domingo, 29 de novembro de 2015

Em dez anos, suicídio de crianças e pré-adolescentes cresceu 40% no Brasil
Por Maria Fernanda Ziegler e Ocimara Balmant | 10/09/2014 



Dados preocupam porque suicídio é sub-notificado e, além disso, estimam-se 300 tentativas para cada suicídio infantil; especialistas criticam falta de programas de prevenção

"Mas você tem tudo o que quer. Por que fez isso?" Seja em um choro dolorido ou aos gritos de raiva, a frase é comum no pronto socorro de psiquiatria para onde são encaminhadas as crianças e adolescentes que tentaram se matar. Sai da boca dos pais, atônitos com a confissão do filho que se cortou todo ou que ingeriu uma dose cavalar de medicamentos. Pouco falado, o suicídio na infância e adolescência tem crescido nos últimos anos.

Dados do Mapa da Violência, do Ministério da Saúde, revelam que ele existe e está crescendo. De 2002 a 2012 houve um crescimento de 40% da taxa de suicídio entre crianças e pré-adolescentes com idade entre 10 e 14 anos. Na faixa etária de 15 a 19 anos, o aumento foi de 33,5%. 
"Ao contrário do adulto, que normalmente planeja a ação, o adolescente age no impulso. São comportamentos suicidas para fugir de determinada situação que vez ou outra acabam mesmo em morte", afirma a psiquiatra Maria Fernanda Fávaro, que atua em um Pronto Socorro de psiquiatria em São Caetano do Sul, região metropolitana de São Paulo. Aos cuidados de Maria Fernanda, são encaminhadas as crianças e os adolescentes que chegaram feridas ao hospital após tentarem se matar.
Ao serem perguntados sobre o motivo de terem se mutilado com lâmina de barbear, se ferido com materiais pontiagudos, cortado o pulso ou ingerido mais de duas dezenas de comprimidos, a resposta é rápida, e vaga. "A maioria diz que a vida não tem sentido, que sentem um vazio enorme. Muitos têm quadros associados à depressão", afirma Maria Fernanda. O cenário é tão recorrente, diz a psiquiatra, que há sites, blogs e páginas de rede social que ensinam as melhores técnicas e ferramentas para que a criança tire a própria vida.
Para os mais novos, se matar é, de fato, mais difícil. Dados mostram que, a cada suicídio adulto, há de 10 a 20 tentativas que não acabaram em morte. No caso de crianças, são estimadas 300 tentativas para um suicídio consumado, seja porque elas usam método pouco letal, seja por dificuldade de acesso a instrumentos. "Muitos, quando chegam aqui contam que vêm se cortando a mais ou menos um ano, e a família não sabe disso", diz Maria Fernanda.
Esse desconhecimento familiar não deve ser encarado como descaso, mas precisa ser visto sob a lógica do quanto o tema do suicídio ainda é um tabu na sociedade, afirmam os especialistas. No caso de crianças e adolescentes, a situação ainda é pior: ninguém fala sobre o assunto, apesar de estudos mostrarem que 90% dos jovens atendidos em emergência psiquiátrica chegam lá após tentativas de se matar.
"Existe o mito de que o suicídio se concentra nos países nórdicos. Essas nações realmente lideravam o ranking, mas tomaram atitudes e conseguiram reverter o quadro. Enquanto isso, a gente aqui no Brasil continua sem falar nisso e vê os números crescendo", alerta Carlos Correia, voluntário há mais de 20 anos do Centro de Valorização da Vida, o CVV. 
Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na semana passada mostraram que o Brasil é o quarto país latino-americano com o maior crescimento no número de suicídios entre 2000 e 2012 e o oitavo do mundo em números absolutos de pessoas que tiram a própria vida. Foram 11.821 suicídios no período, aumento de 10% em relação à década anterior. 
Uma situação que, segundo os especialistas, reflete a falta de programas de prevenção. Apesar de a taxa no Brasil ainda ser inferior a 10 suicídios por 100 mil habitantes – a partir da qual a OMS considera alta, a população é muito grande e, portanto, o número de casos também.
“O que não pode é o Brasil votar em março sobre o relatório da OMS, mas não promover o plano de prevenção ao suicídio”, afirma o médico Carlos Felipe Almeida D’Oliveira, da Rede Brasileira de Prevenção do Suicídio.
O psiquiatra infantil Gustavo Estanislau compara as iniciativas de prevenção brasileiras com as de países desenvolvidos. "Lá fora, existem projetos de prevenção há muito tempo. Eles já têm isso tão bem organizado, que funcionam como um guia. Tem equipes até para agir nas escolas quando, por exemplo, uma criança se mata. No Brasil, não conheço nenhum projeto desse tipo."
A criação de um programa de prevenção ao suicídio eficaz deve ter como prioridades a identificação de fatores de risco, o investimento em serviços especializados e o mapeamento de quais são as populações mais vulneráveis, com atenção àqueles que já cometeram tentativas de suicídio.
Maria Fernanda conta que boa parte das crianças e adolescentes que ela atende no pronto socorro psiquiátrico é reincidente: já tentaram se matar outra vez e, machucados, passaram por um clínico geral que os liberou em seguida. “É a realidade da maioria, porque ainda são poucos os serviços especializados. No hospital convencional, a medida comum é cuidar do ferimento e mandar para casa”, diz.
Quando essa mesma criança que tentou se matar tem acesso a um serviço especializado, o resultado pode mudar seu futuro. “Atendo e avalio se ela mantém o risco suicida. Se ela diz que tentou se matar e continua querendo, a gente interna. Se não há risco, indicamos um acompanhamento ambulatorial. Só não pode é voltar para casa do jeito que chegou”, afirma Maria Fernanda.
Os especialistas afirmam que é preciso prestar atenção a qualquer sinal que a criança ou o adolescente demonstre sobre a vontade de tirar a própria vida. Além de comunicar verbalmente o objetivo de se matar, ele pode apresentar sinais como tristeza prolongada, mudança brusca de comportamento, agressividade e intolerância.
“A primeira coisa a fazer é considerar que há um risco. Não pode achar que é bobagem, coisa momentânea ou feita para chamar atenção. O suicídio tem um aspecto importante, que é a comunicação. Se a pessoa está dizendo que tem um tipo de sofrimento e que não encontra saída, é preciso ficar atento e procurar um serviço de saúde mental”, afirma D’Oliveira, da Rede Brasileira de Prevenção do Suicídio.
Detectado o risco, a primeira providência é conversar. Parece óbvio, mas não é. Na maioria dos casos, os adultos acreditam que se fingirem que não perceberam, a criança ou o adolescente pode mudar de ideia. Outros tantos acham que falar em suicídio é uma ameaça típica da idade. Ambas atitudes estão erradas. “É preciso sempre levar a sério e acreditar no que a criança ou o adolescente diz. É importante ter uma conversa, sem julgamentos, para que ele não se sinta tolhido em falar”, afirma a psicóloga Karen Scavacini, mestre em saúde pública e especialista em prevenção ao suicídio. 
Pode ser que, nessa conversa, o adulto perceba sinais bem sutis, como a dificuldade de tolerância à frustração, falta de sentido na vida, sensação de desamparo e pressão interna. "É também nessa idade, que muitos se dão conta de sua orientação sexual. No caso de se perceberem homossexuais, podem achar que é um problema e que não tem solução", afirma Karen. 
A psicóloga explica que, nesta conversa, é importante que o adulto pergunte se a criança ou o adolescente já pensou em se matar mais de uma vez. “Assim, é possível saber se a ideia já virou um plano e então encaminhar a criança para um atendimento.”
Mesmo porque no momento do atendimento, explica a psicóloga, percebe-se que a vulnerabilidade dessa faixa etária é tão grande que muitos tentam tirar a vida sem ao menos saber o que isso significa. “Crianças mais novas e pré-adolescentes tem uma impulsividade e não têm a capacidade de avaliar que a morte é para sempre.”


