domingo, 21 de outubro de 2018

O suicídio é um acontecimento doloroso e complexo e, parece, que a única maneira de realmente entender por que alguém quer tirar a sua própria vida é ser também suicida ou passar pela experiência de vivenciar pensamentos suicidas.

Infelizmente, quem tentou se matar, mas sobreviveu, passa também a ser vítima de um forte, e inaceitável, preconceito: "Como você pode ser tão egoísta!" "Como pôde fazer isso conosco?" “Foi só para chamar a atenção”. “Só pode ser louco para ter feito isso”. “Criatura sem Deus no coração!”. Entretanto, se as pessoas pudessem entender genuinamente o que acontece na cabeça de alguém que tenta o suicídio, os julgamentos não viriam tão rapidamente. A crítica poderia diminuir. E, ao promover a verdadeira compreensão e empatia, poderíamos tomar medidas mais acertadas para ajudar os que ainda estão lutando.

Por isso, perguntamos aos sobreviventes de tentativas de suicídio o que eles gostariam que os outros entendessem sobre suas experiências. Suas respostas são sinceras e difíceis de ler, mas são importantes. Aqui está o que eles têm a dizer:

1. “Na mente da pessoa que pensa em se matar o que acontece é completamente oposto de uma decisão egoísta. Naquele momento, nós realmente sentimos que o mundo seria um lugar melhor sem a gente. É interessante que, por um lado, eu me sinta feliz por algumas pessoas não entenderem isso, porque significa que elas nunca sentiram ou experimentaram esses sentimentos apavorantes, mas, por outro lado não deveriam ser tão rápidas em julgar. ”- Jen D.

2. “Para mim, é menos sobre a morte e mais sobre acabar com a dor. É difícil explicar como a morte faria você se sentir mais vivo do que nunca. Eu não estava fugindo dos meus problemas. Eu estava desesperadamente procurando uma maneira de superá-los, agora sei que equivocadamente, pela morte. ”- Kacie S.

3. “Nunca dê as costas para os seus pensamentos mais profundos e medonhos. Em dias de depressão, eles virão te visitar. Pode aguardar. Eles têm seus próprios olhos, ouvidos e voz. Eles tentarão te seduzir. Você tem que ser forte o suficiente para reconhecer que [em alguns casos], esses pensamentos estarão contigo por toda a vida. Não deixe que eles cumpram sua missão perversa de te destruir. ”- Andrew G.

4. “Não foi realmente sobre querer morrer. Era sobre escapar de uma dor insuportável quando eu não conseguia ver nenhuma outra opção. E eu estava convencido de que todos ficariam mais felizes se eu fosse embora, que eu estava fazendo um favor a eles. Eu não embarco mais em pensamentos de culpa tipo "pense no mal que você está fazendo para seus entes queridos". Eu sou muito grato por ainda estar vivo hoje. A dor se desvaneceu. Eu encontrei outras opções. E eu quero ficar por aqui, para ver como esta minha vida vai se desenrolar. ”- Erin L.

5. “Você é capaz de entender o quanto dói ser criticado por ter feito uma tentativa de suicídio? Você sabe o quanto dói ser chamado de "egoísta", "idiota" e ser visto como "louco"? Se você nunca teve ideação suicida, por favor, não julgue, não critique, porque está claro que isso não faz sentido para você ... também não faz sentido para a maioria das pessoas. Mas, infelizmente está acontecendo com muita gente, e nós merecemos ajuda, não ódio. ”- Kerri S.

6. “Quando conto a minha história, não é por atenção. É uma maneira de eu chegar e fazer a outros, que vivenciam esses mesmos sentimentos de morte, perceberem que não estão sozinhos. Eu quero que minha história inspire os outros a continuar, a continuar lutando e a dar os passos em direção a uma vida mais feliz e saudável. ”- Megan D.

7. Não critique os que estão passando por isso. Pergunte o que você pode fazer para ajudar. Tente entender que eles podem não saber porque pensamentos de autodestruição passaram a dominar suas mentes. Apenas esteja lá para apoiá-los quando necessário. ”- Solana C.

8. “Eu realmente não quero morrer. Eu só quero matar o jeito que eu sinto as coisas, calar a tagarelice incessante em meu cérebro, ter uma pausa em me sentir como a pior criatura mais indigna e desprezível do mundo. Não é sobre ser egoísta nem covarde. Não é para ferir ninguém. É puro desespero. ”- Andrea T.

