"Para alguns estudiosos, o uso de drogas pode ser uma atitude autodestrutiva em si, ou, no mínimo, um fator que precipita tais comportamentos. Em As diversas faces do suicídio, Norman Farberow afirma que o sentimento de desesperança é um resultado da dependência.
Há pelo menos quatro grupos que são mais suscetíveis ao vício: a) aquele que procura por emoções desenfreadas, geralmente nos esportes; b) os que têm transtornos de personalidade; c) jovens rebeldes; e d) doentes que se viciam em remédios.
[...] Dr. Evaldo de Melo, especialista em tratamento de dependentes químicos, defende que o uso de droga é um tipo de suicídio, embora concorde que possa ser igualmente uma tentativa de evitar a própria morte e possa transformar-se justamente no inverso:
'É também uma maneira de se matar, porque o que a pessoa não suporta não é o sofrimento provocado pela dor e sim pelo vazio. A dor da falta, a angústia básica é essa falta insuportável. O Foucault dizia: 'se você tiver que escolher entre a dor e o nada, escolha a dor porque o nada é o nada'.
Quando estamos falando de um suicídio cada caso é um caso, cada motivação é diferente, mas ele surge como opção para aliviar um sofrimento que parece insuportável. Por outro lado, o suicida se pressupõe a uma coisa básica que está na essência do funcionamento animal que é o instinto de sobrevivência. Ele se propõe a acabar com esse elemento.
A procura da droga é para preencher o vazio, diminuir o sofrimento. Em minha experiência, esse é o princípio do dependente, sempre. Veja que problema: quando a droga é uma forma de acalmar a dor, alivia apenas em um momento, depois não mais. Mas ele se transforma num instrumento da realização do desejo do inconsciente de se matar. Essa é a grande contradição: a procura da droga é uma tentativa de sobrevivência, de preenchimento. Ao mesmo tempo, se torna um projeto de morte.' " (p. 82-83)
- In: Suicídio - o futuro interrompido (Paula Fontenelle)
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