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Apresentação: Cuidado, frágil: atenção ao suicídio de crianças e adolescentes

Estes slides foram apresentados no dia 23/11, a convite do Projeto Voz do Silêncio.
Este importante projeto de Cubatão tem como objetivo atender "crianças, adolescentes que tiveram seus direitos sexuais violados, bem como seus familiares. Além de oferecer atendimento psicossocial, psicológico e jurídico, no ano de 2014, foram feitas palestras e sensibilizações nas escolas da rede municipal de ensino e campanhas de conscientização e prevenção ao abuso e exploração sexual, no terminal rodoviário e nos pátios de caminhões onde transitam um grande número de caminhoneiros."

As diferentes violências (sexual, psicológica, doméstica) aumentam significativamente o risco de suicídio.

Não encontrei livros sobre o assunto, portanto usei artigos como referência.


 Link dos slides:

http://www.slideshare.net/LucianaFranaCescon/preveno-ao-suicdio-infncia-e-adolescncia

domingo, 22 de novembro de 2015

PREVENÇÃO DO SUICÍDIO: Manual para Professores e Educadores

"Quando possível, a melhor abordagem para a prevenção do suicídio na escola é a elaboração de um trabalho em grupo que inclui professores, médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais da própria escola, trabalhando em conjunto com agentes da comunidade.

Ter pensamentos suicidas uma vez ou outra não é anormal. Eles são parte do processo de desenvolvimento normal da passagem da infância para a adolescência, à medida que se lida com problemas existenciais e se está tentando compreender a vida, a morte e o significado da existência. 

Estudos com questionários mostram que mais da metade dos estudantes do segundo grau já tiveram pensamentos de suicídio. Os jovens precisam conversar sobre esses assuntos com adultos. Pensamentos suicidas se tornam anormais quando a realização desses pensamentos parece ser a única solução dos problemas para as crianças e os adolescentes. Temos então um sério risco de tentativa de suicídio ou suicídio."

"Estudos pós-morte de adolescentes que faleceram por causa violentas indicam que eles não constituem um grupo homogêneo. Eles mostram manifestações súbitas de autodestruição e tendências de risco . Enquanto algumas das mortes podem ter sido causadas por atos não intencionais, outras são de atos intencionais resultantes da dor por estar vivendo".

"Resumidamente, adolescentes meninos cometem suicídio mais freqüentemente que meninas. Todavia, a taxa de tentativas de suicídio é duas a três vezes maior entre meninas. Elas têm mais depressão que os meninos, porém acham mais fácil conversar sobre seus problemas e procurar ajuda, isso provavelmente ajuda a prevenir atos fatais. Os meninos freqüentemente são mais agressivos e impulsivos, e não é raro agirem sob o efeito de álcool e drogas ilícitas, o que provavelmente contribui para atos fatais. 

Fatores de proteção 
Fatores importantes que fornecem proteção contra o comportamento suicida são: 

  • Padrões familiares: bom relacionamento com familiares; • apoio familiar. 
  • Personalidade e estilo cognitivo • boas habilidades/ relações sociais; • confiança em si mesmo , em suas conquistas e sua situação atual; • capacidade de procurar ajuda quando surgem dificuldades, ex. em trabalhos escolares;capacidade de procurar conselhos quando decisões importantes devem ser tomadas; • estar aberto para os conselhos e as soluções de outras pessoas mais experientes; • estar aberto ao conhecimento. 
  • Fatores culturais e sócio-demográficos: • integração social, ex. através de participação em esportes, igrejas, clubes e outras atividades; • bom relacionamento com colegas de escola; • bom relacionamento com professores e outros adultos; • aceita a ajuda de pessoas relevantes.

COMO IDENTIFICAR ESTUDANTES EM CONFLITO E COM POSSÍVEL RISCO DE SUICÍDIO


Identificação do sofrimento
Qualquer mudança súbita ou dramática que afete o desempenho, 
capacidade de prestar atenção ou o comportamento de crianças ou adolescentes
deve ser levado seriamente, como:
• falta de interesse nas atividades habituais;
• declínio geral nas notas;
• diminuição no esforço/interesse;
• má conduta na sala de aula;
• faltas não explicadas e/ou repetidas, ficar “matando aula”;
• consumo excessivo de cigarros (tabaco) ou de bebida alcoólica, ou abuso
de drogas (incluindo maconha);
• incidentes envolvendo a polícia e o estudante violento.

Estes fatores ajudam a identificar estudantes em risco para sofrimento mental 
e social que podem apresentar pensamentos de suicídio que em último caso levar
ao comportamento suicida. 
Se algum desses sinais for identificado por um professor ou orientador escolar,
o grupo coordenador da escola deve ser alertado e medidas devem ser tomadas
para se obter uma avaliação abrangente do estudante, desde que ele indique
sofrimento severo em que o resultado, em alguns casos, pode ser o
comportamento suicida.

COMO SE DEVE MANEJAR OS ESTUDANTES SOB RISCO DE SUICÍDIO?
Fortificando a auto-estima dos estudantes
Ter auto-estima positiva protege crianças e adolescentes contra problemas mentais e desesperança, e faz com que eles consigam lidar adequadamente com dificuldades e situações de vida estressantes.

Para promover uma auto-estima positiva em crianças e adolescentes uma variedade de técnicas pose ser usada. Algumas abordagens recomendadas estão listadas abaixo:

• Experiências de vida positivas que irão ajudar a criar uma identificação positiva nos jovens devem ser acentuadas. Experiências passadas positivas aumentam as chances de um futuro mais autoconfiante nos jovens.

• As crianças e os adolescentes não devem ser constantemente pressionados para fazerem mais, ou melhor.

• Não é suficiente que os adultos digam que amam as crianças; elas precisam se sentir amadas. 

Para atingir uma elevada auto-estima, os adolescentes precisam estabelecer uma independência definitiva da família e colegas; capacidade de se relacionar com o sexo oposto; se preparar para uma ocupação que lhe sustente; e estabelecer uma filosofia de vida significativa e praticável.

  • Promovendo expressão emocional 
As crianças e os adolescentes devem ser ensinados a levarem seus próprios sentimentos seriamente e serem encorajados a confiar em seus pais e outros adultos, como professores, médicos e enfermeiros da escola, amigos, treinadores esportivos, e orientadores religiosos. 

  • Prevenindo comportamento desafiador e a violência escolar 

Meios específicos devem estar à disposição no sistema educacional para prevenir o comportamento desafiador e a violência dentro e ao redor da escola, com a finalidade de se criar um ambiente seguro e sem intolerância. 

  • Provendo informação sobre serviços de saúde 
A disponibilidade de serviços específicos deve ser assegurada através de ampla publicação de números de telefone para, por exemplo, linhas de ajuda para situações de crise e emergências.

  • Encaminhar para profissionais 

Uma imediata, autoritária e decisiva intervenção, por ex. levar o jovem suicida ao clinico geral, ao psiquiatra infantil ou à emergência de um hospital, pode salvar uma vida.

