domingo, 24 de janeiro de 2016

Taxa de suicídios é maior nas regiões mais ricas de São Paulo



Pesquisa da USP revela que a ocorrência é mais comum entre solteiros, migrantes e pertencentes a estratos econômicos extremos – nesse caso moradores de distritos de maior renda. O suicídio é considerado problema de saúde pública

por Cida de Oliveira, da Rede Brasil Atual publicado 24/03/2010 

São Paulo - Alto de Pinheiros, Morumbi, Itaim Bibi, Jardim Paulista, Moema, Pinheiros, Perdizes, Vila Mariana, Consolação, Bela Vista, Barra Funda, Bom Retiro, Cambuci, Liberdade, Brás, República, Santa Cecília e Sé. É nesses bairros localizados nas regiões central, centro-sul e centro-oeste da capital paulista, que concentram a população de maior renda, que estão as maiores taxas de suicídio da cidade: 6,3 ocorrências para 100 mil habitantes. O dado é do pesquisador Daniel Hideki Bando, que estudou o tema para seu mestrado em geografia pela Universidade de São Paulo.
Já nos distritos de Campo Grande, Campo Limpo, Capão Redondo, Cidade Ademar, Cidade Dutra, Grajaú, Jardim Ângela, Jardim São Luís, Santo Amaro, Socorro, Pedreira, Raposo Tavares, Vila Andrade e Vila Sônia, na zona sul, é de 3,3 casos para 100 mil habitantes.
Esta é a primeira vez que as taxas de suicídio foram mapeadas na cidade e, segundo o autor, não há estudos recentes sobre os fatores de risco. "O objetivo da minha pesquisa  foi identificar as áreas de risco, por distrito administrativo, e estimar os principais fatores associados para embasar políticas públicas principalmente de prevenção", explica Bando. Embora ele não tenha pesquisado os meios, sabe que o enforcamento é o mais comum.
O estudo, feito a partir de dados da Prefeitura de São Paulo e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrados no período de 1995 a 2006, levou em consideração também um trabalho do sociólogo Émile Durkheim (1858-1917). Os fatores de risco ao suicídio encontrados na capital paulista são semelhantes aos achados pelo francês no final do século 19.
Do estudo de Durkheim, Bando aproveitou sua teoria sobre integração social para explicar os fatores de risco encontrados: "Uma das idéias da teoria diz que o suicídio varia na razão inversa do grau de integração dos grupos sociais dos quais a pessoa faz parte", explica o pesquisador da USP.
Segundo ele, alguns fatores encontrados se encaixam nessa explicação, como a situação da pessoa solteira, que está mais suscetível por não estar integrada a uma família, por exemplo.
A pesquisa também associou altas taxas às migrações e à religião, no caso o catolicismo. Contudo, a identificação dos católicos diverge de um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), que aponta o protestantismo como fator de risco ao suicídio. "A explicação se adapta à peculiaridade de São Paulo. No nosso caso, se observa que os evangélicos estão mais unidos entre eles", ressalva Bando.
Sua orientadora, a professora Ligia Vizeu Barrozo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, completa que esse aspecto dos protestantes funciona como uma "ajuda social" contra o suicídio. "Já os católicos são mais dispersos, o que os coloca, de acordo com a tese de Durkheim, numa categoria de risco", explica.
O suicídio é considerado problema de saúde pública. Segundo a OMS, cerca de 900 mil pessoas se suicidaram em todo o mundo, em 2003. É mais comum entre os 15 e 35 anos e está entre as três maiores causas de morte. A tentativa de tirar a própria vida, entre os 15 e 44 anos é o sexto motivo que leva à incapacitação.
O Brasil tem taxas anuais de 3,9 a 4,5 suicídios para cada 100 mil habitantes. Como o país é populoso, está entre os dez países com maior número absoluto de casos.
Estudos em diversas partes do mundo demonstram que, na quase totalidade, os suicidas tinham algum transtorno mental.

Uma compilação de 15.629 casos, realizada pela OMS, mostrou que em 35,8% havia transtorno de humor, como depressão; 22,4% enfrentavam transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas, como álcool; 11,6% apresentavam transtornos de personalidade, como narcisismo e borderline – a precária fronteira entre a lucidez e a loucura; 10,6%, de esquizofrenia; 6,11%, transtornos de ansiedade; 3,6%, transtornos de adaptação; 1% problemas mentais orgânicos; 0,3%, outros transtornos psicóticos; e 3,2%, sem diagnóstico.
Outros fatores de risco, segundo a OMS, incluem sexo masculino, idades entre 15 e 35 anos e acima dos 75 anos, estratos econômicos extremos, áreas urbanas, desemprego, aposentadoria, isolamento social, solteirice ou separação, migrações, perdas recentes, dinâmica familiar conturbada, doenças orgânicas incapacitantes, dor crônica, lesões desfigurantes, epilepsia, traumas medulares, câncer e aids.
O comportamento suicida é caracterizado pela retração, inabilidade para se relacionar com a família e amigos, pouca rede social e doença psiquiátrica. Pesquisas mostram que 40% dos suicidas procuram os serviços de saúde dias ou semanas antes de tirar a própria vida; chegam a esses locais sem especificar que doenças estão sofrendo, como se fosse um último pedido de socorro.
Por isso, desde 2006, o Ministério da Saúde vem implementando medidas, como a estratégia nacional de prevenção e suas diretrizes para capacitar profissionais de saúde para a abordagem correta da pessoa em risco.





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