A autora, que é psicóloga e socióloga, traz um histórico sobre o tema e analisa, sob a perspectiva psicanalítica, bilhetes, cartas e fitas de áudio deixados por suicidas. O objetivo seria “investigar que intencionalidade carrega o discurso suicida (apreendido através das mensagens de adeus) e como ele pode ser compreendido no universo relacional do sujeito” (p. 83).
“O suicídio representado no imaginário simbólico do suicida não tem a ver com a ideia de morte como um fim, como extinção da vida, como término da existência. [...] Paradoxalmente, para o indivíduo suicida, a morte representa uma passagem, uma entrada para um outro estado também vivo, certamente mais prazeroso que este aqui” (p. 87).
“[...] ‘Talvez um dia a gente se veja de novo. [...] Até algum dia. Me perdoem’.
[...] ‘e se eu puder de onde estiver ajudo vocês. [...] Tchau um dia nós nos encontraremos lá em cima.”
[...] ‘Olha, se querem realmente, que eu me sinta feliz seja onde eu estiver, eu sei que estarei bem, tá?’
– Trechos de mensagens de suicidas
Para onde vão estas pessoas? Observa-se o tempo todo, nestas falas, um desejo intenso de perpetuação, de seguir para algo que é vivido mais como uma etapa da vida, do que como a sua extinção. Isso não quer dizer que o indivíduo deseje viver: ele realmente aspira partir para um outro tipo de existência. A finitude humana é substituída por uma noção de entrada para a eternidade desejada na vida, e a vivência do sujeito suicida parece coincidir com a transposição de uma porta para um outro estado também vivo [...]” (p. 88-89).
“É frequente, então, esta ideia de que na morte todos podem passar a saber o que se passava no mundo interno do sujeito e, aí, ele passa a ser conhecido e partilhado. O suicida foge do confronto emocional cara a cara:
‘Creiam todos que eu os amei muito. Creiam ainda que amei inesquecivelmente, por quem chorei e choro diversas vezes sozinho e em silêncio ...’
‘Conheço bem minhas razões. Solidão [...]’
O suicida, no ato de sua morte, está liberado para falar, revelar segredos, expressar sentimentos com intensidade, etc. Pode-se, então, concluir que todo suicídio é uma maneira de comunicação com os outros que se dá através da morte do sujeito. A morte para estas pessoas significa o canal possível de contato, uma expressão drástica de emoções” (p. 135-136).
DIAS, Maria Luiza. Suicídio: Testemunhas de Adeus. São Paulo: Brasiliense, 1991.
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