Material na íntegra em:



8 coisas minúsculas que impediram suicídios

"Infelizmente, todos os dias acontecem várias tentativas de suicídios no mundo. Quando a gente ouve falar em algumas delas, ou o desfecho é trágico, ou algum herói apareceu para salvar o dia, como um bombeiro.
A verdade, no entanto, é que nem sempre um herói precisa entrar em cena. Coisas muito menores e mais simples já levaram o crédito por impedir esse ato de desespero conta a própria vida. Por exemplo:

Um beijo

Um menino chinês de 16 anos de idade estava vivendo uma época terrível. Sua mãe havia diso morta e ele estava convencido de que sua madrasta o odiava, provavelmente porque ela roubou todo o dinheiro do seu pai e deixou os dois sem-teto e lutando para permanecerem vivos.
Então ele decidiu pular de uma ponte. A polícia veio, e centenas de curiosos se reuniram para assistir o show e não tentar ajudar.
Em seguida, Liu Wenxiu, uma garçonete de 19 anos de idade que estava passando por lá, pensou: “Hum, que belo dia para salvar uma vida!”. Passando pelos policiais com uma história de que era namorada do menino, conseguiu conversar com ele, ouvir sua história e, em seguida, mostrou-lhe seu pulso direito cicatrizado, o que chamou sua atenção.
Liu contou a ele que também passou por um período igualmente de merda, e que havia feito suas próprias tentativas de suicídio. Sabendo qual é a kriptonita de cada menino de 16 anos de idade, ela deu-lhe um abraço e beijou-o. Nesse momento, ele estava mais do que disposto a deixar os policiais tirarem a faca que estava empunhando e transportá-lo em segurança.
Mais tarde, eles trocaram números de telefone e ela prometeu ligar para saber como ele estava indo.

Um filhote de cachorro
O veterano da Força Aérea norte-americana, David Sharpe, estava sofrendo de problemas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e raiva muito graves. Ele estava provocando brigas, se automedicando com doses extrapoladas de álcool e perfurando buracos em paredes. Qualquer um que tentasse ajudá-lo era devidamente afastado.
Um dia, ele bateu no fundo do poço. Colocou uma arma em sua boca, fechou os olhos e estava pronto para puxar o gatilho quando um filhote de cachorro lambeu sua orelha.
Ele abriu os olhos e descobriu Cheyenne, a cadela que ele havia adotado há alguns meses, olhando para ele com a cabeça inclinada para um lado. Certamente, é muito difícil de ir adiante com a ação de matar a si mesmo quando um filhote de cachorro está olhando para você.
“Quem vai cuidar de mim?”, Sharpe imaginou o bichinho dizendo a ele, mesmo que ela provavelmente estivesse dizendo “Eu estou com fome” ou sei lá. Fato é que imaginar a voz da filhote Cheyenne pesou na hora, e Sharpe colocou a arma para longe.
Mais tarde, ele descobriu que poderia falar com a cadelinha sobre tudo o que tinha acontecido com ele, sem esconder o jogo, se sentir na defensiva ou se preocupar em ser julgado. "

Matéria completa aqui: http://hypescience.com/suicidios/


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

"Eu colhi os frutos amargos da minha própria recusa a tomar lítio com regularidade. Uma mania rematadamente psicótica foi acompanhada, de modo inevitável, por uma depressão suicida, profunda, prolongada e dilacerante. Ela durou mais de um ano e meio. Desde a hora em que acordava de manhã até a hora em que ia dormir à noite, eu sentia uma angústia insuportável e parecia incapaz de qualquer tipo de alegria ou entusiasmo. Tudo - cada pensamento, palavra, movimento - era um esforço. A mim mesma eu parecia sem graça, entediante, incompetente, embotada, obtusa, indiferente, fria, sem vida e sem cor. [...] (p. 131)

Qual é o sentido de seguir em frente assim? Eu me perguntava. Outros me diziam que era só temporário; que passaria; que eu superaria a fase, mas é claro que eles não faziam a menor ideia de como eu me sentia, embora eles próprios tivessem certeza de que sabiam. Foram inúmeras vezes em que me perguntei, se eu não posso sentir, se não posso me mexer, se não posso pensar e se não consigo me importar, então qual era o sentido concebível de continuar vivendo. (p. 132)

Meu psiquiatra tentou repetidamente me convencer a me internar num hospital psiquiátrico, mas eu me recusei. Tinha pavor da ideia de ser trancafiada; de me afastar de ambientes familiares; de ter de frequentar reuniões de terapia de grupo. [...] 
Naquela época, nada parecia surtir efeito, apesar do excelente atendimento médico, e eu simplesmente queria morrer e acabar com aquilo. Resolvi me matar. Estava com a determinação implacável de não dar nenhuma indicação dos meus planos ou do meu estado de espírito. Tive sucesso. A única anotação feita pelo meu psiquiatra no dia anterior à minha tentativa de suicídio foi a seguinte: Seriamente deprimida. Muito calada.

[...] Minha vida está em ruínas e - o que é pior - está espalhando a ruína. Meu corpo está inabitável. Ele está enraivecido, choroso, cheio de destruição e energia louca e descontrolada. No espelho vejo uma criatura que não conheço mas com quem devo viver e dividir minha mente.
Compreendo por que Jekyll se matou antes que Hyde o dominasse completamente [personagens de O médico e o monstro]. Tomei uma dose cavalar de lítio sem nenhum remorso. 

[...] Quando o telefone tocou, eu devo ter pensado instintivamente em atender. Por isso, fui engatinhando, meio entorpecida, até o telefone na sala de estar. Minha voz arrastada alertou meu irmão, que estava ligando de Paris para saber como eu estava indo. Ele imediatamente telefonou para meu psiquiatra. (p. 137-138)

O que devo ao meu psiquiatra não é passível de descrição. Lembro-me de me sentar no seu consultório centenas de vezes durante aqueles meses sinistros, pensando a cada vez no que ele poderia me dizer que faria com que eu me sentisse melhor ou com que eu me mantivesse viva. Bem, nunca houve nada que ele pudesse dizer; isso é que é engraçado. Foram todas as expressões idiotas, desesperadamente otimistas, condescendentes que ele não disse que me mantiveram viva; toda a compaixão e carinho que eu sentia nele e que não poderiam ter sido postos em palavras; toda a inteligência, competência e tempo que ele dedicou no meu atendimento; e sua fé inabalável em que a minha vida valia a pena ser vivida. Ele era terrivelmente franco, o que era de enorme importância, e se dispunha a admitir os limites da sua compreensão e dos tratamentos, bem como reconhecer quando estava errado. O que é mais difícil de expressar mas que, sob muitos aspectos, é a essência de tudo: ele me ensinou que a estrada de volta do suicídio para a vida é fria e cada vez fica mais fria, mas que - com um esforço inflexível, com a graça de Deus e uma inevitável mudança no tempo - eu conseguiria percorrê-la. (p. 141)    
  
- Kay Redfield Jamison em "Uma mente inquieta"  


domingo, 15 de novembro de 2015

Sobreviventes

"Se todos que perdem alguém para o suicídio passam por situações e fases de luto parecidas, então o que pode ser feito para que a dor seja minimizada?
A Associação Americana de Suicidologia disponibiliza uma espécie de manual direcionado aos sobreviventes.

Evite pensar:
"Isso aconteceu por minha culpa (ou do médico, amigo ...)
A verdade:
A única pessoa responsável pela própria morte é o suicida. 

Evite pensar:
"Se eu tivesse conseguido evitar, ele (a) estaria bem".
A verdade:
Não há como saber o que aconteceria. Muitas pessoas tentam diversas vezes até conseguir, mesmo quando estão sob cuidados médicos.

Evite pensar:
"Quem se mata é uma pessoa má, egoísta..."
A verdade:
Ele (a) poderia estar sofrendo de algum transtorno mental. 
Evite esse tipo de julgamento.


Evite pensar:
"Eu devia ter visto que isso estava por acontecer"
A verdade:
Você não pode prever o futuro e fez o melhor que pôde 
com o conhecimento que tinha.

Evite pensar:
"Eu deveria tê-lo (a) salvado"
A verdade:
Você é humano e não pode controlar tudo que acontece à sua volta.

Evite pensar:
"Eu nunca serei feliz novamente"
A verdade:
A perda mudará sua vida para sempre, mas ela continuará".


In: Suicídio: o futuro interrompido - Guia para sobreviventes, de Paula Fontenelle.
(P. 162) 


quarta-feira, 11 de novembro de 2015


Suicídio e dependência química

"Para alguns estudiosos, o uso de drogas pode ser uma atitude autodestrutiva em si, ou, no mínimo, um fator que precipita tais comportamentos. Em As diversas faces do suicídio, Norman Farberow afirma que o sentimento de desesperança é um resultado da dependência.  
Há pelo menos quatro grupos que são mais suscetíveis ao vício: a) aquele que procura por emoções desenfreadas, geralmente nos esportes; b) os que têm transtornos de personalidade; c) jovens rebeldes; e d) doentes que se viciam em remédios.

[...] Dr. Evaldo de Melo, especialista em tratamento de dependentes químicos, defende que o uso de droga é um tipo de suicídio, embora concorde que possa ser igualmente uma tentativa de evitar a própria morte e possa transformar-se justamente no inverso:

'É também uma maneira de se matar, porque o que a pessoa não suporta não é o sofrimento provocado pela dor e sim pelo vazio. A dor da falta, a angústia básica é essa falta insuportável. O Foucault dizia: 'se você tiver que escolher entre a dor e o nada, escolha a dor porque o nada é o nada'.
Quando estamos falando de um suicídio cada caso é um caso, cada motivação é diferente, mas ele surge como opção para aliviar um sofrimento que parece insuportável. Por outro lado, o suicida se pressupõe a uma coisa básica que está na essência do funcionamento animal que é o instinto de sobrevivência. Ele se propõe a acabar com esse elemento.
A procura da droga é para preencher o vazio, diminuir o sofrimento. Em minha experiência, esse é o princípio do dependente, sempre. Veja que problema: quando a droga é uma forma de acalmar a dor, alivia apenas em um momento, depois não mais. Mas ele se transforma num instrumento da realização do desejo do inconsciente de se matar. Essa é a grande contradição: a procura da droga é uma tentativa de sobrevivência, de preenchimento. Ao mesmo tempo, se torna um projeto de morte.' " (p. 82-83)

- In: Suicídio - o futuro interrompido (Paula Fontenelle)    

   

domingo, 8 de novembro de 2015

´Suicídio e Espiritualidade

No dia 29 de outubro, assisti à palestra "Prevenção ao Suicídio", ministrada pelo psiquiatra Flávio Braun, presidente da Associação Médico-Espírita de Santos. O evento fez parte da XVI Jornada de Saúde e Espiritualidade e aconteceu na Universidade Santa Cecília (UNISANTA).

Como pesquiso o tema, me interessa muito conhecer as diferentes compreensões sobre suicídio. Compartilho a seguir algumas ideias discutidas no encontro.

