Assim como coloco no blog vídeos, artigos e poesias que falam a respeito do suicídio, acredito que a literatura também pode trazer novas reflexões.
Acabei de ler "Eu estive aqui", livro de Gayle Forman. Em um romance voltado principalmente para jovens, a história é resumida da seguinte forma na contracapa:
"Quando sua melhor amiga, Meg, toma um frasco de veneno sozinha num quarto de motel, Cody fica chocada e arrasada. Ela e Meg compartilhavam tudo... Como podia não ter previsto aquilo, como não percebera nenhum sinal?
A pedido dos pais de Meg, Cody viaja a Tacoma, onde a amiga fazia faculdade, para reunir seus pertences. Lá, acaba descobrindo muitas coisas que Meg não havia lhe contado. Conhece seus colegas de quarto, o tipo de pessoa com quem Cody nunca teria esbarrado em sua cidadezinha no fim do mundo. E conhece Ben McCallister, o guitarrista zombeteiro que se envolveu com Meg e tem os próprios segredos.
Porém, sua maior descoberta ocorre quando recebe dos pais de Meg o notebook da melhor amiga. Vasculhando o computador, Cody dá de cara com um arquivo criptografado, impossível de abrir. Até que um colega nerd consegue desbloqueá-lo... e de repente tudo o que ela pensou que sabia sobre a morte de Meg é posto em dúvida.
Eu estive aqui é Gayle Forman em sua melhor forma, uma história tensa, comovente e redentora que mostra que é possível seguir em frente mesmo diante de uma perda indescritível."
A questão que mais se destaca no livro, para mim, é a busca por respostas e por culpados, que costuma ser comum para as pessoas que ficam - os sobreviventes. Como aparece em alguns pensamentos da personagem Cody:
"Mas minha vontade é gritar para as pessoas pararem de me perguntar isso. Porque não sei o que Meg me contou e eu ignorei, e o que ela não me contou. Se tem uma coisa que sei é que ela não me contou que estava sofrendo tanto que a única maneira de acabar com a dor era encomendar uma dose de veneno industrial e mandá-lo goela abaixo" (p. 29)
"Queria não ter feito isso. Porque, quando o olho pela última vez, ele exibe um esgar que é uma mistura de raiva e culpa. Conheço muito bem essa expressão: eu a vejo todos os dias no espelho". (p. 33)
A própria autora coloca, no final do livro, uma nota que explica o enredo. Ela diz que há alguns anos, entrevistou familiares e amigos de jovens mulheres que haviam se matado, para um artigo. Entre as histórias, destacou-se para ela a de Suzy Gonzales, uma jovem de 19 anos, à qual as pessoas próximas se referiam como alguém inteligente, criativa, carismática e inconformista - foi essa a inspiração para a personagem Meg.
"Olhando de fora, ela não me parecia - e nem às pessoas que entrevistei - alguém que pudesse cometer suicídio. Exceto por um detalhe: [...] Suzy sofria de depressão. Quando começou a ter pensamentos suicidas, foi ao centro de saúde da universidade em que estudava em busca de ajuda, mas acabou depositando sua confiança em um grupo de 'apoio' a suicidas, no qual não só aplaudiram sua iniciativa de se matar, como lhe deram conselhos sobre como fazê-lo"
[...] Cody é uma jovem arrasada pela morte da melhor amiga. Em meio à angústia e à dor da perda, só lhe restam a tristeza, a raiva, o arrependimento e perguntas que nunca serão respondidas. Cody e Meg são fictícias, mas isso não me impede de fazer o seguinte questionamento: se Meg soubesse o que seu suicídio causaria à melhor amiga, à família, ela teria se matado assim mesmo? Também me pergunto se, mergulhada nas profundezas de sua depressão, Meg seria capaz de entender a extensão do impacto que causaria. [...]
Segundo a Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio, a esmagadora maioria das pessoas que comete suicídio (90% ou mais) sofre de algum distúrbio mental no período que antecede a morte. [...] Felizmente, existem tratamentos: o mais comum é uma combinação de terapia e medicamentos reguladores de humor. Recusar tratamento para depressão ou transtorno de humor é como receber um diagnóstico de pneumonia e se recusar a tomar antibióticos. [...]
Nem todas as pessoas que sofrem de depressão cometerão suicídio. A grande maioria, não. E nem todo mundo que se pergunta em algum momento como seria morrer é necessariamente suicida. [...] Acredito que todos nós temos dias ou semanas tão ruins que às vezes fantasiamos sobre simplesmente não existir. Isso é diferente de ter a mente controlada por pensamentos suicidas, vê-los se transformarem em planos e, por fim, em tentativas concretas. Segundo a OMS, 90% dos suicídios podem ser evitados, e boa parte das pessoas dá indícios de que pensam em cometê-lo.
[...] A vida pode ser difícil, bonita e caótica, mas com um pouco de sorte, a sua será longa. Se for, você verá que é também imprevisível e que há momentos de escuridão. Mas eles passam, às vezes graças a muito apoio externo, e o túnel se alarga, permitindo que os raios de sol entrem. Se você estiver na escuridão, pode parecer que vai continuar nela para sempre. Tateando às cegas. Sozinho. Mas não vai - e não está sozinho. Há muitas pessoas dispostas a ajudá-lo a voltar à luz. [...]
Se você estiver sofrendo e precisando de ajuda, o primeiro passo é contar para alguém. Procure seus pais, irmãos mais velhos, tios, tias, ou qualquer adulto de confiança. [...] Esse é o primeiro passo, e não o último. Abrir-se com alguém não é suficiente. Depois que você contar seu problema a essa pessoa, ela poderá ajudá-lo a encontrar a ajuda e o apoio de que precisa.
Ou entre em contato com o Centro de Valorização da Vida - CVV."
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