Matéria do jornal A Tribuna de 31 de janeiro de 2020, da qual participei:
Quase 65% das notificações de suicídio registradas pela Prefeitura de Santos em 2019 envolviam vítimas com mais de 50 anos. Foram 14 casos de pessoas nesta faixa etária que tiraram a própria vida, de um total de 22 casos [notificados] no ano passado (equivalente a 63,6%). Mas, segundo especialistas, é provável que o número seja maior, já que o suicídio continua sendo um tema tabu, e a subnotificação ainda é grande.
"No Brasil, os dados de suicídio entre idosos são maiores [proporcionalmente, e não em números absolutos] do que entre adolescentes e jovens adultos, embora a gente ouça falar muito sobre suicídio entre os mais novos", afirma a psicóloga Luciana Cescon.
Ela destaca que o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Governo Federal, revela que a taxa de suicídio entre pessoas com mais de 70 anos é a maior do país: 8,9 para 100 mil habitantes. Na verdade, uma realidade não só nacional, mas uma tendência mundial.
A psicóloga diz entender que esses números é também reconhecer a complexidade do tema. "Ainda é comum escutarmos que os suicídios têm aumentado porque essa nova geração não sabe lidar com a frustração. Mas a questão é muito mais profunda".
No caso dos idosos, Luciana alerta que o problema muitas vezes está relacionado à dificuldade de acesso ao serviço de saúde [principalmente, saúde mental], doenças crônicas [que podem gerar sofrimento, dor e a sensação de estar dando trabalho para os outros] e a perda de entes queridos. Tudo contribui para o sofrimento emocional. "Por isso, ao considerarmos que a Baixada Santista tem um número importante de idosos, faz sentido ficarmos atentos".
O coordenador do Centro de Valorização da Vida (CVV), Renato Caetano, conta que pessoas mais velhas procuram o serviço exatamente para falar de assuntos como os companheiros que se vão e a perda do vigor físico. "Tudo isso contribui para um isolamento maior". Porém, de modo geral, afirma, cada um precisa de atenção e de apoio, independente da faixa etária.
Subnotificação
Estudos mostram que, no atendimento a casos de suicídio, alguns podem ficar escondidos sob outras determinações de morte. Por exemplo: acidentes, causas desconhecidas ou envenenamentos. Por isso, as subnotificações ainda são grandes. Fora a dor.
"Comunicar a morte por suicídio é doloroso e difícil para qualquer um. Suicídio é um tabu de difícil transposição", avalia Caetano.
Até por isso, Luciana garante que um ponyo que precisa de atenção é em relação aos cuidados a quem perde alguém por suicídio, seja familiar, amigo ou professor. "As pessoas que sofrem o impacto desse fato também podem precisar de ajuda especializada. Muitas vezes, o próprio tabu faz com que elas não sejam acolhidas".
Por tudo isso, Luciana afirma que saúde mental e prevenção ao suicídio são problemas que exigem o envolvimento de toda a sociedade.
"É um assunto que envolve políticas públicas, capacitação para profissionais de saúde e educação, meios de comunicação, enfim, a sociedade em geral. Desmistificar o sofrimento emocional e garantir acesso aos cuidados em saúde mental para todos é fundamental".
Santos
À Reportagem, a prefeitura afirmou que a Secretaria de Saúde oferece permanentemente profissionais e atendimento na sua rede de serviços e diversas ações acontecem durante o ano, envolvendo usuários dos Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS). Além de outras ações, também faz parceria com escolas, universidades e outras entidades, com foco principalmente no público jovem.
Onde procurar ajuda?
A rede de atenção psicossocial de Santos é formada por três níveis de atendimento no SUS: atenção básica (policlínicas), urgência/emergência e rede especializada de saúde mental (CAPS). Os CAPS podem ser procurados das 8h às 17h por quem tem transtorno mental grave ou faz uso abusivo de álcool e drogas. Confira os endereços:
- CAPS Zona Noroeste: Rua Bulcão Viana, 880 - Bom Retiro
- CAPS Centro: Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 236 - Macuco
- CAPS Praia: Av. Coronel Joaquim Montenegro, 329 - Ponta da Praia
- CAPS da Vila: Av. Pinheiro Machado, 718 - Marapé
- CAPS Orquidário: Av. Francisco Glicério, 661 - José Menino
- CAPS Álcool e outras drogas: Rua Silva Jardim, 354 - Macuco
- CAPS Álcool e outras drogas Infanto-Juvenil: Rua Campos Melo, 298 - Encruzilhada
- CAPS Infanto-juvenil da Zona Noroeste: Praça Maria Coelho Lopes, 395 - Santa Maria
- CAPS Infanto-Juvenil #tamojunto: Av. Pinheiro Machado, 769 - Campo Grande
Outras opções:
Centro de Valorização da Vida (CVV), que atende pelo telefone 188 e chat disponível no site www.cvv.org.br
Grupo de apoio aos Sobreviventes Enlutados por suicídio do Instituto Vita Alere, com encontros agendados para os dias 10 de fevereiro, 13 de abril, 15 de junho, 17 de agosto, 19 de outubro e 14 de dezembro, das 18:30h às 20:30h, na Rua Barão de Paranapiacaba, 233, em Santos.
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