quarta-feira, 10 de junho de 2015


"Ora, é óbvio para qualquer psicoterapeuta que, em muitas situações, é aconselhável tentar modificar o humor do paciente quimicamente. Por exemplo, um paciente deprimido a ponto de não sair da cama e não abrir a boca também não terá a mínima motivação necessária para operar algumas mudanças em sua vida, com ou sem a ajuda de um terapeuta. Uma correção química do nível de serotonina poderá, com um pouco de sorte, permitir que ele encontre as forças para se mexer.


Mas ninguém, com a exceção talvez dos acionistas das companhias farmacêuticas, sonha com um mundo em que as causas de nossos afetos seriam sistematicamente negligenciadas e nossos humores pacificados com uma contínua intervenção química capaz de impor ao cérebro um equilíbrio ideal.

Todos sabemos que, por mais que eu tome a pílula mágica na hora da morte de meu amigo, algum dia terei de enfrentar a dor de um luto. A não ser que decida viver para o resto de minha vida sob anestesia.(p. 129-130)"


CALLIGARIS, Contardo. “Cartas a um jovem terapeuta”. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.



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