Papo de Domingo: ‘A dor não pode ser desqualificada’
Diário do Litoral - 10/09/2016
A psicóloga Luciana Cescon fala sobre a importância do Setembro Amarelo, campanha que discute a prevenção do suicídio no Brasil
A data 10 de setembro é considerada o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio e entidades de saúde mental do País estendem essa campanha por todo o mês, intitulada de Setembro Amarelo. Especialista no assunto, a psicóloga Luciana Cescon atua em uma unidade do Núcleo de Atenção Psicossocial (Naps) de Santos, é colaboradora do Instituto Vita Alere, em São Paulo, e possui mestrado em Ciências da Saúde pela Unifesp.
Em entrevista ao Diário do Litoral, a profissional falou sobre as dificuldades enfrentadas ao lidar com a questão na sociedade atual.
Diário do Litoral – Qual é o objetivo do Setembro Amarelo?
Luciana Cescon – A campanha é importante para a conscientização de que o suicídio existe e que falar sobre isso é uma forma de prevenção. Temos que ampliar o debate em sociedade e investir em uma preparação específica para os nossos profissionais de saúde sobre o assunto. O suicídio é um caminho definitivo. Não queremos desqualificar a dor da pessoa, é preciso entendê-la para ajudar. E muitas vezes são casos de problemas concretos no cotidiano e que não serão resolvidos somente com medicação. É preciso falar sobre o que incomoda.
Diário – Quais são os sinais de quem considera cometer suicídio?
Luciana – Muitas vezes não é explícito. A pessoa pode falar de como se sente angustiada e triste. Mudanças de comportamento também são alertas, como perder o interesse por atividades que gosta e se desfazer de objetos ou planos de vida. Precisamos voltar a nos olhar, perceber quando um amigo precisa conversar.
Diário - Como lidar com alguém que se encontra nessa situação?
Luciana - O melhor é oferecer a escuta e dar suporte procurando uma ajuda profissional. É preciso mostrar que a pessoa não está sozinha. Mesmo estudando o tema há algum tempo, também sinto essa dificuldade. Não é fácil receber um pedido de ajuda, pois parece um peso nas costas de quem escuta. A pessoa de fato não quer morrer. Ela só não quer mais continuar vivendo com aquela dor, que está insuportável no momento. Quando a pessoa decide falar sobre o assunto, devemos ouvir, pois já é um primeiro passo para a reflexão. É uma das formas mais eficazes de prevenção.
Diário – Quais são as causas mais frequentes?
Luciana - Quando alguém diz que tentou tirar sua própria vida, precisamos saber quais são as situações que essa pessoa está passando. Para a maioria dos homens, o mais latente é a questão financeira, a pressão para sustentar a família. E, no caso das mulheres, uma causa frequente é a perda de um ente querido. Nessas questões, somente a medicação não ajuda. É preciso de um espaço seguro e um acompanhamento psicológico para lidar com essa dor.
Diário – Um cotidiano atribulado afeta diretamente esse problema?
Luciana – Sim. Em um mundo onde as agendas estão sempre cheias de compromissos, a família e os amigos convivem entre si, porém, dão mais atenção para celulares e notificações. Falta olho no olho. Existe ainda uma pressão nas redes sociais para que compartilhemos experiências positivas, onde a angústia não rende ‘curtidas’. E vivemos em uma sociedade onde o luto tem um prazo. Você perde um ente querido e tem que estar pronto emocionalmente logo em seguida para ‘tocar a vida’. Isso é desumano.
Diário – E como você avalia o trabalho de entidades como o Centro de Valorização da Vida (CVV)?
Luciana – É um trabalho voluntário de grande valor, pois eles se dispõem a ouvir o desabafo, apesar de não aconselhar. É um espaço sem julgamento, de escuta. Tornei-me voluntária recentemente para conhecer essa vivência. Passei por um treinamento e comecei a interagir via chat. Quando a pessoa que sofre desabafa, é aberto um espaço para ela racionalizar e analisar sua própria situação.
Diário – O que pode ser dito nestes casos?
Luciana - A vida da pessoa está na mão dela. Mas somos responsáveis por nossos envolvimentos pessoais. Acredito que precisávamos abrir cada vez mais canais para mostrar que o indivíduo que tem esses pensamentos ruins não está sozinho. O foco é sempre estar alerta para a qualidade da saúde mental e procurar ajuda profissional. Na Baixada, os serviços especializados neste atendimento são os Núcleos de Apoio Psicossocial (Naps). E uma palavra acolhedora pode cessar um ato definitivo como esse. Os familiares e amigos de quem já tentou o suicídio também precisam ser orientados. É comum que surjam dúvidas, sentimento de culpa e até vergonha. Mas temos que entender que as pessoas não querem morrer, querem parar o sofrimento. A morte não é a única alternativa.
__ Olá amiga +luciana França Cescon , sou paciente NAPS III , participante blog (capsquebranobarreiras) , estou com você nessa luta
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