domingo, 15 de dezembro de 2019

"Embora a perda de um paciente como resultado do suicídio possa representar um tipo de rito de passagem, cuja superação atesta a força do terapeuta e sua adequação para realizar o trabalho da profissão, para muitos terapeutas esse evento tem impacto a longo prazo e pode influenciar todo o seu trabalho futuro. Alguns terapeutas tendem a tentar aprofundar seus conhecimentos sobre o tema do suicídio, demonstrando mais cuidado em manter registros de seus casos e tornando-se mais atentos e capazes de identificar e tratar pacientes em risco. Outros, em vez disso, podem se inclinar a prescrever mais drogas do que o necessário, insistem na
admissão de pacientes para evitar incorrer em um novo luto traumático. Para reduzir os riscos associados ao luto do terapeuta, o treinamento preparatório específico e o apoio do supervisor, colegas, família ou grupo de autoajuda são de fundamental importância. Desta forma, a busca de respostas não leva ao desespero, mas ao crescimento pessoal e profissional, talvez descobrindo um sentido mais profundo da vida (RATKOWSKA ET AL, 2014, p. 113, TRADUÇÃO NOSSA).

Por ser um tabu, o profissional também pode ter dificuldade para encontrar um espaço para falar do seu próprio luto. De acordo com Guedes (2018, p. 90), “há uma dificuldade de se encontrar espaços onde esses profissionais se sintam autorizados a validar suas experiências, em que possam expressar suas emoções e seus pensamentos ao vivenciarem a perda de um cliente por suicídio”. A autora propõe questionamentos importantes: 

O que sente um psicólogo que perdeu um cliente por suicídio? O que pensa? Que tipo de vínculo havia estabelecido com o cliente no processo terapêutico? Após a morte, o contato com a família se deu em um tom de respeito e receptividade mútua ou o sistema familiar responsabilizou o profissional pelo acontecimento? Este, por sua vez, culpa-se por não ter conseguido evitar a morte? Conseguiu ou teve vontade de participar dos rituais fúnebres? Reconhece o próprio pesar frente à perda e consegue expressá-lo para alguém? Tem medo do julgamento de seus pares? (GUEDES, 2018, p. 90-91).

- Retirado do meu trabalho "ESPECIFICIDADES DO MANEJO DO LUTO POR SUICÍDIO NA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL", disponível em: https://cetcc.com.br/wp-content/uploads/2019/06/Luciana-Fran%C3%A7a-Cescon.pdf.


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