domingo, 23 de fevereiro de 2020

LUTO POR SUICÍDIO: COMO AJUDAR



Cada pessoa fica enlutada de sua maneira. O luto é uma experiência pessoal e única e o luto por suicídio é um luto bem mais longo e de difícil elaboração. Portanto se você quer ajudar alguém que perdeu um ente querido por suicídio, veja algumas dicas.

por: No m'oblodis
















Você conhece o No m'oblidis? Canal dos queridos Terezinha Maximo e Joseval Maximo, pais da Marina, sobreviventes enlutados pelo suicídio, onde eles generosamente compartilham sua experiência e muita informação.
Para refletir, sensibilizar e ajudar a entender muito mais do que o suicídio e seu luto: entender a vida e o amor.


  

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Quase 65% dos casos de suicídio em Santos foram de pessoas com mais de 50 anos

Matéria do jornal A Tribuna de 31 de janeiro de 2020, da qual participei:


Quase 65% das notificações de suicídio registradas pela Prefeitura de Santos em 2019 envolviam vítimas com mais de 50 anos. Foram 14 casos de pessoas nesta faixa etária que tiraram a própria vida, de um total de 22 casos [notificados] no ano passado (equivalente a 63,6%). Mas, segundo especialistas, é provável que o número seja maior, já que o suicídio continua sendo um tema tabu, e a subnotificação ainda é grande.

"No Brasil, os dados de suicídio entre idosos são maiores [proporcionalmente, e não em números absolutos] do que entre adolescentes e jovens adultos, embora a gente ouça falar muito sobre suicídio entre os mais novos", afirma a psicóloga Luciana Cescon.

Ela destaca que o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Governo Federal, revela que a taxa de suicídio entre pessoas com mais de 70 anos é a maior do país: 8,9 para 100 mil habitantes. Na verdade, uma realidade não só nacional, mas uma tendência mundial.
A psicóloga diz entender que esses números é também reconhecer a complexidade do tema. "Ainda é comum escutarmos que os suicídios têm aumentado porque essa nova geração não sabe lidar com a frustração. Mas a questão é muito mais profunda".

No caso dos idosos, Luciana alerta que o problema muitas vezes está relacionado à dificuldade de acesso ao serviço de saúde [principalmente, saúde mental], doenças crônicas [que podem gerar sofrimento, dor e a sensação de estar dando trabalho para os outros] e a perda de entes queridos. Tudo contribui para o sofrimento emocional. "Por isso, ao considerarmos que a Baixada Santista tem um número importante de idosos, faz sentido ficarmos atentos".

O coordenador do Centro de Valorização da Vida (CVV), Renato Caetano, conta que pessoas mais velhas procuram o serviço exatamente para falar de assuntos como os companheiros que se vão e a perda do vigor físico. "Tudo isso contribui para um isolamento maior". Porém, de modo geral, afirma, cada um precisa de atenção e de apoio, independente da faixa etária.

Subnotificação
Estudos mostram que, no atendimento a casos de suicídio, alguns podem ficar escondidos sob outras determinações de morte. Por exemplo: acidentes, causas desconhecidas ou envenenamentos. Por isso, as subnotificações ainda são grandes. Fora a dor.
"Comunicar a morte por suicídio é doloroso e difícil para qualquer um. Suicídio é um tabu de difícil transposição", avalia Caetano.
Até por isso, Luciana garante que um ponyo que precisa de atenção é em relação aos cuidados a quem perde alguém por suicídio, seja familiar, amigo ou professor. "As pessoas que sofrem o impacto desse fato também podem precisar de ajuda especializada. Muitas vezes, o próprio tabu faz com que elas não sejam acolhidas".

Por tudo isso, Luciana afirma que saúde mental e prevenção ao suicídio são problemas que exigem o envolvimento de toda a sociedade.
"É um assunto que envolve políticas públicas, capacitação para profissionais de saúde e educação, meios de comunicação, enfim, a sociedade em geral. Desmistificar o sofrimento emocional e garantir acesso aos cuidados em saúde mental para todos é fundamental".

