O autor, Padre Licio, perdeu seu pai por suicídio aos 13 anos, porém até os 18 acreditou que havia sido um acidente.
"O assunto é considerado tabu, por isso não se fala dele em lugar algum, nem mesmo entre as famílias que já perderam entes queridos dessa forma. O sentimento de tristeza profunda e as dúvidas que nunca serão respondidas tomam conta de quem fica. Foram deixados para trás, sem direito a despedidas, sem compreender os porquês" (p. 23).
Deve-se falar sobre suicídio: "Não se trata de naturalizar a prática a prática suicida, mas, sim, de tirá-la da caixinha reservada aos temas-tabus, de ter a liberdade de compartilhar mais informações a respeito, pedir ajuda sem ter vergonha de ser julgado, conseguir detectar comportamentos para prevenir o suicídio e compartilhar experiências para que outras pessoas possam se fortalecer com essas histórias" (p. 43).
"Por anos, sofri e tive comportamentos que estavam diretamente ligados ao suicídio do meu pai, mas que, sozinho, eu não conseguia identificar. Capotei o carro cinco vezes! Dirigia em alta velocidade, sem me importar com a minha vida. Eu não saía de casa pensando: 'Vou me matar hoje'. No entanto, fazia coisas sem me preocupar com a minha integridade física. Tudo porque de certa forma eu não havia conseguido lidar sozinho com o suicídio do meu pai" (p.45-46).
"A pessoa vai embora, ela decide ir embora, e um dos primeiros questionamentos é se você era mesmo importante para ela" (p. 47).
"Um sobrevivente de um desmoronamento, por exemplo, precisa reconstruir sua casa novamente, comprar móveis, refazer planos que incluem, muitas vezes, até para onde ir. Assim é também um sobrevivente do suicídio: precisa reconstruir sua vida em cima das dúvidas que o suicida deixou, rever planos que muitas vezes o incluíam, refazer - se por dentro. São tragédias diferentes, mas que têm em comum essa resiliência interna para a reconstrução de um novo horizonte. O passado não se apaga, mas, para um sobrevivente seguir em frente, é preciso haver uma ressignificação desses sentimentos que o suicida deixou como herança" (p. 64).
"A dor de perder alguém vai ser sempre uma dor, [...] mas podemos dar a ela outro significado, outro sabor. Por exemplo, o sabor da saudade, e não mais da tristeza profunda; o sabor da gratidão pelo tempo vivido, e não mais da raiva pelo vazio" (p. 117).
Traz ainda a perspectiva atual de diferentes religiões (catolicismo, protestantismo, budismo, espiritismo, entre outras) acerca do suicídio, contribuindo para desmistificar e diminuir o tabu.
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