9. “Minha depressão, minha ansiedade, meu TEPT são tão sérios e devastadores quanto uma deficiência física. Suicídio não é a saída do covarde. A dor, as emoções, a devastação. Eu sou abençoada por ter sobrevivido a minha tentativa, mas eu ainda luto contra os demônios na minha cabeça. Eu não acho que possa haver algo mais devastador do que ter duas lindas crianças incríveis e ainda pensar que o suicídio possa ser a única saída. A dor é real, e é algo que eu lido diariamente. ”- Lindsey J.
10. “Não é um grito por atenção. É a dor interminável de tentar viver em um mundo em que você acredita não pertencer. ”- Abbie M.

11. “Eu queria desesperadamente que a dor esmagadora cessasse, e naquele momento eu estava focado apenas em fazer parar a dor. Eu não estava pensando nas consequências do meu suicídio. ”- Mary Z.

12. “Você nunca esquece, e nunca será o mesmo de antes da tentativa. Você passa a carregar um peso em seus ombros. Alguns dias são mais difíceis do que outros, mas nem sempre você precisa carregar o peso sozinho. Muitos são rápidos em julgar, mas se não falarmos sobre nossas experiências, como podemos esperar que os outros entendam? A educação é a única coisa que pode combater a ignorância. ”- Rebecca R.

13. “Eu queria deixar de ser um fardo para as pessoas ao meu redor e silenciar a dor dentro de mim. Eu me sentia cansado de me sentir como um fracasso ou uma peste para os outros, mesmo que não fosse. É uma coisa séria. Por favor, leve a sério quem já tentou. Você não conhece as batalhas constantes que enfrentamos no dia-a-dia. ”- Liza G.

14. “Tentativa de suicídio não é fraqueza. Pode ser sim um pedido de ajuda. É uma confusão geral quando você constantemente se sente como um fracasso. É uma solução permanente para um sentimento temporário que, na hora, não parece nada temporário. É muito mais do que uma mera fuga do sofrimento, e às vezes é a única conclusão que nossos cérebros com doenças podem fazer por nós mesmos quando não sabemos mais o que fazer. ”- Sami S.

15. “Eu carrego comigo todos os dias a culpa de tentar deixar meus entes queridos. Quando eles dizem "você quis ir embora" - isso me machuca mais do que qualquer coisa porque não era "eu". Foi a minha doença ultrapassando o meu ser ...  ”- Alexis B.

16. “Nada sobre suicídio é egoísmo. Todos nós temos que cuidar de cada um de nós. E o suicídio tornou-se a única opção para me livrar completamente da dor que sinto a cada momento de todos os dias ... Precisamos de compaixão, compreensão, cuidado e carinho. ”- Marco O.

17. “É errado presumir que eu tinha um controle preciso sobre meus pensamentos e sabia exatamente o que estava fazendo. Eu não sabia. Eu ainda não sei. Toda vez que eu me recordo, há uma nova explicação, uma nova peça a ser encaixada. Sempre haverá novas peças, e isso me deixa muito cansada. Mas quando você tenta esquecer, os pensamentos voltam de outra maneira, sempre, todos os dias. Nada e ninguém pode pará-los, então você precisa aprender a acalmá-los .... É a coisa mais difícil e confusa que já fiz. ”- Keisha F

18. “Foi um arrependimento instantâneo. Eu estava com tanta dor e queria que ela parasse, mas assim que tomei todas aquelas pílulas, pensei: 'Meu Deus, o que eu fiz?' Eu quero que as pessoas saibam que não é tudo sobre morrer. Estamos todos apenas tentando acabar com nossa dor emocional.” - Teresa A.

19. “Eu não quero morrer. Eu só queria que a dor parasse. E ela parou. Lenta, mas seguramente, com a terapia e o tempo, a dor parou.” – Jeniffer W.

20. “Eu desejo que os outros entendam que eu não sou um perigo para eles. Depois da minha tentativa, meus amigos me mantiveram a distância ao invés de se aproximarem de mim, porque tinham medo que eu os machucasse também. Isso me deixou mais isolada e rejeitada do que nunca. Eu também gostaria que as pessoas entendessem o poder do que parece ser algo muito simples. Um abraço. Uma mensagem. Um telefonema. Pequenas coisas que são realmente enormes porque dizem: "Eu quero você aqui, quero ajudá-la a lutar". - Jennifer K.


