domingo, 1 de março de 2020

Artigo: Estratégias de prevenção e posvenção do suicídio: Estudo com profissionais de um Centro de Atenção Psicossocial

RESUMO

O suicídio é considerado um problema de saúde pública que vêm sendo mundialmente debatido. No Brasil, a região Sul tem se destacado com altos índices de suicídio, alertando profissionais e pesquisadores sobre a temática. O estudo objetivou investigar o desenvolvimento de estratégias de prevenção e posvenção ao suicídio em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Especificamente, buscou-se verificar ações realizadas referentes à assistência aos sujeitos que tenham ideado, tentado ou cometido suicídio, bem como assistência aos seus familiares, além de investigar sobre as percepções dos profissionais do CAPS sobre o suicídio. Realizou-se um estudo de caso exploratório. Foram entrevistados cinco profissionais do CAPS, e os dados foram analisados com base na Análise de Conteúdo qualitativa. Os profissionais falaram sobre estratégias para manejo do suicídio, citando a importância da atuação em rede e em equipe, do atendimento humanizado e da atenção à família. Também reportaram sentimentos que indicam sofrimento e empatia. Com base nos achados, elaborou-se um modelo de planejamento técnico ilustrando estratégias para a prevenção e pósvenção ao suicídio. Por fim, discute-se a pertinência de políticas públicas voltadas à prevenção e pósvenção ao suicídio, valorizando e qualificando profissionais da saúde.

Palavras-chave: Suicídio, prevenção primária, saúde pública



"Traduz-se a palavra suicídio como sendo a morte de si mesmo. O termo refere-se à morte intencional, com o intuito de fugir de si ou de um grande sofrimento. Tal acepção parece bastar a princípio, porém, é possível perceber em uma reflexão mais profunda que os mecanismos e fatores envolvidos no ato suicida demandam uma conceituação muito mais complexa do termo. Aponta-se que o suicida não está em busca da morte em seu ato, mas vivencia uma fantasia onde matar-se não implica em necessariamente morrer (Cassorla, 1985/2005).
David Émile Durkheim, sociólogo, psicólogo social e filósofo francês, define o suicídio como a morte resultante de um ato, positivo ou negativo, produzido, com o conhecimento das consequências, pela própria vítima. Ou seja, o suicida pode provocar sua própria morte através de uma ação violenta contra si mesmo (ato positivo), como se dar um tiro; como também através da abstenção (ato negativo) como parar de comer, por exemplo (Durkheim, 1982).
Pressupõe-se também, que o suicídio é uma manifestação do ser humano, uma maneira encontrada pelo sujeito de lidar com o sofrimento, uma fuga de sua existência, um escape para a dor. Considera-se que o indivíduo vê o suicídio como uma solução, a qual, ele pode dispor quando não suportar mais viver em sofrimento (Rigo, 2013). Já para Dutra (2010), o suicídio trata-se de uma fuga da ausência de sentido da vida, onde viver torna-se insuportável, um sofrimento, um peso. Assim, é possível perceber a concordância de todos estes autores em dois aspectos principais: a intencionalidade do ato e a fuga, não da vida em si, mas do sofrimento que se vivencia.
Conforme aponta Prieto e Tavares (2005), as experiências negativas de vida como violência física ou sexual, rejeição na infância e dificuldades de relacionamento familiar, podem comprometer o desenvolvimento emocional dos sujeitos, sobrecarregando-os e aumentando a tensão emocional. Neste sentido, percebe-se semelhanças no desenvolvimento emocional das pessoas que cometem ou tentam o suicídio, visto que, a maioria delas passou por estas experiências. As autoras ainda destacam em seu estudo a presença de impulsividade no ato suicida, apontando evidências de que a decisão de se matar é tomada pouco antes do ato.
Porém, Cassorla (1985/2005) afirma que são os eventos desencadeadores que interagem entre si em um momento da vida que motivam o ato suicida. Ou seja, inúmeras situações vividas que agem como um "gatilho" são ativadas juntas em algum momento, levando à tentativa de suicídio. Sobre esse aspecto, Botega (2015), autor de inúmeras produções científicas com a temática do suicídio, alerta sobre a crise suicida que antecede o ato de suicidar-se. O autor aponta que durante a crise suicida, ocorre a exacerbação de uma psicopatologia existente, ou a desordem emocional que precede um episódio traumático vivenciado pelo sujeito. Desta forma, a dor psíquica é tão forte, que o sujeito, no desejo de cessá-la, pode interromper sua vida por meio do suicídio.
Conforme apontam Schlösser, Rosa e More (2014), pode-se compreender o comportamento suicida como o ato carregado de intenção de causar dano a si mesmo, objetivando dar fim a própria vida, abarcando nestes comportamentos ideações e desejos suicidas, tentativas e ato consumado. No que se refere aos fatores de risco apontados pela literatura, deve-se atentar a fatores genéticos que podem ser inferidos a partir da história familiar, como histórico de suicídio e doenças psiquiátricas na família, conferindo risco maior para o comportamento suicida. Contudo, os autores ressaltam que deve haver a distinção entre fatores predisponentes (sexo, idade, história familiar, tentativas anteriores, presença de transtornos mentais ou doenças físicas, histórico de abusos sofridos, desemprego, pertencer a uma minoria étnica ou sexual), que vão aos poucos criando espaço para que os comportamentos suicidas eclodam; e os fatores precipitantes (separação amorosa, rejeição, problemas familiares, perda do emprego, vergonha, culpa), que são desencadeantes do comportamento suicida. Os fatores precipitantes (estressores) de comportamento suicida associam-se a situações de perda, sejam elas reais ou simbólicas (Bertolote, Mello-Santos, & Botega, 2010).
Botega (2015) descreve um modelo de suscetibilidade ao suicídio, incluindo uma propensão genética aliada a fatores psicossociais. O autor aponta alguns dos elementos deste modelo que mais são estudados cientificamente, como os traços de impulsividade, vivências traumáticas da infância como privação materna e abuso físico, rigidez cognitiva, presença de doença mental e fácil acesso a meios letais.
No que se refere às estratégias de prevenção ao suicídio, o Brasil avança no sentido de implantar políticas públicas que norteiam a construção de intervenções em saúde. Em 2006, como Estratégia Nacional de Prevenção ao Suicídio, o Ministério da Saúde lançou o manual Prevenção de suicídio: manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental, intuindo detectar de forma precoce condições associadas ao fenômeno e realizar medidas preventivas. O manual esclarece a importância das equipes dos Centros de Atenção Psicossocial na prevenção do suicídio, descreve acerca dos fatores de risco e informa sobre o manejo das psicopatologias associadas ao risco de suicídio como a depressão, a esquizofrenia, a dependência de álcool ou drogas e os transtornos de personalidade. O manual também auxilia descrevendo a abordagem adequada de potenciais suicidas e as formas de ajudá-los. Além disso, refere sobre o manejo de pacientes e encaminhamento dos mesmos, quando estes estiverem sob risco de suicídio (Brasil, 2006)".




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