domingo, 23 de junho de 2019

Livro: Um crime da solidão _____________ Andrew Solomon

Sinopse: Uma seleção inédita de textos do extraordinário autor de O demônio do meio-dia e Longe da árvore, que discutem com sensibilidade e empatia os vários aspectos do suicídio e da depressão.

demônio do meio-dia foi um livro divisor de águas sobre a depressão. Seu autor, Andrew Solomon, tratou de forma singular e inédita sobre esse mal que afeta milhões de pessoas no mundo, mas que, muitas vezes, ainda não é tratado com a seriedade devida. O suicídio é o extremo a que a doença pode levar, e é muito mais comum do que imaginamos: a cada quarenta segundos, alguém tira a própria vida. 
Nestes artigos que foram reunidos em livro pela primeira vez, numa edição exclusiva para o Brasil, Solomon reflete sobre casos recentes de suicídio de personalidades, como Anthony Bourdain, Robin Williams e Kate Spade, assim como de literatos, entre eles Sylvia Plath e David Foster Wallace, e ainda Virginia Woolf, que "tentou salvar-se pela arte" mas que sofria de um mal clínico intolerável e escolheu a água como um meio de morrer. Com sua narrativa fluida e seu olhar sempre empático, ele relata e analisa uma série de casos de pessoas que acabaram partindo antes da hora".

Quando eu soube que o autor havia lançado um livro sobre suicídio, fiquei muito interessada, pois gostei muito de "O demônio do meio-dia" e de "Longe da árvore". Solomon já havia mencionado no livro anterior sobre a eutanásia de sua mãe e aqui ele traz este evento marcante mais uma vez, bem como outros casos de suicídio (como o de um amigo, Terry) que ele analisa e sobre os quais reflete.

"Terry tinha levado com ele uma agradável névoa de lembranças. Entristecera corações sobre os quais pensava não ter nenhum controle. Se soubesse que tinha, teria se salvado? Saber do efeito de seu suicídio teria bastado para impedi-lo? Se o tivéssemos amado vivo como o amamos morto, ainda estaria vivo? Suas esperanças frustradas significam que a alegria que sentiu nunca foi real? E a alegria que deu aos outros? Teremos que devolvê-la? Será que ela pode sobreviver no mundo sem ele? A morte sempre esteve escrita em você, Terry? Deveríamos ter sabido vê-la?" (p. 24).  

"O fato de alguém ser extremamente feliz não significa que não seja extremamente triste; a extrema felicidade é em geral uma janela para a tristeza, se soubermos olhar por ela" (p. 24). 

Sobre os suicídios de Anthony Bourdain e Kate Spade:
"A frequência com que pessoas altamente talentosas e bem-sucedidas cometem suicídio é aflitiva. Ela nos mostra que uma vida de aplausos não é tão boa quanto se diz e que conseguir mais do que já conseguimos não nos fará mais felizes. Ao mesmo tempo, revela que ninguém está a salvo do suicídio, que as defesas que imaginamos ter, sejam elas quais forem, provavelmente são inadequadas" (p. 37). 


"O suicídio é resultado de desespero, desamparo, da sensação de ser um fardo para os outros. Pode ser alimentado por uma doença mental ou por circunstâncias da vida, mas quase sempre é resultado das duas coisas" (p. 39). 

"No cenário nacional, temos visto uma aceitação do preconceito e da intolerância, e isso afeta o estado de espírito de todos os cidadãos. Meu psicanalista disse que nunca nenhum de seus pacientes discutiu política nacional tão reiteradamente, sessão após sessão, como agora. Existe uma contínua tensão de ansiedade e medo de um lado, e brutalidade de outro. O ódio é deprimente - ser odiado, claro, é deprimente, mas odiar também é. O desgaste da rede de segurança social significa que mais e mais pessoas atingiram um ponto de súbita ruptura, e poucas mensagens de autêntico conforto lhes podem ser oferecidas nestes tempos impiedosos. Vive-se a exaustão pela doença, pelo isolamento, pelo desespero e pela crise existencial" (p. 43). 

"O oposto da depressão não é a felicidade, e sim a vitalidade" (p. 77). 

"São Tomás de Aquino categorizou todas as doenças em doenças do corpo e doenças da alma, e classificou as mentais como doenças da alma. Foi nessa época que um enorme estigma ficou associado à depressão, pois doença da alma era marca do desagrado de Deus, portanto coisa muito vergonhosa" (p. 95-96).


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