Maria Cecília Minayo é uma das mais importantes referências em pesquisa e tem estudado o suicídio na população idosa.
Neste trabalho, ela integra esta temática à proposta da autópsia psicológica (existem outros artigos sobre o tema nas palavras-chave do blog).
Resumo: O artigo analisa a qualidade e a consistência de um roteiro de entrevista semiestruturada, adaptado para o estudo do suicídio de pessoas
idosas e apresenta o método das autópsias psicossociais que resultou da aplicação desse instrumento. O objetivo é demonstrar como o uso da entrevista em profundidade e sua forma de organização e análise de dados foram testados e aperfeiçoados por uma rede de pesquisadores de vários centros de pesquisa do Brasil. O método envolveu a
aplicação do instrumento em que se socializou
um manual de instruções sobre a coleta, sistematização e análise de dados. A metodologia foi aplicada no estudo de 51 casos de idosos que faleceram
por suicídio em dez municípios brasileiros, e permitiu a verificação da consistência do instrumento
usado e a aplicabilidade do seu método, durante o
processo e ao final, por meio de uma avaliação em
rede. O roteiro aperfeiçoado e as instruções para
replicá-lo e analisá-lo são aqui apresentados. Os
resultados apontam o rigor e a credibilidade dessa
abordagem metodológica testada e qualificada de
um modo interdisciplinar e interinstitucional.
Palavras-chaves: Autópsia psicológica, Autópsia
psicossocial, Suicídio de idosos, Rigor e qualidade
de instrumentos de pesquisa
"Originalmente, o objetivo das autópsias psicológicas tem sido colher informações post mortem sobre circunstâncias e contexto do óbito de determinada pessoa, em muitos casos apoiando médicos legistas e ajudando-os a concluir se a causa foi natural, acidental, por suicídio ou homicídio. O método da autópsia psicológica foi proposto por Edwin Schneidman nos Estados Unidos por volta dos anos 1950 como um tipo de estudo retrospectivo que reconstitui o status da saúde física e mental e as circunstanciais sociais das pessoas que se suicidaram, a partir de entrevistas com familiares e informantes próximos às vítimas. A autópsia é realizada como uma reconstrução narrativa. E sua consistência depende da qualidade da informação prestada" (p. 2040).
"Shneidman, embora denominasse o seu método como ¨autópsia psicológica¨ possuía uma visão integrada sobre as dimensões biológicas, psiquiátricas, históricas e sociológicas e é nesse sentido que aqui se utiliza o termo autópsia psicossocial" (p. 2040).
"Dentre as principais dificuldades que apareceram na aplicação dos instrumentos estão: os tabus e não ditos que envolvem o fenômeno do suicídio e que se apresentam sob a forma de estigma, discriminação e vergonha; lembranças associadas à culpa, raiva ou rancor suscitadas por crônicos conflitos familiares; descontentamentos com a falta de apoio em vida aos idosos por parte de órgãos públicos e de assistência; censuras enunciadas por familiares que não se ocupavam diretamente da pessoa que se suicidou; e medo de contar fatos que poderiam suscitar comprometimento legal como recebimento de seguro, de aposentadoria, ou questões policiais. Tais assuntos demandam manejos delicados e é importante que o pesquisador esteja preparado para enfrentá-los, evitando sempre julgar ou tomar partido" (p. 2049-2050).
"O momento da entrevista, em geral, gerou forte impacto tanto nos entrevistadores quanto nos entrevistados. Ao se defrontar com um ‘outro’ tão sofrido, os investigadores contaram que vivenciaram seus próprios limites e frequentemente provaram sentimentos tumultuados por experiências de sofrimento, dor e morte. [...] E a abertura para ouvir além do que o roteiro de entrevista exigia foi
fundamental para que a solidariedade com os
familiares ocorresse, para que encaminhamentos aos serviços de apoio fossem feitos e para
que mutuamente as pessoas se confortassem. Recomenda-se que o instrumento não venha a se
sobrepor à necessidade de acolhimento e que os
pesquisadores busquem se apoiar mutuamente,
uma vez que ninguém está isento de se desequilibrar emocionalmente frente a histórias tão tristes e comoventes" (p. 2050).
Artigo disponível na íntegra em: https://www.scielosp.org/pdf/csc/2012.v17n8/2039-2052/pt
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