"Sou muito agradecido à mãe natureza por ter me dado
minha tristeza. É ela que me poupa de, alegremente, comemorar a perda de um
amigo ou a perda dos dedos da mão. Ou ficar indiferente a isso. Bendita
tristeza que não me permite ser absurdo em relação a tudo que me acontece vindo
de externo a mim.
Sou também grato a ela por me permitir ter um estado de
espírito adequado à perda de ilusões. É muito aliviante poder estar triste
quando constato não possuir, realisticamente, as virtudes que, ilusoriamente,
eu me atribuía. Um fardo inútil que se deixa de carregar. E também, menor
flagelação quando não correspondo às virtudes que não tenho.
Bendita tristeza que não me permite ser absurdo em relação a
mim mesmo. E bendita alegria que me permite comemorar a recuperação de meu
amigo e a posse das virtudes que realisticamente possuo. E bendita inveja que
me faz querer possuir o que meu inimigo possui, e bendita admiração que me faz
comemorar o que meu amigo possui, como se eu mesmo possuísse.
Estou defendendo que a tristeza, apesar de dolorosa, é uma
capacidade humana necessária, boa. E não, como habitualmente se acredita que,
por ser dolorosa, é ruim. Ela é, mesmo, uma das mais infinitas variações da
realidade externa ou à relação de cada um consigo mesmo. Numa palavra, permite
adaptação."
- Trecho do artigo "Em defesa do meu direito de ser
triste" do psiquiatra Oswaldo D. Di Loreto
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