quarta-feira, 8 de julho de 2015

Suicídio – fragmentos de psicoterapia existencial________________Waldemar Augusto Angerami-Camon


“A pessoa que recorre ao suicídio na maioria das vezes em sua busca não tem o conceito de morte que implica o desaparecimento real e fatídico. Em suas atitudes busca muito mais um possível paraíso, a reencarnação, o crime, o castigo, a fusão com o todo. Torna-se muito difícil a asserção de que a pessoa ao buscar o suicídio busca a morte. E embora tal colocação pareça revestir-se inclusive de erro semântico, percebemos que a busca do suicídio é muito mais uma tentativa de se resolver determinados conflitos bem como o emaranhado de sofrimentos em que a existência muitas vezes se encontra. A morte surge como sequência e não busca deliberada. Ouvimos inúmeros relatos de pacientes que manifestaram que aquilo que menos desejavam era morrer, mas o suicídio era, por outro lado, a única alternativa cabível em suas vidas” (p. 24).

 “[...] levantei da sala e fui andar pelo jardim, onde os que recebiam visitas conversavam com os parentes e amigos que tinham vindo trazer um pouco de vida ... [...] fui até o lugar onde eram guardados os materiais de limpeza e num impulso só tomei desinfetante ... por que tomei desinfetante? Para limpar a minha alma corroída pela podridão humana ... e o pior de tudo, doutor, é que quando sair do hospital voltarei para o asilo ...” (p. 100).   

   “[...] A falta de sentido e de perspectiva de vida mostra, de maneira crua, a realidade desta vida. ‘Estava jogada num asilo de velhos, como uma tralha velha que não presta pra mais nada’. A paciente sente sua vida não mais como algo humano, mas como coisa, coisificando assim o que restava de humano nesta existência. [...] Eulália resolve colocar fim à vida num domingo. E sua decisão ocorre com o relógio marcando três horas da tarde. Quando ‘já haviam passado duas horas do início do horário de visita e ninguém pra me avisar que tinha vida’”(p. 109).

ANGERAMI-CAMON, Waldemar Augusto. Suicídio – fragmentos de psicoterapia existencial. São Paulo, Pioneira: 1997.




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