 Texto original: 41 Secrets of Suicide Attempt Survivors by Megan Griffo  /  https://themighty.com/2016/09/what-its-like-to-try-to-kill-yourself/



domingo, 14 de outubro de 2018

"A varanda do quarto em que dormem o funcionário público Miguel Alixandre e a operadora de telemarketing Maricelma Cruz foi coberta por telas de proteção.

Foi de lá que a filha do casal, Aline Oliveira, de 19 anos, se jogou após uma crise de depressão. “Sempre que entro no quarto, lembro da cena”, diz o pai. Foi ele quem correu atrás de Aline quando ela tentou se suicidar. A menina pulou de uma altura de oito metros. E sobreviveu".

Um vídeo com depoimentos de uma adolescente e seus pais sobre a tentativa de suicídio dela e o processo de tentar compreender o que aconteceu e ressignificar também o vínculo entre eles.

Ainda existem culpa e desencontros em algumas falas:

"Eu tenho uma teoria ... que eu acho que o que os meus pais pensavam é que o que eu passava era só coisa de adolescente ... Ah, não tem necessidade ... Psicólogo é pra quem tá doente ... Eu acho que eles começaram a perceber a partir do momento que eu me joguei ..."

"Ela continua fazendo a mesma coisa ... ela não aprendeu nada com isso ..."

Mas podemos ver também o afeto e o desejo de fortalecer o relacionamento familiar.

"Como eu me sentia sozinha, eu achava que ia ser melhor para os meus pais que eu não estivesse mais viva ... porque eu me sentia um peso em casa"

"E os meus pais foram muito julgados na época, sabe? 'Como vocês não perceberam que a sua filha tava doente, como que vocês deixaram sua filha fazer isso', sabe? Mas a culpa não era deles. Então, eu me sinto culpada de culparem eles".

"Eu sempre amei muito eles ... eu nunca quis de fato deixar eles sozinhos e se eu soubesse que aquilo podia machucar eles, eu nunca teria feito aquilo".

"Peço a ela que tenha juízo e que ... eu lembro muito bem que ela falou que vai me dar muito orgulho"

Por isso, quando cuidamos de alguém com comportamento suicida, independente da idade, devemos incluir os membros da família no processo terapêutico e ainda orientá-los e apoiá-los também.

E esse suporte à família também é válido não apenas no consultório, mas também em CAPS, Pronto-Socorro ... ;)



domingo, 7 de outubro de 2018

Quatro maneiras de falar sobre suicídio na escola

Casos recentes acenderam um alerta entre educadores e pais, por isso a pauta é urgente e precisa fazer parte do cotidiano escolar.

A divulgação de casos recentes de suicídio entre alunos de escolas particulares de São Paulo deixou em alerta pais, educadores e adolescentes. E os números são alarmantes: entre 2000 e 2015 os suicídios aumentaram 65% entre pessoas com idade de 10 a 14 anos, e 45% entre adolescentes de 15 a 19 anos, tornando-se a segunda causa de morte desta faixa-etária. Os dados recém-divulgados são do Mapa da Violência 2017, publicado anualmente a partir de indicadores do Ministério da Saúde.

Jovens e adolescentes são também o principal grupo de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais, principalmente depressão. Segundo relatório da federação de empresas de seguro de saúde dos Estados Unidos, desde 2013 as taxas de depressão aumentaram 65% entre meninas adolescentes e 47% entre meninos.

As explicações para isso são muitas, como esclarece a psicóloga Alessandra Xavier, da Universidade Estadual do Ceará (UECE). “A adolescência é um período peculiar em que se está construindo uma série de referências profissionais, sociais, de vínculos e orientação sexual. Também são constantes as mudanças no corpo, na rede de amizades e na autoestima”.

Soma-se tudo isso às pressões dos pais e da escola para ingresso no ensino superior e à cultura do consumo e narcisismo, escancarada pelas redes sociais. Assim, segundo a psicóloga, muitos adolescentes acreditam que dar fim a própria vida é solução ou, no mínimo, um ato impulsivo de expressão do descontentamento com a realidade.

“A verdade é que somos todos muito despreparados para lidar com mudanças e angústias. Ficamos vulneráveis a qualquer experiência de dor e sofrimento”, define Alessandra, que articula uma série de ações junto ao ministério público do Estado do Ceará para prevenção do suicídio entre jovens e adolescentes.

Precisamos falar sobre isso
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos casos de suicídio podem ser evitados através de ações de prevenção.
É por isso que a escola, espaço no qual crianças e adolescentes vivem grande parte de suas vidas, precisa falar sobre suicídio e outros potenciais desencadeadores, como bullying, depressão, abuso de drogas e violência doméstica. De preferência, de maneira constante para que se desmistifique o tabu que ronda a temática.

Sinais que podem indicar sofrimento psíquico:
  1. Mudança significativa de comportamento ou personalidade (agressividade, irritabilidade, apatia, pessimismo);
  2. Queda brusca de rendimento escolar;
  3. Isolamento, baixa autoestima, excesso de ansiedade;
  4. Abuso de álcool e/ou drogas;
  5. Histórico de transtorno mental (esquizofrenia, bipolaridade ou depressão);
  6. Desejo súbito de concluir ou organizar coisas e deixar mensagens aos amigos e parentes.


O trabalho pedagógico deve envolver os pais e agentes da saúde, levar em conta o contexto de vida de cada aluno e se concentrar em atividades que promovam a interação, o acolhimento socioemocional e a criação de uma cultura da paz. A seguir, confira quatro ações que podem começar a ser implementadas desde já.


  • Valorização do grupo

Promover jogos ou dinâmicas que propiciem o Desenvolvimento de competências socioemocionais. “As rodas de conversas diversa mediadas por um psicólogo ou professor capacitado funcionam bem”, indica Sheila Cavalcante, psiquiatra da Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Unifesp.
Usando como premissas o respeito à diversidade de opinião e o incentivo ao diálogo, o mediador coloca em pauta temas pertinentes e dá direito a voz e ouvidos a todo o grupo, responsável pela construção de um conhecimento coletivo.

  • Promoção do autoconhecimento

Nem sempre é tão fácil reconhecer aquilo o que se está sentindo. Por isso, a escola pode fornecer informações e uma educação integral que ajude crianças e adolescentes a identificar seus estados emocionais e expressá-los de modo a pedir ajuda. Este é, inclusive, um dos pilares do Programa Cuca Legal, que desenvolve estratégias de melhoria da saúde mental por meio de trabalho científico e educativo.

  • Pedagogia da presença

A escola pode investir na capacitação de profissionais, que podem ser tanto professores como funcionários, para se aproximar dos estudantes de modo a construir vínculos e identificar traços de sofrimento psíquico.
“Uma boa maneira de começar a se mostrar mais disponível e acolhedor é pedir que eles escrevam cartas anônimas sobre sonhos, aspirações e incertezas sobre o futuro”, aconselha a psiquiatra da Unifesp. Aqui você encontra mais dicas de como implementar a pedagogia da presença.

  • Artes e abordagem interdisciplinar

A arte é uma das melhores maneiras de expressas sentimentos, por isso, pode ser mais trabalhada em sala de aula. Além disso, os professores devem se integrar para abordar a temática em suas aulas.
“O professor de História levanta com os alunos os dilemas contemporâneos da humanidade, o de Matemática mostra indicadores de aumento da depressão ou do bullying e aproveita para puxar a discussão em sala. O profissional de aproveita para debater o livro Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe (1749-1832), que traz a temática”, indica Alessandra.

 O que fazer se houve um caso de suicídio ou tentativa? 
“Estudos mostram quando há um caso de suicídio na escola, duas semanas depois haverá uma segunda tentativa se nada for feito”, aponta Sheila Cavalcante, da Unifesp. “Adolescentes podem encarar o ato de tirar a própria vida como uma espécie de heroísmo ou exemplo a ser seguido”, completa.
Como medida de prevenção, a escola deve convocar um especialista para elaborar o luto de toda a turma e das famílias. “As famílias e a escola devem estar prontas para acolher o jovem, dando espaço para que ele expresse sentimentos como tristeza, raiva e culpa sem julgamentos”, diz a especialista.

Apoio 
No Brasil, o principal meio disponível para quem precisa de ajuda é o Centro de Valorização da Vida (CVV), associação sem fins lucrativos que há 54 anos conta com serviço gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio. O CVV oferece apoio 24 horas pelo telefone 141 e pelo site https://www.cvv.org.br/.

A Sociedade Brasileira de Psiquiatria também disponibiliza gratuitamente um manual completo de prevenção do suicídio.

A lei de combate ao bullying nas escolas, sancionada em maio, altera um trecho da Lei 9.394, de 1996, e amplia as obrigações das escolas no combate à prática.  Além das instituições de ensino, clubes e agremiações têm o dever de desenvolverem medidas de conscientização, prevenção e combate ao bullying.



http://fundacaotelefonica.org.br/noticias/quatro-maneiras-de-falar-sobre-suicidio-na-escola/