A autora faz um interessante estudo. Ao visitar e fotografar locais que foram cenários de suicídios em locais públicos, entrevistando também aqueles que presenciaram o evento (espectadores), a pesquisadora procura compreender o suicídio como espetáculo.
“O suicídio público surge como uma transgressão ao interdito da morte na sociedade contemporânea, na medida em que lança elementos opostos a este padrão: o evento é público, indiscreto, visível, comandado pelo sujeito, determinado em dia/hora/forma pelo sujeito, escapa do aparato de controle da morte, enfim, é a própria negação da morte silenciosa da sociedade atual” (p. 51).
“[...] Renata veio pela rua de bicicleta, entrou pela portaria do prédio rapidamente, levando a bicicleta pela mão. Ela foi chamada pelo porteiro, mas não o atendeu e a seguir ela estacionou sua bicicleta próxima ao elevador de serviço. Depois ela pegou o elevador, desceu no oitavo andar, tirou os sapatos e se atirou do hall deste andar pela janela basculante do prédio” (p. 134).
“A suicida procurou um lugar calmo para se matar, com poucos espectadores na rua ou prédios vizinhos; porém, com sua estranha entrada em um prédio desconhecido marcou sua cena de forma implacável” (p. 135).
“[...] o suicida procurou uma praça pública bastante caótica e descuidada como local do suicídio, e se matou exatamente no local onde o lixo da praça era acumulado. [...] Nas cenas identifica-se um duplo abandono da vida: no próprio suicídio, ato que renuncia à sobrevivência, e na forma simbólica deste ato, forma que despreza o respeito básico ao corpo. Uma representação enfática do desprezo pelo corpo e pela vida, pois ambos ficam igualados ao lixo produzido pelos outros”. (p. 174).
MARQUETTI, Fernanda Cristina. O suicídio como espetáculo na metrópole. São Paulo: Fap-Unifesp, 2011.
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