"Em 31 de janeiro de 2007, já morava em Londres havia um ano, quando recebi um telefonema do Brasil. O meu pai, José Octávio, havia se suicidado. Na manhã seguinte, voei para São Paulo para me despedir dele.
Duas semanas após o enterro, peguei todas as roupas de meu pai e as levei para um estúdio, onde me fotografei vestindo-as. Elas ainda tinham fios do seu cabelo e o cheiro de seu perfume. Foi como se o abraçasse pela última vez".
O livro de André Penteado é composto principalmente de fotos. As primeiras, são das imagens que ele começa a registrar no caminho da viagem que faria para despedir-se do pai. Na sequência, vêm as fotos que tirou com as roupas do pai, como ele mesmo diz, como se fosse um último abraço.
Existem diferentes formas de se elaborar o luto; a arte é uma delas, exatamente porque existem sentimentos que estão além do alcance das palavras. Como artista que trabalha com fotografias e vídeos, André utilizou este recurso para falar de seu pesar.
"Tornar conhecido O suicídio de meu pai ao grande público é o mesmo que trazer à existência e sepultar todos os dias o ritual de passagem carregado de ausências. É despedir-se incessantemente do inesperado, do súbito. Também é revisitar-se, é permitir-se em catarse diante de um mundo que tenta matar hodiernamente aquilo que acreditamos ser imortal: o amor.
A obra de André Penteado é uma declaração de amor à vida, pois ressiginifica a morte através do suporte da fotografia" - Elaine Pinho (p. 134-135).
"A arte é sinônimo de expressão e, conhecidamente, um instrumento de acesso aos sentimentos profundos, conscientes e inconscientes. [...] Aquilo que é traduzido em imagens e palavras ganha forma e torna-se menos assustador. Ao identificar vivências e sentimentos semelhantes, o enlutado sente que tem seu sofrimento testemunhado e compartilhado e que não está só na sua dor.
André Penteado, filho e artista, rompe toda e qualquer barreira entre o que foi sentido e o que é falado. [...] ele escancara a dor, o medo, a inquietude, a curiosidade e toda a transformação advinda de sua perda e, surpreendentemente, aquilo que poderia chocar nos acolhe e nos convida a olhar para a morte por suicídio com menos medo e mais empatia" - Gabriela Casellato, Maria Helena Pereira Franco, Luciana Mazorra e Valéria Tinoco (p. 136-138).
Este trabalho venceu o Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger em 2013.
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