Há 23 anos, Robert Paris é voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) .
Como atual presidente da entidade, ele defende que a saída para
diminuir as altas taxas de suicídio do país passa principalmente por
abordar o tema, sem preconceitos ou tabus.
Também é fundamental
estabelecer um canal aberto de comunicação com os jovens, que respondem
por 80% dos contatos com o CVV via chat. Ao todo, a organização recebe 1
milhão de contatos por ano, 90% pelo telefone. Confira a entrevista:
Vocês ainda percebem muito preconceito ou tabu em relação ao suicídio?
Felizmente
se fala um pouco mais sobre isso, mas o assunto ainda é tabu. Isso é a
maior barreira para que as pessoas busquem ajuda. O suicídio está
relacionado com algum distúrbio mental ou transtorno afetivo. 90% das
pessoas que se matam têm algum transtorno. O estigma, o tabu, não
conseguir ver com normalidade a doença mental é a principal barreira.
O contato com o CVV continua acima da média devido ao 13 Reasons Why, seriado da Netflix, e o Desafio da Baleia Azul?
Esse Baleia Azul é um material criminoso, que é mais caso de polícia do que de saúde pública. Mas de uma maneira ou de outra, por causa da Baleia Azul e do seriado se fala mais do assunto. Então vamos aproveitar para falar de maneira produtiva e fazer com que as pessoas peçam mais ajuda e sejam mais ajudadas. Foi um pico, sim. Muitas pessoas que nos ligaram na ocasião continuam em contato conosco, o que é muito bom, principalmente os jovens. Eles precisam ter uma abertura, um canal de comunicação desentupido. O pico passou, nós estamos ainda atendendo muito e continuando no nosso ritmo. Mais importante é discutir o que precisamos fazer para nos aproximarmos dessa juventude, para que possam falar do que os preocupa, o que os desespera, para ter o acolhimento que precisam. Essa é a nossa luta.
Esse Baleia Azul é um material criminoso, que é mais caso de polícia do que de saúde pública. Mas de uma maneira ou de outra, por causa da Baleia Azul e do seriado se fala mais do assunto. Então vamos aproveitar para falar de maneira produtiva e fazer com que as pessoas peçam mais ajuda e sejam mais ajudadas. Foi um pico, sim. Muitas pessoas que nos ligaram na ocasião continuam em contato conosco, o que é muito bom, principalmente os jovens. Eles precisam ter uma abertura, um canal de comunicação desentupido. O pico passou, nós estamos ainda atendendo muito e continuando no nosso ritmo. Mais importante é discutir o que precisamos fazer para nos aproximarmos dessa juventude, para que possam falar do que os preocupa, o que os desespera, para ter o acolhimento que precisam. Essa é a nossa luta.
E como abrir esse canal com os jovens?
Em primeiro lugar é a questão do estigma mesmo. Quando você tem uma dor no joelho, você vai ao ortopedista e tudo bem. Quando vocês está se sentindo mal e aquilo te oprime mentalmente, você sabe que algo está errado e você não vê a mesma normalidade em procurar um psicólogo ou psiquiatra. Esse é o primeiro ponto. Coisas que acontecem na nossa vida podem nos levar a nos sentirmos mal por dentro. Falar sobre isso com a juventude, dizer que desabafar e comunicar é bom é fundamental. O CVV por exemplo abriu um canal para os jovens que é o chat. Há oito anos fizemos essa experiência e os jovens abraçaram. Eles respondem por 80% dos contatos por esse meio e a gente percebe que eles têm muito a falar.
Em primeiro lugar é a questão do estigma mesmo. Quando você tem uma dor no joelho, você vai ao ortopedista e tudo bem. Quando vocês está se sentindo mal e aquilo te oprime mentalmente, você sabe que algo está errado e você não vê a mesma normalidade em procurar um psicólogo ou psiquiatra. Esse é o primeiro ponto. Coisas que acontecem na nossa vida podem nos levar a nos sentirmos mal por dentro. Falar sobre isso com a juventude, dizer que desabafar e comunicar é bom é fundamental. O CVV por exemplo abriu um canal para os jovens que é o chat. Há oito anos fizemos essa experiência e os jovens abraçaram. Eles respondem por 80% dos contatos por esse meio e a gente percebe que eles têm muito a falar.
Como os pais podem ajudar?
