Sinopse:
Uma caixa de sapatos é enviada para Clay (Dylan Minnette) por Hannah
(Katheriine Langford), sua amiga e paixão platônica secreta de escola. O
jovem se surpreende ao ver o remetente, pois Hannah acabara de se
suicidar. Dentro da caixa, há várias fitas cassete, onde a jovem lista os 13 motivos que a levaram a interromper sua vida - além de instruções para elas serem passadas entre os demais envolvidos.
Inspirada no livro de Jay Ascher, a série foi produzida por Selena Gomez e lançada em 31/03/2017 pela Netflix.
Desde então, tem despertado diferentes opiniões a respeito AJUDA A PREVENIR O SUICÍDIO OU PODE SER UM GATILHO PARA PESSOAS EM SOFRIMENTO?
Selecionei aqui duas opiniões ...
"A série 13 Reasons Why traz ao debate a questão da prevenção
do suicídio, e, especialmente, o suicídio adolescente, fenômeno que
cresceu no Brasil nos últimos anos. Pacientes têm falado da série e
decidi assisti-la por isso.
A série traz uma visão de que o suicídio acontece por diversas
razões, mas falha por dois principais motivos: mostrar o suicídio da
personagem, de uma forma bem gráfica, o que não é recomendado pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) e pode causar o 'Efeito Werther', que
é quando um suicídio pode inspirar pessoas fragilizadas a fazerem a
mesma coisa e também por colocar a responsabilidade do ato nas pessoas
escolhidas, denotando não só uma relação de causa-efeito como uma
vingança com a morte.
Não podemos culpar ninguém pelo suicídio de outra pessoa. Mesmo
que estas estejam envolvidas nos problemas que levaram ao suicídio, a
reação de cada um a estas ações é diferente para cada pessoa.
Também faltou trazer à tona uma discussão mais aprofundada sobre
saúde mental e também e, além disso, faltou explorar a forma como
pessoas que precisam de apoio possam ser ajudadas ou possam tomar
atitudes diferentes de Hannah.
O mais importante é haver acompanhamento dos pais ou de um
especialista. A série não é recomendável para adolescentes que já
estejam fragilizados, mas tudo depende do tipo de acompanhamento que
terão e como reagirão à série. Poderiam ter explorado melhor o que
acontece após o suicídio, para não romantizar o ato. O que ela poderia
ter feito de diferente? De quem poderia ter buscado ajuda? Isso poderia
ser debatido no final de cada episódio, por exemplo.
Dito isso, vamos aos pontos positivos: pais e filhos estão
assistindo à série e tendo um diálogo sobre isso, que é considerado um
assunto tabu. Serve também para o jovem perceber as consequências de
suas atitudes e perceber que, muitas vezes, uma ação isolada pode
machucar - e muito - outra pessoa.
Outro destaque é o fato de que a série traz a possibilidade de as
escolas discutirem bullying e trabalhar com o assunto do suicídio na
escola e a dor do luto. Para cada suicídio, de cinco a dez pessoas serão
extremamente impactadas. Isto deve ser visto com muita sensibilidade,
pois há um aumento de comportamento suicida nos enlutados.
Se a escola e os pais usarem a série como mote de discussão sobre
bullying, cyberbullying, estupro, uso de álcool, drogas e outras
temáticas trazidas, pode ser muito positivo. A série é enfática ao
mostrar as dificuldades no diálogo entre pais e filhos. Muitas vezes
aquilo que é considerado sofrimento para o adolescente é visto como
banal para o adulto. Quem sabe 13 Reasons Why não sensibilize uma
mudança de comportamento neste sentido.
* Karen Scavacini é psicóloga e coordenadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio
Não
Foram
tantas pessoas - próximas ou desconhecidas - que fizeram contato pelo
face ou por e-mail pedindo que eu escrevesse algo sobre a série da
Netflix "13 reasons why" ("Os 13 porquês", baseado no best-seller
homônimo lançado em 2007 sobre o suicídio de uma adolescente nos Estados
Unidos) que reservei o dia de hoje para uma maratona cansativa
assistindo aos filmes na telinha do computador.
Antes de
compartilhar minha opinião sobre a série, segue um breve resumo do
enredo (se você tem aversão a spoilers, pule os próximos dois
parágrafos).
A série começa com um fato consumado: o suicídio da
jovem Hannah Baker, e o cuidado que ela teve - antes de se matar - de
registrar em 13 diferentes gravações as situações e os personagens que
teriam de alguma forma contribuído para a decisão de se matar.