Santos
À Reportagem, a prefeitura afirmou que a Secretaria de Saúde oferece permanentemente profissionais e atendimento na sua rede de serviços e diversas ações acontecem durante o ano, envolvendo usuários dos Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS). Além de outras ações, também faz parceria com escolas, universidades e outras entidades, com foco principalmente no público jovem.

Onde procurar ajuda?
A rede de atenção psicossocial de Santos é formada por três níveis de atendimento no SUS: atenção básica (policlínicas), urgência/emergência e rede especializada de saúde mental (CAPS). Os CAPS podem ser procurados das 8h às 17h por quem tem transtorno mental grave ou faz uso abusivo de álcool e drogas. Confira os endereços:
- CAPS Zona Noroeste: Rua Bulcão Viana, 880 - Bom Retiro
- CAPS Centro: Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 236 - Macuco
- CAPS Praia: Av. Coronel Joaquim Montenegro, 329 - Ponta da Praia
- CAPS da Vila: Av. Pinheiro Machado, 718 - Marapé
- CAPS Orquidário: Av. Francisco Glicério, 661 - José Menino
- CAPS Álcool e outras drogas: Rua Silva Jardim, 354 - Macuco
- CAPS Álcool e outras drogas Infanto-Juvenil: Rua Campos Melo, 298 - Encruzilhada
- CAPS Infanto-juvenil da Zona Noroeste: Praça Maria Coelho Lopes, 395 - Santa Maria    
- CAPS Infanto-Juvenil #tamojunto: Av. Pinheiro Machado, 769 - Campo Grande

Outras opções:
Centro de Valorização da Vida (CVV), que atende pelo telefone 188 e chat disponível no site www.cvv.org.br
Grupo de apoio aos Sobreviventes Enlutados por suicídio do Instituto Vita Alere, com encontros agendados para os dias 10 de fevereiro, 13 de abril, 15 de junho, 17 de agosto, 19 de outubro e 14 de dezembro, das 18:30h às 20:30h, na Rua Barão de Paranapiacaba, 233, em Santos.   



domingo, 9 de fevereiro de 2020

Precisamos falar sobre saúde emocional na escola!



Vi esta imagem sendo compartilhada por um aluno do Ensino Médio e entrei na página original ... como vemos nesta imagem, o post foi compartilhado mais de 2.000 vezes (e o post no Facebook teve o mesmo número de compartilhamentos).

Embora o tom seja de humor, não deixa de existir um fundo de verdade na pressão que os adolescentes encontram ao longo destes três anos: conflitos da adolescência, descoberta do próprio corpo e sexualidade, cobranças pelo bom desempenho para garantir uma vaga em um curso superior, entre outros ... e o que parecem ser as saídas possíveis: a medicalização do sofrimento ("rivoltril e calmante"); a violência contra si ou o outro ("álcool ou arma"); e a aceitação do adoecimento ("camisa de força ou lenços de papel").

Tenho participado de rodas de conversa com adolescentes e é gritante o quanto eles precisam ser ouvidos e apoiados. Será que nós, adultos, temos levado a sério as queixas que eles trazem?

De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, já em setembro de 2018:

"Em todo o mundo, estima-se que 10% a 20% dos adolescentes vivenciem problemas de saúde mental, mas permanecem diagnosticados e tratados de forma inadequada. Sinais de transtornos mentais podem ser negligenciados por uma série de razões, tais como a falta de conhecimento ou conscientização sobre saúde mental entre trabalhadores de saúde ou o estigma que os impede de procurar ajuda.

Os transtornos emocionais geralmente surgem durante a adolescência. Além da depressão ou da ansiedade, os adolescentes com essa condição também podem sentir irritabilidade, frustração ou raiva excessivas. Os sintomas podem se sobrepor em mais de um transtorno, com mudanças rápidas e inesperadas no humor e explosões emocionais. Os adolescentes mais jovens também podem desenvolver sintomas físicos como dor de estômago, dor de cabeça ou náusea.

Em todo o mundo, a depressão é a 9ª causa de doença e incapacidade entre todos os adolescentes, a ansiedade é a 8ª principal causa. Transtornos emocionais podem ser profundamente incapacitantes para o funcionamento de um adolescente, afetando o trabalho e a frequência escolares. A retirada ou a separação de familiares, colegas ou comunidade podem exacerbar o isolamento e a solidão. Na pior das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio".

