domingo, 14 de abril de 2019

Artigo: Arriscar morrer para sobreviver Olhar sobre o suicídio adolescente

 ESTRATÉGIA DE DESESPERO VS ESTRATÉGIA DE SOBREVIVÊNCIA

"Os comportamentos de risco surgem como meio de afirmação, por perturbação ou para ir mais além. Procuram-se sensações cada vez mais fortes, vertiginosas, onde a emocionalidade se joga nos limites da vida, despertando reações profundas, contraditórias, tanto de pavor como de prazer quase absoluto, na ausência, quase total, de referenciais consigo mesmo e com a vida (Rodrigues, 1997). 

Luta-se por uma identidade, arrisca-se, às vezes com enorme perigo. Sendo o risco juvenil glorificado, as condutas auto-destrutivas revelam tentativas de dominar a morte, com o sonho íntimo da(na) imortalidade. Assim, o gesto suicida é, em simultâneo, um grito desesperado e um anelo de sobreviver (e.g., Blackburn, 1982; Hanus, 1998; Oliveira, 2001; Sampaio, 1991, 2000; Schneidman, 1981). 

«A autodestruição surge após múltiplas perdas, fragmentos de dias perdidos ao longo dos anos, rupturas, pequenos conflitos que se acumulam hora a hora, a tornar impossível olhar para si próprio. O suicídio é uma estratégia, às vezes uma tática de sobrevivência quando o gesto falha, tudo se modifica em redor após a tentativa. E quando a mão, certeira, não se engana no número de comprimidos ou no tiro definitivo, a angústia intolerável cessa naquele momento e, quem sabe, uma paz duradoura preenche quem parte. Ou, pelo contrário e talvez mais provável, fica-se na dúvida em viver ou morrer, a cabeça hesita até ao último momento, quer-se partir e continuar cá, às vezes deseja-se morrer e renascer diferente» (Sampaio, 2000, p. 152)".

http://www.scielo.mec.pt/pdf/aps/v19n4/v19n4a03.pdf


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