Bullying, drogas, depressão, assédio, homofobia, violência sexual e
outros problemas recorrentes na escola onde Hanna estuda - e em tantas
outras escolas pelo mundo - tornam a vida da protagonista uma
experiência cada vez mais angustiante. Castigada por sucessivas
decepções e frustrações, sem ter com quem compartilhar sua dor, ela se
percebe subitamente sem saída. É quando resolve se matar.
Sou
contra qualquer censura e não tenho competência para fazer crítica de
cinema. Mas desde 1999 venho estudando o fenômeno do suicídio e um
resumo desse trabalho encontra-se disponível no livro "Viver é a melhor
opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo" (Ed. Correio
Fraterno, 2015).
É assustadora a forma como a série da Netflix
atropela várias recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS)
sobre como se deve abordar o problema do suicídio em obras de ficção. A
ótima ideia de expor o problema do suicídio entre jovens - um tema
relevante que deveria inspirar mais roteiristas - ignorou alguns
cuidados básicos indicados pelos profissionais de saúde especializados
no assunto ("suicidólogos").
Poucas vezes no cinema uma cena de
suicídio foi mostrada com tamanho realismo e brutalidade. É uma aula
mórbida sobre como promover o autoextermínio numa banheira. Violência
desnecessária, tragicamente didática e infortunadamente sugestiva.
Antevendo as críticas, a Netflix abre o capítulo com um texto onde se
lê a seguinte mensagem: "este episódio contém cenas que alguns
espectadores podem considerar perturbadoras e/ou podem não ser adequadas
para públicos mais jovens". Será que funciona como álibi? Não para a
OMS.
Após encerrar a maioria das gravações - em que aponta
nominalmente os "culpados" por seu mal estar existencial - Hannah se
sente melhor por ter "despejado tudo". Diz ela no filme: "senti que
talvez pudesse vencer isso. Eu decidi dar mais uma chance à vida. Desta
vez eu ia pedir ajuda. Por que sei que não podia fazer isso sozinha". É
quando ela procura o profissional que oferece os serviços de
"conselheiro" na escola onde estuda. Cria-se a expectativa de que
finalmente Hannah terá a ajuda e o apoio necessários para sair do buraco
em que se encontra.
A conversa com o conselheiro da escola é
difícil, dolorida, e decepcionante. Hannah hesita em seguir em frente -
principalmente quando o assunto é o estupro sofrido por um colega de
escola - e deixa abruptamente a sala onde o atendimento acontecia,
apesar dos apelos feitos pelo conselheiro para que continuasse a
conversa. Ela fecha a porta, pára do lado de fora e fica na expectativa
de que o profissional saia da sala e a procure. Mas isso não acontece. É
a derradeira frustração antes de cometer suicídio. Não sem antes deixar
gravado o relato sobre seu desapontamento com o profissional da escola
que não agiu exatamente como ela esperava.
A série é inspiradora -
no mau sentido - para que jovens depressivos e angustiados não percebam
outra saída que não a própria morte. Pior: sugere que suicidas em
potencial registrem em gravações ou anotações os "culpados" pelos seus
infortúnios, e punam através do suicídio aqueles que lhe faltaram quando
mais precisavam. O suicídio como pretexto para se vingar de alguém,
aliás, é um comportamento patológico. Mas a personagem principal da
série não parece alguém que possua algum distúrbio. Pelo contrário. O
relato sereno e lúcido de Hannah nas gravações sugere que o suicídio
possa ser a resposta esperada, previsível, diante de tantas desilusões e
sofrimentos. Será? Segundo a Organização Mundial de Saúde, em pelo
menos 90% dos casos, os suicídios estão relacionados a patologias de
ordem mental, diagnosticáveis e tratáveis, principalmente a depressão.
Além do "Efeito Werther" (a constatação de que o suicídio é inspirador
para pessoas fragilizadas psíquica ou emocionalmente) a série da Netflix
promove também a vitimização do suicida, justificando o autoextermínio
de Hannah por tudo o que lhe aconteceu. Como se diante de tantas
experiências dolorosas, não houvesse mesmo outra saída. Como se os
outros - quando não fazem exatamente aquilo que esperamos deles -
pudessem ser responsabilizados pelo suicídio de alguém.
Num mundo
onde o suicídio é caso de saúde pública, e o autoextermínio de jovens
vem aumentando de forma preocupante, espera-se que outras séries possam
ser mais cuidadosas e responsáveis na abordagem do tema.
