“No suicídio parcial o indivíduo mata uma parte de si mesmo. Pode ser consciente – por exemplo, as automutilações – mas, geralmente, é inconsciente: as doenças, o não funcionamento ou o mau funcionamento de órgãos são suicídios parciais. A frigidez e a impotência sexual são exemplos claros em que uma parte do indivíduo está como que morta. Mas, sempre o que se mata é a satisfação, o prazer, a vida que provêm desses órgãos. Outras vezes, o suicídio parcial se manifesta através do prejuízo de funções mentais (sem repercussão orgânica clara), a pessoa não podendo aproveitar suas potencialidades emocionais: de amar, de trabalhar, de ser criativa. Quase sempre, o indivíduo não tem consciência de que suas potencialidades podem ir além do que ele se permite usar, de que parte delas está ‘suicididada’, ‘bloqueada’, devido a conflitos emocionais” (p. 13).
“Mas é muito difícil exterminar a vida (e até o indivíduo suicida sabe como é difícil matar-se): existe sempre a vida em potencial e possibilidades de um renascimento, às vezes até das cinzas. E, muitas vezes essa vida, quanto mais inibida e restringida o foi em seu desenvolvimento, emerge com mais força e vitalidade” (p. 17).
“ [...] existe uma independência entre o desejo de morrer e o de matar-se. A pessoa que se mata não quer necessariamente morrer (pois nem sabe o que seja isso). A pessoa se mata porque deseja outra forma de vida, fantasiada, na terra ou em outro mundo, mas na verdade, essa outra forma de vida está em sua mente. Nessa outra vida ela encontra amor ou proteção, se vinga dos inimigos, se pune por seus pecados, ou reencontra pessoas queridas” (p. 29).
“O médico, a equipe de saúde foram treinados para salvar vidas, para enfrentar a morte, numa delegação da sociedade. Dessa forma, frente a alguém que o procura tentando preservar a vida, existe concordância de expectativas: ambos querem combater a morte. No entanto, quando o paciente tentou matar-se, destroem-se ou confundem-se, na equipe de saúde, as premissas de seu treinamento. Agora ela terá de lidar com pessoas que estão (geralmente, em parte) do lado da morte, e que às vezes veem o profissional como um inimigo” (p. 37-38).
“O direito ao suicídio. É uma questão antiga em que se têm digladiado muitas escolas filosófica. Sou da opinião de que na grande maioria das vezes o indivíduo, o que acredita estar efetuando o ato por seu livre-arbítrio, está enganado. Quase sempre, essa pessoa está sob a influência de conflitos inconscientes, que descobertos, fazem com que ele encontre outras saídas” (p. 97).
CASSORLA, Roosevelt M. S. O que é suicídio. 2ª. edição. São Paulo: Brasiliense, 1986.
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