O Ministério da Saúde lançou, na última segunda-feira (31), a cartilha ‘Óbitos por Suicídio entre Adolescentes e Jovens Negros – 2012 a 2016’. A publicação tem como objetivo elencar os grupos de maior risco ao suicídio entre a juventude no Brasil, explorando tanto a análise entre brancos e negros, quanto os grupos de maior vulnerabilidade entre os negros, para que gestores e profissionais de saúde desenvolvam ações e estratégias para a prevenção do suicídio e atendimento integral desta população. A análise foi realizada usando o Sistema de Informação sobre Mortalidade do Departamento de Informática do SUS do Ministério da Saúde (DATASUS/SIM/MS).
“É importante lembrar que o suicídio pode afetar qualquer pessoa, mas existem contextos que aumentam essa vulnerabilidade. Os jovens negros enfrentam condições de vida e de saúde que expressam maior risco e consequentemente demonstram cenários de maior vulnerabilidade e de iniquidades em saúde”, destaca a diretora substituta do Departamento de Apoio à Gestão Participativa e ao Controle Social da Secretaria de Gestão Estratégica Participativa do MS (DAGEP/SGEP/MS), Marina Marinho.
A publicação elaborada pelo Núcleo de Evidências para Políticas de Equidade em Saúde do (NEPES/DAGEP/SGEP) contou com a parceria do GT Suicídio – composto por áreas técnicas do MS, a Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Ministério dos Direitos Humanos (SEPPIR/MDH), o Observatório de Saúde de Populações em Vulnerabilidade da Universidade de Brasília (ObVul/UnB) e de especialistas.
"A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra reconhece o racismo, as desigualdades étnico-raciais e o racismo institucional como determinantes sociais das condições de saúde. Um dos grupos vulneráveis mais afetados pelo suicídio são os jovens e sobretudo os jovens negros, devido principalmente ao preconceito e à discriminação racial e ao racismo institucional. Muitas vezes as queixas raciais podem ser subestimadas ou individualizadas, tratadas como algo pontual, de pouca importânciae ainda culpabilizando aquele que sofre o preconceito. O estigma em torno do suicídio, aliados a elementos estruturantes como o racismo estão relacionados e contribuem para o silenciamento em torno da questão, além das dificuldades de se falar abertamente sobre o assunto"(p. 16).
"As principais causas associadas ao suicídio em negros são: a) o não lugar, b) ausência de sentimento de pertença, c) sentimento de inferioridade, d) rejeição, e) negligência, f) maus tratos, g) abuso, h) violência, i) inadequação, j) inadaptação, k) sentimento de incapacidade, l) solidão, m) isolamento social.
Outros fatores relacionados: a) não aceitação da identidade racial, sexual e afetiva, de gênero e de classe social" (p. 17).
Outros fatores relacionados: a) não aceitação da identidade racial, sexual e afetiva, de gênero e de classe social" (p. 17).
"Por que as maiores taxas de suicídio estão na população negra?
O racismo causa impactos danosos que afetam significativamente os níveis psicológicos e psicossociais de qualquer pessoa. A prática do racismo e da discriminação racial é uma violação de direitos, condenável em todos os países. No Brasil, é um crime inafiançável, previsto em lei.
Os impactos do racismo geram efeitos que incidem diretamente no comportamento das pessoas negras que normalmente estão associados à humilhação racial e à negação de si, que podem levar a diversas consequências inclusive às práticas de suicídio.
Os determinantes sociais e principalmente aqueles relacionados ao acesso e permanência na educação influenciam adolescentes e jovens negros sobre suas perspectivas em relação à vida. Destacam-se as ações abaixo como fatores de proteção contra o óbito por suicídio:
• Acompanhamento da frequência escolar;
• Condições para permanência na escola/universidade;
• Cotas raciais nas universidades" (p. 54).
"Em 2012, foram registrados no Sistema de Informação sobre Mortalidade 3.017 mortes por suicídio em adolescentes e jovens. Esse número manteve-se estável no decorrer dos cinco anos analisados (2013: 2.991; 2014: 3.040; 2015: 3.068), chegando a 3.097 óbitos em 2016. [...] De 2012 a 2016, a proporção de suicídios entre negros aumentou em comparação às demais raças/cores, subindo de 53,3% em 2012 para 55,4% em 2016. O percentual de suicídios aumentou entre os pardos (2012: 46,2% e 2016: 49,3%) e indígenas (2012: 2,1% e 2016: 2,9%)" (p. 23).
"Em 2012, a taxa de mortalidade por suicídio foi de 4,88 óbitos por 100 mil entre adolescentes e jovens negros e aumentou 12%, alcançando 5,88 óbitos por 100 mil entre adolescentes e jovens negros em 2016. Por outro lado, a taxa de mortalidade por suicídio entre os brancos permaneceu estável, isto é, a variação não foi significativa estatisticamente. Em 2012, a taxa de mortalidade por suicídio entre adolescentes e jovens brancos foi de 3,65 óbitos por100 mil, e em 2016 essa taxa foi de 3,76 óbitos por 100 mil. Analisando esses dois grupos em 2016, nota-se que a cada 10 suicídios em adolescentes e jovens, aproximadamente seis ocorreram em negros e quatro em brancos" (p. 26).
Suporte social e seu papel na prevenção do suicídio
"A raça/cor atua como um determinante de como as pessoas vivenciam as tensões da vida e estas estabelecem condições de visibilidade que definem como as pessoas são vistas na comunidade, aumentando inclusive o risco de suicídio. Em diversas situações, o que é visível é a raça/cordas pessoas enquanto sua contribuição na sociedade torna-se invisível. Os estereótipos raciais são psicologicamente danosos, entretanto, o desenvolvimento do potencial dos adolescentes e jovens negros, especificamente quanto à liderança, o envolvimento em organizações comunitárias, e em habilidades de comunicação permite confrontar de um modo efetivo o racismo na sociedade.
O sentimento de pertencimento a uma comunidade funciona como um amortecedor essencial contra os efeitos negativos da solidão e da baixa aceitação. O suporte social, entendido como relações próximas e de afeto entre as pessoas, atua como um fator de proteção e promoção à saúde. O suporte social realizado pessoalmente pelos pares dos adolescentes e jovens reduz a chance de sofrer bullying ou outras formas de agressão" (p. 56).
A escola e ter amigos próximos têm um papel fundamental na prevenção ao suicídio entre os adolescentes. O ambiente escolar contribui positivamente para desenvolver a autonomia dos adolescentes e a sensação de pertencimento e aceitação.
Além disso, a conexão com a comunidade escolar reduz o risco de tentativas de suicídio entre adolescentes negros, especialmente entre aqueles que vivem em bairros mais pobres, atuando como um forte fator de proteção.
O desemprego e a pouca capacitação profissional que atingem os jovens negros são resultado de séculos de discriminação, privação e negação de oportunidades. O desemprego juntamente com a discriminação, a segregação e a falta de acesso aos cuidados de saúde são determinantes sociais relacionados ao suicídio entre os jovens negros. É essencial que a comunidade forneça um suporte social para os adolescentes e jovens negros, pois o envolvimento da comunidade desempenha um papel na prevenção do suicídio. Ser reconhecido e apreciado como indivíduos únicos e sentirem-se pertencentes aos seus grupos faz com que a comunidade proteja os mais vulneráveis, construindo conexões sociais e desenvolvendo as habilidades de resiliência nas situações difíceis da vida. A comunidade precisa identificar parceiros e recursos para formação de uma rede de prevenção ao suicídio; é salutar envolver toda a comunidade, pois uma vida perdida precocemente impacta a todos. Os profissionais de saúde devem se mobilizar para identificar os indivíduos mais vulneráveis e trabalhar de modo intersetorial com toda a comunidade" (p. 57).
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