Resumo
A maioria dos casos de tentativa de suicídio é atendida em serviços médicos de emergência, o que deveria ser uma excelente oportunidade para que os profissionais de saúde realizassem alguma intervenção preventiva e terapêutica. No entanto, nem sempre essa oportunidade é aproveitada pela equipe, que geralmente exibe condutas caracterizadas por hostilidade e rejeição. Este trabalho pretende investigar, a partir da percepção do usuário, como se dá o acolhimento ao indivíduo que tenta suicídio e sugerir estratégias que possam favorecer o vínculo com a equipe de saúde. Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, desenvolvido com pacientes ambulatoriais referenciados pelo serviço de urgência de Barbacena, Minas Gerais. Foram entrevistadas 28 mulheres com histórico de tentativa de suicídio. A identificação e a classificação das unidades de análise fizeram emergir três categorias: discriminação, negação do ato, encaminhamento. Cada categoria foi submetida à análise qualitativa. A baixa capacitação das equipes de atendimento e as deficiências estruturais dos serviços induzem os profissionais a se posicionarem de maneira impessoal e com dificuldade de atuação de forma humanizada. A análise dos dados indica a necessidade de melhorar a formação dos profissionais da saúde, em especial os que trabalham nos serviços de pronto atendimento.
Palavras-chave: tentativa de suicídio; pesquisa qualitativa; saúde mental; medicina de emergência.
"Eles falaram assim “não é possível, tanta coisa pra gente fazer e socorrer e fulano tentando morrer... e tem que fazer lavagem, que frescurada, aí é que dá vontade de matar mesmo”. As pessoas acham que é sem-vergonhice. Eles não vêem o que se passa na nossa mente". (P8)
"No hospital eu lembro que o médico chegou perto de mim, bateu no meu ombro, falou que eu não tinha nada, que eu era uma moça bonita, pra viver minha vida, que era pra arrumar um namorado". (P7)
"As enfermeiras falavam 'toma chumbinho, água de bateria, não adianta vir pra cá, tomar remédio, só dá trabalho pra gente'. Eu me sentia um rato quando tentava, quando elas me falavam ficava pior ainda. Por que elas não falaram que eu precisava era de um psiquiatra? Elas falavam 'vai pra casa e dorme bastante, isso não é nada, isso vai passar' ”.
"No hospital eu lembro que o médico chegou perto de mim, bateu no meu ombro, falou que eu não tinha nada, que eu era uma moça bonita, pra viver minha vida, que era pra arrumar um namorado". (P7)
"As enfermeiras falavam 'toma chumbinho, água de bateria, não adianta vir pra cá, tomar remédio, só dá trabalho pra gente'. Eu me sentia um rato quando tentava, quando elas me falavam ficava pior ainda. Por que elas não falaram que eu precisava era de um psiquiatra? Elas falavam 'vai pra casa e dorme bastante, isso não é nada, isso vai passar' ”.
"Lesões autoprovocadas sem intenção suicida também são atendidas em serviços de urgência. A incidência desses agravos tem aumentado nos últimos anos e esse comportamento pode ser um fator de risco para ideação suicida. Independente do grau de intenção suicida, os pacientes que exibem comportamento autoagressivo representam um grande desafio para a equipe de atendimento e podem gerar atitudes ambivalentes na condução do tratamento".
"A reação das pessoas, dos médicos, quando eu tomava remédio e ia pro hospital, sempre que eu chegava, as enfermeiras e o médico falavam ‘tem juízo não? vaso ruim não quebra, entra na frente de um trem [...] remédio não mata não, remédio melhora". (P12)
"Mas aqui não tem nada pra ajudar os deprimidos, aqueles que tentam. Lá no postinho também é assim, parece que a receita já ta pronta. O médico não quer escutar a gente".
"A equipe reage com descaso, deve ser por eles acharem que é errado tentar, deixam a gente jogado, ficam fazendo comentário entre eles, ficam rindo, no dia que fizeram a lavagem eles falaram 'tá doendo? na hora de tomar os remédios não doeu, né?' "
"Mas aqui não tem nada pra ajudar os deprimidos, aqueles que tentam. Lá no postinho também é assim, parece que a receita já ta pronta. O médico não quer escutar a gente".
"A equipe reage com descaso, deve ser por eles acharem que é errado tentar, deixam a gente jogado, ficam fazendo comentário entre eles, ficam rindo, no dia que fizeram a lavagem eles falaram 'tá doendo? na hora de tomar os remédios não doeu, né?' "
"Avaliar um paciente suicida comumente desperta fortes sentimentos no médico examinador, especialmente ansiedade por um erro de conduta e temor das consequências. O profissional pode experimentar também sentimentos de impotência e mobilizar emoções de caráter negativo".
Link do trabalho completo: http://www.scielo.br/pdf/cadsc/v21n2/02.pdf
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