domingo, 29 de outubro de 2017



"Em linhas gerais, diante de um sujeito que se decide pela morte, o que pode um psicólogo? Primeiramente, acolher a dor, o sofrimento, a queixa do paciente, por meio de uma escuta atenta e interessada, sem julgamentos ou expectativas.  Para  enfrentar  os  desafios  na  clínica  com  esses  pacientes,  é  preciso  ter  ânimo.   

Â-N-I-M-O  é  uma  sigla  que  traz  em  si  as  letras  que  direcionam  nosso  trabalho: 

(A)  de  atenção:  porque  é  fundamental  estar  atento  ao percurso desse sujeito, tanto na vida quanto no tratamento. Por exemplo, se  ele  falta  à  sessão,  devemos  contatá-lo  para  saber  o  motivo  de  sua  falta,  remarcar a sessão; quando algo importante em sua vida está por acontecer ou diante de uma decisão importante que tenha de tomar, telefonamos para saber os desdobramentos. O psicólogo deve estar atento, ser ativo, atuante.

(N)  de  neutralidade:  diante  do  que  se  escuta,  e  isto  quer  dizer  ouvi-lo  sem  críticas ou julgamentos, não significa passividade.

(I) de interesse: que é uma das principais características do nosso trabalho. Estar interessado no que o paciente tem a dizer, na sua singularidade, na sua história. [...] É simples: quando atendemos um paciente um paciente, principalmente se ele está deprimido, escutá-lo com interesse faz a diferença. E, por fim, precisamos ter

(MO) de motivação, aquela dose de entusiasmo necessária para sustentar o trabalho com essa clínica. Uma clínica em que precisamos ser pacientes para suportar sem pressa ou expectativas, o tempo do paciente. [...]

Outro desafio é o despreparo emocional tanto da família quanto da equipe, responsável por permitir interpretações simplistas do fenômeno e por provocar  reações  de  indignação,  de  punição,  ou  mesmo  de  compaixão  quanto  ao  paciente. Então, se havia proposto o ânimo para enfrentar os desafios com o paciente, com a equipe e a família proponho PIC, (P) de parceria, (I) de informação e (C) de coragem. Portanto, ÂNIMO e PIC são ingredientes que não podem faltar no trabalho conjunto para fazer  frente, desafiar, prevenir o suicídio”.

- Soraya Carvalho Rigo em “Suicídio e os desafios para a Psicologia” (CFP, 2013, p. 40-41)



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