Fonte: https://www.paho.org/bra/index.php…

Não basta criar um currículo escolar que prepara os jovens para o vestibular ou para o mercado de trabalho: é preciso também acolhê-los e tentar fortalecê-los para a vida. Os professores devem estar preparados para lidar com estas questões, sim! E eles também precisam de cuidado.

É necessário e urgente criar redes de cuidado em saúde mental, sim! Acompanhamento psicológico tem que ser acessível! Rodas de conversa sobre sofrimento emocional, bullying, autolesão, comportamento suicida e violência devem fazer parte do cotidiano da escola.

Compartilho mais uma vez o link para download gratuito das cartilhas que nós do Vita Alere elaboramos falando de prevenção do suicídio (uma para adolescentes e outra para pais e educadores).


- Psicóloga Luciana França Cescon


domingo, 2 de fevereiro de 2020

A importância do apoio social no comportamento suicida

Nos casos de pessoas com ideação suicida que acompanho no consultório e no meu trabalho no serviço público, tenho observado cada vez mais a importância do suporte da família e de amigos como um fator de proteção, dado que sempre aparece nos estudos relacionados a este tema.

Ressalto logo de início que isso não quer dizer que quando ocorre um suicídio completo ou uma tentativa de suicídio houve uma falha nesta rede de apoio. Como falamos sempre, o comportamento suicida é resultado de um conjunto complexo de fatores, que varia em cada caso. Nos grupos de apoio, sabemos de muitas histórias nas quais as famílias estavam muito próximas, acompanhando seus entes queridos em todos os atendimentos e tentando suprir todas as suas necessidades, e ainda assim, o suicídio aconteceu.

Porém, também sabemos que ainda há um estigma em relação ao sofrimento emocional e muitas vezes é difícil para as pessoas próximas lidarem e acolherem seus entes queridos quando há uma depressão intensa ou a expressão do desejo de morrer, por exemplo.

A importância:
De acordo com o Dr. Neury Botega, no livro “Crise Suicida – avaliação e manejo” (2015, p. 168):

“Quando a família entra em contato com a crise suicida de um de seus membros, há uma explosão de sentimentos e de reações, geralmente de natureza contraditória: preocupação, medo, raiva, acusação, frustração, banalização, esperança, culpa, disponibilidade, superproteção, cansaço, irritação e hostilidade. Ao mesmo tempo em que amigos e familiares se preocupam, eles podem se sentir muito desconfortáveis diante do comportamento do paciente. É normal a ambivalência, é normal não saber ao certo como agir, e também é normal dizer ou fazer algo para logo depois se arrepender”.    

Quase sempre, a primeira tentativa de ajuda vem em forma de conselhos que têm a intenção de fortalecer (“Não fale isso”; “Tenha força de vontade”; “Você não pensa no que isso vai fazer com as pessoas que te amam, que egoísmo!”; “Você tem que querer se ajudar”), mas podem acabar por fazer com que a pessoa que está em sofrimento sinta-se ainda mais incapaz ou culpada por não conseguir lidar com as situações de outra forma.

É importante lembrar que os profissionais de saúde também devem olhar para os familiares, seja no Pronto-Socorro, serviço de saúde mental ou clínica, orientando sobre os cuidados necessários (como o acesso a medicamentos e como ajudar a identificar alguns sinais de alerta), desmistificando o sofrimento emocional e encaminhando para o suporte adequado sempre que for indicado. Nos meus atendimentos, sempre existem sessões com esse objetivo, para pelo menos um familiar que o meu cliente escolheu, sempre com a presença deste, para que não existam mal-entendidos. Esta pessoa será a minha referência caso eu precise fazer um contato de emergência; nada mais justo que ela também seja cuidada e preparada para lidar com situações de crise da melhor forma possível.

Se você tem um familiar ou amigo que está passando por uma situação difícil, o primeiro passo é se aproximar e se colocar disponível para ouvir sem fazer julgamentos. No canal do Vita Alere no Youtube, você encontra o vídeo Como ajudar alguém que quer se matar e muitos outros que também podem ajudar.

Disponível em: