“E é na vida que surge o suicídio. Contrariamente às crenças populares, há maior probabilidade de o suicídio ocorrer no lar do que no hospício. Ele acontece às pessoas famosas sobre quem lemos, perto de nós a alguém que conhecemos, na família – ou em nós mesmos. Como qualquer golpe do destino- amor, tragédia, glória – somente quando é distorcido, quando forma parte de uma síndrome psicótica é que o suicídio torna-se um caso para o psiquiatra. Em si mesmo, o suicídio não é nem síndrome, nem sintoma. Por isso, essa investigação não pode ser especializada; focalizará, ao invés disso, o suicídio no ambiente humano da análise, isto é, como ele poderia aparecer, e de fato aparece, dentro do curso normal de qualquer vida” (p. 24).
“[...] em nome deste propósito – promover a vida – justifica-se ao médico usar qualquer meio que impeça um paciente de tirar a própria vida. [...] O próprio modelo médico sustenta a regra-padrão: qualquer indicação de suicídio, qualquer ameaça de morte exige a ação imediata de cadeados e drogas e vigilância constante – tratamento normalmente reservado aos criminosos” (p. 44).
“[...] o suicídio é uma das possibilidades humanas. A morte pode ser escolhida. O significado dessa escolha é diferente, de acordo com as circunstâncias e o indivíduo. Exatamente aqui, onde terminam os relatórios e as classificações, começa o problema analítico. Um analista preocupa-se com o significado individual de um suicídio, que não consta nas classificações. Trabalha a partir da premissa de que, cada morte é significativa e de algum modo compreensível, para além das classificações” (p. 51).
“Não somos responsáveis pela vida e pela morte uns dos outros, a vida e a morte de cada homem é dele próprio. Somos, porém, responsáveis por nossos envolvimentos” (p. 94).
HILLMAN, James. Suicídio e Alma. Tradução de Sônia Maria Caiuby Labate. 4ª. Ed – Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
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