica. Seus pensamentos são falsos, mesmo que eu acredite neles em alguns momentos. Eu ainda nem sempre acredito que sou digna, que posso ser amada e capaz de cometer erros, porque isso é o que significa ser humano. Mas estou aprendendo. 
Eu não sou você, depressão! 
Eu sou muito mais do que você. Eu tenho muito potencial. Eu sou bonita. Eu faço a diferença aqui na Terra. A viagem não é fácil. É terrivelmente difícil e às vezes parece insuportável, mas acreditem em mim, outras pessoas estão cientes de você, outras pessoas sabem quem você é, e por causa dessa conexão que temos vamos lutar com você juntas e, não, deixar você nos vencer. 
Mais uma coisa, só porque eu luto com você muitas vezes não significa que eu tenha vergonha de você. Eu não estou envergonhada por você ou por me fazer sentir, às vezes, como se eu fosse louca. Você é uma doença. Você é como qualquer doença física, exceto que as pessoas estigmatizam você, porque eles simplesmente não te entendem. Mas para mim e todos os outros que você faz sofrer está certo, OK. 
Nós estamos levando um dia de cada vez.
Atenciosamente,
Michelle, a guerreira


Texto original: Dear Depression, You Will Not Win / By  Michelle Janiak
https://themighty.com/2016/10/a-letter-to-depression-you-will-not-win/

http://homemcontrasimesmo.blogspot.com.br/2016/10/prezada-depressao-voce-nao-vai-vencer.html


domingo, 4 de dezembro de 2016


"A escritora Martha Manning descreveu sua depressão e TEC [tratamento por eletrochoque] [...] Ela teve uma experiência intensa e prolongada com a TEC quando sua depressão estava em seu momento mais grave. Decidiu submeter-se ao tratamento depois de descobrir o endereço de uma loja de armas para se matar.

- Não queria morrer porque me odiava, mas porque me amava o suficiente para querer o fim da dor. Eu me apoiava na porta do banheiro de minha filha a cada dia para ouvi-la cantar - ela tinha onze anos e sempre cantava no chuveiro -, e aquilo era um convite para que eu não sucumbisse por mais um dia. Eu não conseguia me importar, mas de repente percebi que, se comprasse uma arma e a usasse, aquela menina pararia de cantar. Eu a silenciaria. Naquele dia mesmo me internei [...]".

- Andrew Solomon in "O demônio do meio-dia" (p. 116)