Normalmente eles demonstram sinais. Mudanças de comportamento, tipo tinham um hobby e não querem mais fazer, o desempenho escolar de alguma maneira pode estar sendo prejudicado. Pode ser uma fase, mas é um sinal que não estão se dedicando as coisas. Irritabilidade e isolamento também exigem uma visão cuidadosa. Perguntar sempre "como você está se sentindo", não "por que está fazendo isso?". Evitar se aproximar do jovem de maneira crítica, mas acolhedora. Muitos jovens se automutilam, usam roupas compridas mesmo em dias quentes, tudo são sinais. Com as redes sociais também tem que tomar cuidado. Mas não costumo demonizar, porque tem muito auxílio que a gente pode dar nas redes também. A Câmara dos Deputados analisa pelo menos nove projetos de lei de prevenção ao suicídio incentivado por meio da internet.
Qual o papel da internet neste contexto?
A internet pode vir tanto para bem como para mal. A gente tem conversado muito com todos esses agentes, Twitter e Facebook, porque a gente tem que saber como tratar isso. Tem coisas que temos que denunciar e diminuir essa exposição. Mas suicídio é uma realidade e precisamos falar sobre isso. Quando as pessoas se sentem compreendidas, isso é quase que mágico. Elas percebem que não acontece só com elas. 17% da população brasileira vai pensar pelo menos uma vez em por fim a própria vida. Mas se você se sente um ET em ter um pensamento suicida já dificulta pedir ajuda e a gente em ajudar.
O que esperar do futuro, com a taxa de suicídio em ascensão?
É uma oportunidade, porque tem muita atenção em cima disso para que se tome medidas efetivas. O Ministério da Saúde está retomando o Plano Nacional de Prevenção ao Suicídio. As escolas precisam trabalhar a proximidade com os jovens, desenvolvimento de programas para habilidades socioemocionais, capacitação de professores. E precisamos de uma rede de saúde mental melhor estruturada, com capacitação do pessoal que atende, mesmo na atenção primária. Porque muitas vezes já se detecta os sinais na unidade básica de saúde mas isso não é cuidado ou relatado. Olha quanto sucesso tivemos com a Aids e outras campanhas, obviamente importantíssimas, mas que matam muito menos que o suicídio. São 12 mil casos por ano no país, nenhuma outra doença tem esses números.
Normalmente eles demonstram sinais. Mudanças de comportamento, tipo tinham um hobby e não querem mais fazer, o desempenho escolar de alguma maneira pode estar sendo prejudicado. Pode ser uma fase, mas é um sinal que não estão se dedicando as coisas. Irritabilidade e isolamento também exigem uma visão cuidadosa. Perguntar sempre "como você está se sentindo", não "por que está fazendo isso?". Evitar se aproximar do jovem de maneira crítica, mas acolhedora. Muitos jovens se automutilam, usam roupas compridas mesmo em dias quentes, tudo são sinais. Com as redes sociais também tem que tomar cuidado. Mas não costumo demonizar, porque tem muito auxílio que a gente pode dar nas redes também. A Câmara dos Deputados analisa pelo menos nove projetos de lei de prevenção ao suicídio incentivado por meio da internet.
Qual o papel da internet neste contexto?
A internet pode vir tanto para bem como para mal. A gente tem conversado muito com todos esses agentes, Twitter e Facebook, porque a gente tem que saber como tratar isso. Tem coisas que temos que denunciar e diminuir essa exposição. Mas suicídio é uma realidade e precisamos falar sobre isso. Quando as pessoas se sentem compreendidas, isso é quase que mágico. Elas percebem que não acontece só com elas. 17% da população brasileira vai pensar pelo menos uma vez em por fim a própria vida. Mas se você se sente um ET em ter um pensamento suicida já dificulta pedir ajuda e a gente em ajudar.
O que esperar do futuro, com a taxa de suicídio em ascensão?
É uma oportunidade, porque tem muita atenção em cima disso para que se tome medidas efetivas. O Ministério da Saúde está retomando o Plano Nacional de Prevenção ao Suicídio. As escolas precisam trabalhar a proximidade com os jovens, desenvolvimento de programas para habilidades socioemocionais, capacitação de professores. E precisamos de uma rede de saúde mental melhor estruturada, com capacitação do pessoal que atende, mesmo na atenção primária. Porque muitas vezes já se detecta os sinais na unidade básica de saúde mas isso não é cuidado ou relatado. Olha quanto sucesso tivemos com a Aids e outras campanhas, obviamente importantíssimas, mas que matam muito menos que o suicídio. São 12 mil casos por ano no país, nenhuma outra doença tem esses números.
Nenhum comentário:
Postar um comentário