Além de apresentar dados estatísticos significativos que apontam a dimensão e a importância do tema, o Dr. Braun trouxe também alguns mitos sobre o suicídio, como a ideia de que não devemos falar sobre suicídio, pois isso aumenta o risco. 

Uma das primeiras frases apresentadas em relação à espiritualidade, destacada em vermelho, faz parte do seguinte texto:

"A calma e a resignação adquiridas na maneira de encarar a vida terrena, e a fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo da loucura e do suicídio. Com efeito, a maior parte dos casos de loucura são provocados pelas vicissitudes que o homem não tem forças de suportar. Se, portanto, graças à maneira por que o Espiritismo o faz encarar as coisas mundanas, ele recebe com indiferença, e até mesmo com alegria, os revezes e as decepções que em outras circunstâncias o levariam ao desespero, é evidente que essa força, que o eleva acima dos acontecimentos, preserva a sua razão dos abalos que o poderiam perturbar.

O mesmo se dá com o suicídio. Se excetuarmos os que se verificam por força da embriaguez e da loucura, e que podemos chamar de inconscientes, é certo que, sejam quais forem os motivos particulares, a causa geral é sempre o descontentamento. Ora, aquele que está certo de ser infeliz apenas um dia, e de se encontrar melhor nos dias seguintes, facilmente adquire paciência. Ele só se desespera se não ver um termo para os seus sofrimentos. E o que é a vida humana, em relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas aquele que não crê na eternidade, que pensa tudo acabar com a vida, que se deixa abater pelo desgosto e o infortúnio, só vê na morte o fim dos seus pesares. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar as suas misérias pelo suicídio.

A incredulidade, a simples dúvida quanto ao futuro, as idéias materialistas, em uma palavra, são os maiores incentivadores do suicídio: elas produzem a frouxidão moral. Quando vemos, pois, homens de ciência, que se apoiam na autoridade do seu saber, esforçarem-se para provar aos seus ouvintes ou aos seus leitores, que eles nada têm a esperar depois da morte, não o vemos tentando convencê-los de que, se são infelizes, o melhor que podem fazer é matar-se? Que poderiam dizer para afastá-los dessa ideia? Que compensação poderão oferecer-lhes? Que esperanças poderão propor-lhes? Nada além do nada! De onde é forçoso concluir que, se o nada é o único remédio heroico, a única perspectiva possível, mais vale atirar-se logo a ele, do que deixar para mais tarde, aumentando assim o sofrimento.

A propagação das idéias materialistas é, portanto, o veneno que inocula em muitos a ideia do suicídio, e os que se fazem seus apóstolos assumem uma terrível responsabilidade. Com o Espiritismo, a dúvida não sendo mais permitida, modifica-se a visão da vida. O crente sabe que a vida se prolonga indefinidamente para além do túmulo, mas em condições inteiramente novas. Daí a paciência e a resignação, que muito naturalmente afastam a ideia do suicídio. Daí, numa palavra, a coragem moral.

O Espiritismo tem ainda, a esse respeito, outro resultado igualmente positivo, e talvez mais decisivo. Ele nos mostra os próprios suicidas revelando a sua situação infeliz, e prova que ninguém pode violar impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem abreviar a sua vida. Entre os suicidas, o sofrimento temporário, em lugar do eterno, nem por isso é menos terrível, e sua natureza dá o que pensar a quem quer que seja tentado a deixar este mundo antes da ordem de Deus. O espírita tem, portanto, para opor à idéia do suicídio, muitas razões: a certeza de uma vida futura, na qual ele sabe que será tanto mais feliz quanto mais infeliz e mais resignado tiver sido na Terra; a certeza de que, abreviando sua vida, chega a um resultado inteiramente contrário ao que esperava; que foge de um mal para cair noutro ainda pior, mais demorado e mais terrível; que se engana ao pensar que, ao se matar, irá mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo à reunião, no outro mundo, com as pessoas de sua afeição, que lá espera encontrar. De tudo isso resulta que o suicídio, só lhe oferecendo decepções, é contrário aos seus próprios interesses. Por isso, o número de suicídios que o Espiritismo impede é considerável, e podemos concluir que, quando todos forem espíritas, não haverá mais suicídios conscientes. Comparando, pois, os resultados das doutrinas materialistas e espírita, sob o ponto de vista do suicídio, vemos que a lógica de uma conduz a ele, enquanto a lógica de outra o evita, o que é confirmado pela experiência." 

- Trecho do livro "O Evangelho segundo o Espiritismo" 

Dr. Braun comentou que vivemos em um mundo com muitos avanços tecnológicos, porém a ciência ainda não nos ensinou o segredo da felicidade.

Do ponto de vista espiritualista, a doença física e mental, o desespero que pode levar ao suicídio, tem relação com a obsessão. Para o Espiritismo, obsessores são pessoas desencarnadas que querem o mal daquele que está encarnado.

"Um dia, a OBSESSÃO será colocada entre as causas patológicas, como é hoje a ação de animais microscópicos, de cuja existência não se suspeitava antes da invenção do microscópio" - Revista Espírita  

Por que é importante, na opinião do palestrante, incluir a espiritualidade na avaliação e tratamento do paciente? Estudos mundiais comprovam a importância deste tema quando se pensa em atenção ao suicídio.

No Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, algumas questões abordam especificamente o suicídio. O Dr. Brau apresentou algumas (perguntas 943 a 957 do livro) e selecionei as seguintes (retirei do site http://www.olivrodosespiritoscomentado.com):

   Desgosto da vida. Suicídio

943. Donde nasce o desgosto da vida, que, sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos?

“Efeito da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade.
Para aquele que usa de suas faculdades com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto obra com o fito da felicidade mais sólida e mais durável que o espera.”


944. Tem o homem o direito de dispor da sua vida?

“Não; só a Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário importa numa transgressão desta lei.”

a) - Não é sempre voluntário o suicídio?

“O louco que se mata não sabe o que faz.”

946. E do suicídio cujo fim é fugir, aquele que o comete, às misérias e às decepções deste mundo?

“Pobres Espíritos, que não têm a coragem de suportar as misérias da existência! Deus ajuda aos que sofrem e não aos que carecem de energia e de coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações. Felizes os que as suportam sem se queixar, porque serão recompensados! Ai, porém, daqueles que esperam a salvação do que, na sua impiedade, chamam acaso, ou fortuna! O acaso, ou a fortuna, para me servir da linguagem deles, podem, com efeito, favorecê-los por um momento, mas para lhes fazer sentir mais tarde, cruelmente, a vacuidade dessas palavras.”

a) - Os que hajam conduzido o desgraçado a esse ato de desespero sofrerão as conseqüências de tal proceder?

“Oh! Esses, ai deles! Responderão como por um assassínio.”

948. É tão reprovável, como o que tem por causa o desespero, o suicídio daquele que procura escapar à vergonha de uma ação má?


“O suicídio não apaga a falta. Ao contrário, em vez de uma, haverá duas. Quando se teve a coragem de praticar o mal, é preciso ter-se a de lhe sofrer as conseqüências. Deus, que julga, pode, conforme a causa, abrandar os rigores de Sua justiça.”

949. Será desculpável o suicídio, quando tenha por fim obstar a que a vergonha caia sobre os filhos, ou sobre a família?

“O que assim procede não faz bem. Mas, como pensa que o faz, Deus lhe leva isso em conta, pois que é uma expiação que ele se impõe a si mesmo. A intenção lhe atenua a falta; entretanto, nem por isso deixa de haver falta. Demais; eliminai da vossa sociedade os abusos e os preconceitos e deixará de haver desses suicídios.”

950. Que pensar daquele que se mata, na esperança de chegar mais depressa a uma vida melhor?

“Outra loucura! Que faça o bem e mais cedo estará de lá chegar, pois, matando-se, retarda a sua entrada num mundo melhor e terá que pedir lhe seja permitido voltar, para concluir a vida a que pôs termo sob o influxo de uma idéia falsa. Uma falta, seja qual for, jamais abre a ninguém o santuário dos eleitos.”

952. Comete suicídio o homem que perece vítima de paixões que ele sabia lhe haviam de apressar o fim, porém a que já não podia resistir, por havê-las o hábito mudado em verdadeiras necessidades físicas?

“É um suicídio moral. Não percebeis que, nesse caso, o homem é duplamente culpado? Há nele então falta de coragem e bestialidade, acrescidas do esquecimento de Deus.”

a) - Será mais, ou menos, culpado do que o que tira a si mesmo a vida por desespero?

“É mais culpado, porque tem tempo de refletir sobre o seu suicídio. Naquele que o faz instantaneamente, há, muitas vezes, uma espécie de desvairamento, que alguma coisa tem da loucura. O outro será muito mais punido, por isso que as penas são proporcionadas sempre à consciência que o culpado tem das faltas que comete.”

953. Quando uma pessoa vê diante de si um fim inevitável e horrível, será culpada se abreviar de alguns instantes os seus sofrimentos, apressando voluntariamente sua morte?

“É sempre culpado aquele que não aguarda o termo que Deus lhe marcou para a existência. E quem poderá estar certo de que, mau grado às aparências, esse termo tenha chegado; de que um socorro inesperado não venha no último momento?”

a) - Concebe-se que, nas circunstâncias ordinárias, o suicídio seja condenável; mas, estamos figurando o caso em que a morte é inevitável e em que a vida só é encurtada de alguns instantes.

“É sempre uma falta de resignação e de submissão à vontade do Criador.”

955. Podem ser consideradas suicidas e sofrem as conseqüências de um suicídio as mulheres que, em certos países, se queimam voluntariamente sobre os corpos dos maridos?

“Obedecem a um preconceito e, muitas vezes, mais à força do que por vontade. Julgam cumprir um dever e esse não é o caráter do suicídio. Encontram desculpa na nulidade moral que as caracteriza, em a sua maioria, e na ignorância em que se acham. Esses usos bárbaros e estúpidos desaparecem com o advento da civilização.”

956. Alcançam o fim objetivado aqueles que, não podendo conformar-se com a perda de pessoas que lhes eram caras, se matam na esperança de ir juntar-se-lhes?

