domingo, 17 de novembro de 2019

Cartilha: Suicídio: compreender, identificar e intervir


Lançada em novembro do ano passado pela Sociedade Brasileira de Neuropsicologia, este material traz artigos de diferentes autores sobre suicídio.

"Atualmente, entende-se o suicídio como um fenômeno complexo. A suicidalidade engloba os aspectos ideativos e comportamentais de violência auto direcionada com intenções de morte que podem ser fatais ou não. Vários são os fatores que se relacionam à suicidalidade, tais como a dor psicológica, as pressões e estressores externos, auto criticismo e desesperança no futuro, servindo de antecedentes, mantenedores ou mediadores do suicídio" (p. 39).

"O perfeccionismo é um construto psicológico complexo, bem como sua relação com o fenômeno do suicídio, que apenas recentemente tem sido sistematicamente investigada. Mesmo aqueles indivíduos que possuem alto desempenho em seus campos de atuação, quando há mudança das contingências, podem estar em risco, pois pessoas extremamente perfeccionistas só estão satisfeitas quando os eventos de vida sugerem que são perfeitos; quando os eventos de vida mudam e inevitavelmente apontam que estas pessoas não são perfeitas, isso pode se seguir de ideações suicidas. A boa notícia é que o perfeccionismo é uma característica passível de mudança e que para alcançá-la o indivíduo não precisa se encorajado a abrir mão de suas metas, apenas flexibilizá-las" (p. 48).

"Existem poucos artigos sobre ideação suicida em crianças com menos de 8 anos pois é questionável se crianças tão novas conseguem entender o que a morte representa. Whalen e colaboradores (2015) demonstram evidências empíricas de que crianças pequenas possuem um entendimento acerca de morte e até suicídio maior do que esperado. Embora o entendimento de uma criança mais nova sobre morte ou suicídio seja menos complexo do que de uma criança mais velha ou de um adulto, em torno de 4 anos crianças conseguem entender que a morte leva a cessação da habilidade de atuar e é distinguida de dormir. Whalen e colaboradores ainda citam um estudo de Mishara (1999) feito com crianças do primeiro ao quinto ano em que todas, com exceção de três crianças, conseguiram definir e discutir “matar você mesmo”. Todas as crianças que conseguiram definir e discutir sobre esse conceito mencionaram meios viáveis de se fazer isso, seja usando uma faca ou arma. Embora não seja específico para o início da infância, os resultados desse estudo sugerem que crianças entre 6 e 10 anos entendem perfeitamente que um ato intencional de suicídio resultará em morte e compreendem que a morte é permanente e final" (p. 59). 

"[...] ao perder um paciente para o suicídio, os profissionais tendem a experimentar emoções parecidas com as dos familiares sobreviventes, como raiva direcionada ao paciente, a si próprio, à família, à polícia ou à imprensa. Adicionam-se a isso as questões relativas à própria profissão, sentimentos de responsabilidade e culpa, perda de autoestima, dúvidas sobre as habilidades e competências clínicas, medo de ser culpado pelo suicídio e até mesmo da reação dos familiares. Eles podem, inclusive, fantasiar sobre críticas dos colegas e supervisores, ter pensamentos acusatórios de omissão e sentir receio por questões jurídicas relativas à negligência por erro médico" (p. 109). 



http://www.hu.usp.br/wp-content/uploads/sites/406/2018/07/Cartilha-suic%C3%ADdio_final.pdf

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