domingo, 3 de janeiro de 2016

Proposta de atendimento em grupo

TENTATIVAS DE SUICÍDIO: CONSTRUINDO DISPOSITIVOS DE PREVENÇÃO
UM DESAFIO PARA O SUS

Isabel de Araújo Quental

"A desinformação dos profissionais de saúde com relação à questão do suicídio, particularmente do papel das tentativas como um fenômeno que comunica e reflete um pedido de ajuda para um estado de desestabilização psíquica, tem perpetuado uma abordagem inadequada da questão.

Ainda hoje, tentativas de suicídio tendem a ser vistas como atitudes histéricas, com ameaças que nunca vão se concretizar. Essa percepção desencadeia atitudes hostis e desumanizadas por parte da equipe de saúde, particularmente quando o risco de vida é mínimo ou nulo. Essas atitudes acentuam a desesperança dos pacientes e representam oportunidades perdidas para instituir o adequado tratamento do transtorno mental que pode levar a novas tentativas com métodos mais letais com risco de suicídio. 

A tentativa de suicídio é o fator de risco mais previsível para o suicídio. Os pacientes que fazem tentativas de suicídio estão num processo de crise e necessitam de uma atenção imediata para tentar interromper este processo. "

"Procuramos indagar aos sobreviventes das tentativas de suicídio sobre o que eles queriam que morresse e como eles gostariam de viver. Muitas vezes nos surpreendemos com os relatos e com o diálogo que acontece após esta pergunta. Não adotamos a concepção de indivíduo suicida. Esta ideia, além de não ser de nenhuma utilidade, é extremamente perniciosa na construção de um rótulo, sem possibilidades de mudança.

Nesta metodologia se procura relacionar a história individual e a história coletiva dos clientes. Ao ouvirmos uns aos outros, terapeutas e clientes, passamos a ressoar no campo do afeto, a fazer parte de uma rede em construção. Rede na qual nos engajamos, criando alternativas a partir da conversação, utilizando habilidades e estilos que possibilitem a abertura de novos caminhos e novos contextos para conversações que favoreçam os diálogos. Diálogos que promovam uma atmosfera terapêutica que focalize os recursos e a capacidade dos clientes. 

O grupo terapêutico é entendido como o espaço coletivo onde estão presentes diferentes modos de existir, de sentir e de viver. Ao combinar formas individuais com formas coletivas do existir humano, a prática terapêutica no seu processo de acolhimento reconhece os discursos sociais que atravessam o setting terapêutico. O espaço coletivo de acolhimento possibilita a vivência desestabilizadora que configura a crise em que estão mergulhados aqueles que nos procuram. As suas diferenças socioculturais, de renda, escolaridade e identidade nos instiga à produção de novas formas de estar no mundo."


"Após o período de atendimento no grupo de acolhimento e tendo por base a avaliação da conduta terapêutica, após aproximadamente dez encontros, é iniciado o processo de saída do grupo de acolhimento. A saída poderá ser para encaminhamento dos casos que necessitem continuidade de tratamento ou a alta. Na ficha de atendimento anotamos o resumo de alta indicando: a duração do atendimento de grupo, o número de encontros, se houve atendimento individual com psicólogo, com psiquiatra, se participou de oficinas terapêuticas e se houve atendimento familiar.

Considerando tratar-se de pessoas em risco de cometer suicídio, os encaminhamentos realizados às emergências são monitorados de forma a garantir que o atendimento seja realizado. Caso contrário, efetuamos novo contato com o paciente, cujo cadastro foi previamente realizado na oportunidade do primeiro atendimento telefônico ou da primeira entrevista, investigando e corrigindo as causas da falha do encaminhamento.

O monitoramento deverá ser realizado com calendário mínimo de telefonemas ou consultas até o período de um ano. Os pacientes que participaram de todo o projeto terapêutico e foram encaminhados com o objetivo de dar continuidade ao tratamento ou aqueles que tiveram alta poderão ser contatados para um encontro de acompanhamento seis meses após o encerramento dos encontros previamente combinados, como parte do processo terapêutico."




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