“Muito diverso do que esperam é o resultado que colhem. Em vez de se reunirem ao que era objeto de suas afeições, dele se afastam por longo tempo, pois não é possível que Deus recompense um ato de covardia e o insulto que Lhe fazem com o duvidarem da Sua providência. Pagarão esse instante de loucura com aflições maiores do que as que pensaram abreviar e não terão, para compensá-las, a satisfação que esperavam.” (934 e seguintes)

957. Quais, em geral, com relação ao estado do Espírito, as conseqüências do suicídio?

“Muito diversas são as conseqüências do suicídio. Não há penas determinadas e, em todos os casos, correspondem sempre às causas que o produziram. Há, porém, uma conseqüência a que o suicida não pode escapar; é o desapontamento. Mas, a sorte não é a mesma para todos; depende das circunstâncias. Alguns expiam a falta imediatamente, outros em nova existência, que será pior do que aquela cujo curso interromperam.”

Especialmente estas duas últimas respostas constituem-se, segundo o palestrante, em um importante fator de proteção ao suicídio, uma vez que a pessoa desilude-se da ideia de que ao morrer encontrará a paz e o fim do sofrimento, ou ainda, em outro caso, que reencontrará um ente querido que tenha falecido anteriormente.

A contribuição espírita, segundo o Dr. Braun, é no sentido de mostrar, para aquele que compartilha da mesma crença, que nunca se está fora da vida, ou seja, que não há como fugir do sofrimento. Para ele, esse é o paradigma fundamental para a prevenção do suicídio. 
A solução é que a pessoa lute para conquistar a paz dentro de sua existência atual, buscando sua saúde mental com a espiritualidade e uma reforma íntima. 

Para o Espiritismo:


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

"Embora a prevenção do suicídio seja bastante avançada nos Estados Unidos, onde o assunto é tratado como questão de saúde pública, mesmo naquele país há uma tendência em lidar com o suicida como um doente que precisa de diagnóstico e medicamento. Dr. Edwin Schneidman, responsável pela abertura do primeiro centro de prevenção ao suicídio nos Estados Unidos, em 1958, defende o oposto:

'Atualmente, o suicídio é identificado como um tipo de depressão, o que intelectualmente vem da Psiquiatria do século XIX. O Manual de Diagnóstico Estatístico, DSM-IV, o trata como se fosse um fígado ou rim. Eu acredito que existe uma enorme quantidade de dor psicológica no mundo sem suicídio, mas não há suicídio sem uma enorme dor psicológica.

O nome dessa dor é dor psíquica, ou seja, localizada na mente do indivíduo. É a dor da emoção negativa como vergonha e solidão. O suicídio é um estado de perturbação aguda, a pessoa está infeliz sobre o status quo e quer modificá-lo, portanto, o ato é um esforço no sentido de parar o fluxo da dor.

Minha abordagem clínica não é estabelecer um diagnóstico psiquiátrico, nem mesmo saber seu histórico familiar. Ambos são importantes, mas não são centrais. O foco é responder a duas perguntas: 'onde dói?' e 'como posso ajudá-lo?'. A maneira de prevenir o suicídio é identificar a fonte da dor, depois endereçá-la corretamente. O suicídio não é uma doença do cérebro, é uma perturbação da mente, uma tempestade psicológica".

In: Suicídio: o futuro interrompido - Guia para sobreviventes, de Paula Fontenelle.  


domingo, 1 de novembro de 2015

Suicídio: o futuro interrompido - Guia para sobreviventes

Contracapa:

"Neste livro extraordinariamente polêmico, a jornalista Paula Fontenelle conta como seu pai matou-se com um tiro; como ela própria pensou que teria o mesmo destino; e como, afinal, decidiu-se por outra alternativa: estudar por que as pessoas se matam, se é possível evitar o suicídio e o que se pode fazer para enfrentar a questão. Assim, enquanto conta sua própria história e revela dezenas de outras, todas comoventes e trágicas, ela levanta estatísticas, entrevista especialistas e, ao final, tenta responder à questão filosófica mais fundamental de existência: afinal, qual o sentido da vida? Reportagem vibrante e inesquecível, além de estudo profundo, este livro é também um guia fundamental para todos os que se interessam pelo assunto e para os que, por uma razão ou outra, precisam enfrentar essa difícil situação."

Trecho do livro:

"Diferentemente do que acontece em outros tipos de morte, após um suicídio, a tristeza demora um pouco mais para se fazer presente, ou, no mínimo, se mistura com uma série de outras emoções. É como se tivéssemos de resolver algumas questões internas antes, procurar respostas, tentar encontrar sentido no inimaginável e vivenciar a perda.
No meio disso tudo vêem as lágrimas. Você chora, pára, pensa, tem raiva, não aceita, se revolta, é consumida pela impotência, se culpa, culpa o morto e chora de novo. Por algum tempo, sua vida fica como se estivesse em compasso de espera, o corpo e a mente precisam encontrar o chão firme, mas você flutua em busca de respostas. O duro é que em grande parte elas nunca virão.
Depois que a poeira senta, a sensação que se tem é que a tristeza vem mais forte. É nesse momento que você precisa ficar muito atenta, porque a linha que separa o luto da depressão é tênue e cada um requer tratamento específico. O luto é natural, mas vai se atenuando com o tempo. Na depressão, não. O problema é que ela se mascara e nós temos a tendência de procurar justificativas para aquela angústia, a falta de ânimo para as coisas e o aperto no coração. Eu senti isso na pele." (p. 148)