- André Trigueiro
Minha opinião
Sobre "13 Reasons why" ...
Pretendo retomar o tema com mais calma, mas quis dar minha opinião diante de tantas opiniões em relação à série.
É preciso falar sobre suicídio, sim. E esse tema nunca será fácil. Os questionamentos e os incômodos gerados mostram que a abordagem mexeu muito com as pessoas ... E isso é importante.
Se for pra passar passar a mensagem sem tocar de verdade as pessoas, acho que não conseguimos provocar reflexões. Principalmente pra quem tem contato com os jovens - família, educadores, profissionais de saúde.
É preciso falar sobre suicídio, sim. E esse tema nunca será fácil. Os questionamentos e os incômodos gerados mostram que a abordagem mexeu muito com as pessoas ... E isso é importante.
Se for pra passar passar a mensagem sem tocar de verdade as pessoas, acho que não conseguimos provocar reflexões. Principalmente pra quem tem contato com os jovens - família, educadores, profissionais de saúde.
Serviu de alerta para pensarmos sobre a importância nossos atos e palavras (Bullying e outras violências ) ...
A cena do suicídio foi forte? Certamente. Mas vivemos em uma era digital, onde suicídios são postados - às vezes em tempo real. Grupos na Internet e whatsapp estimulam práticas de automutilação e condutas de risco. Cartas de despedida também são divulgadas ... Basta entrar no Google pra perceber que nossos jovens não estão tão protegidos como gostaríamos.
Ficou uma lacuna sobre prevenção? Que as pessoas que trabalham com isso (assim como eu) possam ocupar esse espaço. Temos diretrizes nacionais de prevenção do suicídio desde 2006, mas pouca coisa foi feita concretamente.
Desde 2013 pesquiso sobre suicídio - o trabalho começou com uma pesquisa - intervenção no Caps no qual eu trabalhava e existiam casos de pessoas que chegavam com tentativa de suicídio ou ideação suicida e aguardavam até mais de cem (!!!) dias para passarem por uma consulta psiquiátrica - como se fosse apenas uma questão de medicamentos.
Tenho um blog sobre o assunto (www.falandosobresuicidio.blogspot.com.br) e tenho feito palestras em escolas, faculdades, hospitais ... Os grupos de apoio para sobreviventes do Vita Alere são outros espaços de cuidado.
Então, acho muito importante que as informações sobre onde procurar ajuda sejam divulgadas, sim. CVV (141) e serviços de Saúde Mental são formas de suporte que devem aparecer sempre quando falamos sobre sofrimento, depressão e desesperança.
Mas acho que todo esse debate deve também estimular uma maior participação da sociedade, da escola e de formadores de opinião na criação de espaços de espaços de escuta, acolhimento e informação.
De qualquer forma, acredito que ganhamos muito pelo fato de estarmos discutindo o tema.
A cena do suicídio foi forte? Certamente. Mas vivemos em uma era digital, onde suicídios são postados - às vezes em tempo real. Grupos na Internet e whatsapp estimulam práticas de automutilação e condutas de risco. Cartas de despedida também são divulgadas ... Basta entrar no Google pra perceber que nossos jovens não estão tão protegidos como gostaríamos.
Ficou uma lacuna sobre prevenção? Que as pessoas que trabalham com isso (assim como eu) possam ocupar esse espaço. Temos diretrizes nacionais de prevenção do suicídio desde 2006, mas pouca coisa foi feita concretamente.
Desde 2013 pesquiso sobre suicídio - o trabalho começou com uma pesquisa - intervenção no Caps no qual eu trabalhava e existiam casos de pessoas que chegavam com tentativa de suicídio ou ideação suicida e aguardavam até mais de cem (!!!) dias para passarem por uma consulta psiquiátrica - como se fosse apenas uma questão de medicamentos.
Tenho um blog sobre o assunto (www.falandosobresuicidio.blogspot.com.br) e tenho feito palestras em escolas, faculdades, hospitais ... Os grupos de apoio para sobreviventes do Vita Alere são outros espaços de cuidado.
Então, acho muito importante que as informações sobre onde procurar ajuda sejam divulgadas, sim. CVV (141) e serviços de Saúde Mental são formas de suporte que devem aparecer sempre quando falamos sobre sofrimento, depressão e desesperança.
Mas acho que todo esse debate deve também estimular uma maior participação da sociedade, da escola e de formadores de opinião na criação de espaços de espaços de escuta, acolhimento e informação.
De qualquer forma, acredito que ganhamos muito pelo fato de estarmos discutindo o tema.
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