O Demônio do Meio-Dia – Uma anatomia da Depressão
Andrew Solomon
O autor, jornalista, escreveu esse livro a partir de sua própria experiência com a depressão. Entre os capítulos, um trata especificamente do suicídio.
“Muitos depressivos nunca se tornam suicidas. Muitos suicídios são cometidos por pessoas que não são depressivas. [...] A tendência ao suicídio é um dos nove sintomas do episódio depressivo catalogado no DSM-IV, mas muitos depressivos são tão propensos a acabar com sua vida quanto pessoas com uma artrite medonha: a capacidade humana de suportar a dor é absurdamente forte” (p. 232).
“Não existe nenhuma relação forte entre a gravidade da depressão e a probabilidade do suicídio: alguns suicídios parecem ocorrer durante disfunções severas, embora algumas pessoas em situações desesperadas apeguem-se à vida. Algumas pessoas oriundas de regiões mais deterioradas das grandes cidades, que perderam todos os filhos para a violência das gangues, que estão aleijados fisicamente, com inanição, que jamais conheceram um minuto de amor de qualquer espécie, mesmo assim agarram-se à vida com cada tiquinho de energia. Outros, com infinitas promessas brilhantes em suas vidas, cometem suicídio. O suicídio não é a culminância de uma vida difícil; nasce de algum lugar escondido além da mente e da consciência” (p. 233).
“Na depressão, muitos querem morrer, fazer uma passagem concreta do estado em que se encontram para se libertar das aflições da consciência. Querer se matar, contudo, requer um nível extra de paixão e uma certa violência direcionada. O suicídio não é o resultado da passividade; é o resultado de uma ação. Requer uma grande quantidade de energia e uma vontade forte, além de uma crença na permanência do estado atual e pelo menos um toque de impulsividade” (p. 233)
“O suicídio é notoriamente uma solução duradoura para um problema com frequência temporário. O direito ao suicídio devia ser uma liberdade civil básica; ninguém deve ser forçado a viver contra sua vontade. Por outro lado, a tendência ao suicídio é muitas vezes temporária, e legiões de pessoas ficam contentes por terem sido salvas de tentativas de suicídio ou impedidas de realizá-las. Se algum dia eu tentasse o suicídio, gostaria que alguém me salvasse, a não ser que tivesse chegado a um ponto no qual acreditasse nitidamente que a quantidade de alegrias que me sobraram não pudesse ser maior que a de sofrimento ou dor” (p. 236).
SOLOMON, Andrew. O demônio do meio-dia: uma anatomia da depressão. 2ª Edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário