Elena é um documentário brasileiro de 2012, dirigido por Petra Costa. É um documentário baseado na vida da atriz Elena Andrade, irmã mais velha de Petra. Foi premiado em diversos festivais e aclamado pela crítica, considerado uma experiência única no cinema contemporâneo, por extrair de um tema difícil - o suicídio da irmã da diretora Petra Costa - sua força poética e cinematográfica.
Sinopse: Elena viaja para Nova York com o mesmo sonho da mãe: ser atriz de cinema. Deixa para trás uma infância passada na clandestinidade dos anos de ditadura militar e deixa Petra, a irmã de 7 anos. Duas décadas mais tarde, Petra também se torna atriz e embarca para Nova York em busca de Elena. Tem apenas pistas: filmes caseiros, recortes de jornal, diários e cartas. A todo momento Petra espera encontrar Elena caminhando pelas ruas com uma blusa de seda. Pega o trem que Elena pegou, bate na porta de seus amigos, percorre seus caminhos e acaba descobrindo Elena em um lugar inesperado. Aos poucos, os traços das duas irmãs se confundem, já não se sabe quem é uma, quem é a outra. A mãe pressente. Petra decifra. Agora que finalmente encontrou Elena, Petra precisa deixá-la partir.
Trechos de uma entrevista com Petra Costa, publicada pela revista Cláudia em abril de 2013:
“A cineasta Petra Costa tinha só 7 anos quando a irmã, Elena, se matou. Aos 26, decidiu fazer um filme para não deixá-la no ‘mundo dos esquecidos’.
“Elena sempre quis ser atriz e decidiu se mudar para os Estados Unidos para realizar esse sonho. Poucos meses depois, eu e nossa mãe fomos morar lá também. Elena estava triste e frustrada porque suas expectativas de trabalho não estavam se concretizando. Quando chegamos, percebi sua dor, embora não entendesse bem o que acontecia. [...] Uma prima me buscou na escola e acabei dormindo na casa dela. De manhã, quando voltei para nosso apartamento, vi o olhar de choque no rosto da minha mãe. Notei logo que alguém tinha morrido. Perguntei quem era, e ela respondeu: Elena. Só consegui dizer: “It hurts my feelings’ (‘isso me machuca demais’, em uma tradução livre). Ninguém nunca escondeu de mim que ela havia se suicidado (com a ingestão de álcool e comprimidos).
Voltamos para o Brasil – e eu, que até então era uma criança desinibida, fiquei tímida por causa da tristeza. Fui fazer terapia, mas me lembro que muitos adultos me diziam para não demonstrar minha dor. Falavam que minha mãe já estava mal com tudo o que tinha acontecido e que eu não deveria preocupá-la com meu sofrimento. [...]
Na adolescência, comecei a fazer aulas de teatro, o que ajudou a soltar minha tristeza. Fiquei menos tímida. À medida que eu crescia, as pessoas viviam dizendo quanto estava ficando parecida com Elena. No fundo, eu também tinha medo de que meu destino fosse o mesmo que o de minha irmã. [...]
Aos 26 anos, sonhei com Elena. Ela estava sobre um muro, enroscada em uma cerca elétrica e tentava tomar choques. Só que quem morria com eles era eu. Quando acordei, decidi que faria um filme sobre ela. Tinha que tirar Elena do mundo dos esquecidos. Comecei a ler seus diários, ver seus vídeos e ouvir as gravações que tinha feito em fita cassete. Entrevistei umas 50 pessoas que conviveram com ela. Eu me entreguei completamente a esse trabalho, que teve momentos difíceis. Com ele, conheci Elena intimamente: seu tom de voz, sua maneira de falar ... Tive raiva dela em certas ocasiões também. [...]
Agora, com o projeto terminado, Elena não é mais um nó nas minhas lembranças. Quando penso nela hoje, consigo vê-la com clareza. O processo serviu para que eu elaborasse e aceitasse melhor a dor por sua morte. Mas ainda é uma memória inconsolável. Já fiz exibições em vários países e nunca assisti ao filme depois de pronto. Outro ponto que considero positivo é que quem assiste Elena se sente instado a falar de suas lembranças, a enfrentar as próprias memórias inconsoláveis.”
Entrevista publicada na Revista Cláudia de abril de 2013.
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