domingo, 29 de dezembro de 2019

11 maneiras de fugir da depressão no final do ano

"1. Planeje com antecedência. Reserve algumas horas para pensar como você vai cuidar de si mesmo durante o período. Pense em coisas agradáveis, como ler um livro ou tirar alguns cochilos e escreva as idéias em um calendário. Tente conciliar as atividades com as compras de natal e as atividades na cozinha, mas não deixe a agenda de lado: essas atividades precisam ser tratadas como prioridade também.

2. Evite os conflitos familiares. Manter a sanidade em algumas famílias pode ser uma tarefa difícil. No entanto, se você vai encontrá-los e sabe que os conflitos vão surgir, prepare-se para responder de forma neutra, como "vamos falar disso em outro momento" ou "eu entendo a sua posição". Depois, fuja para o banheiro, se ofereça na cozinha ou até para cuidar das crianças. E, se for demais, tenha um bom amigo para ligar e desabafar.

3. Esqueça a perfeição. Muitas pessoas se desesperam quando não conseguem ter uma casa de cinema para o natal, ou um banquete digno da realeza, ou presentes que não são bons o suficiente. Esse cenário ideal não existe. São as pequenas coisas, como detalhes particulares da sua casa ou rituais em família, que torna tudo especial e feliz.

4. Aprenda a sofrer. Se você está lidando com a perda de alguém querido, talvez seja o momento de conversar com alguém sobre os seus sentimentos ou mesmo procurar ajuda em grupos de apoio ou terapia. Não é incomum sentir raiva pela pessoa ter partido ou culpa por aproveitar as festas. Isso só mostra que você é humano e reflete o seu momento.

5. Arrume tempo para dormir. As festas de final de ano podem facilmente interferir na sua rotina de sono. Mas alguns estudos indicam que há ligação entre a falta de sono e a depressão. Portanto, você precisa ter cuidado dobrado com isso. Tente acordar e se deitar no mesmo horário todos os dias; evite refeições pesadas e atividades físicas horas antes de dormir; e livre-se da TV ou qualquer outra distração no quarto.

6. Peça ajuda. Seja para amigos próximos ou família, não pense duas vezes ao pedir para uma pessoa dar apoio, desde realizar tarefas simples do dia a dia até tomar um chá e ouvir o seu desabafo.

7. Priorize os exercícios físicos. Mexer-se deve ser mantido no topo da lista de prioridades. Além de ajudar a queimar as calorias extras (a comilança vai rolar solta nessa época do ano!), exercícios físicos ajudam a melhorar o humor. E não precisa ser nada radical: 35 minutos de caminhada forte, cinco dias por semana (ou 60 minutos três vezes por semana), já são suficientes.

8. Reveja sua exposição ao sol. Muitas pessoas podem sofrer com a pouca exposição solar. A doença, que é sazonal, acomete principalmente pessoas no hemisfério norte, pois lá as festas de final de ano acontecem no inverno, quando o sol fica menos tempo no alto. De qualquer forma, se achar que está sofrendo com o problema, converse com seu médico sobre como se tratar.

9. Mantenha o foco no que importa. O mais importante do natal não são os presentes, mas os problemas financeiros podem fazer você acreditar nisso. Controle o estresse organizando a troca de presentes entre amigos e familiares (estipular um valor como limite pode ser interessante). Você pode também cozinhar algo para presentear alguém ou mesmo criar rituais novos para a família passar o tempo.

10. Não desconte na comida ou no álcool. Para algumas pessoas, se permitir exagerar na bebida ou na comida é quase uma tradição das festas de final de ano. Melhor se controlar. Além de fazer mal ao corpo, você vai se sentir culpado depois. Prepare-se para as festas alimentando-se de forma saudável na semana anterior aos feriados. E nada de afogar as mágoas no copo cerveja ou na taça de vinho: o álcool pode intensificar suas emoções e deixar tudo ainda pior quando seu efeito passar.

11. Diminua os compromissos. Se você não aguenta mais se encontrar com as mesmas pessoas nas festas, tudo bem cancelar alguns compromissos para sentir-se melhor. As pessoas esquecem que natal é apenas um dia - são só 24 horas. Procure encontrar atividades que melhorem o seu estado de espírito, como viajar, trabalho voluntário ou fazer companhia a alguém sozinho em algum abrigo. Focar em outras pessoas pode aliviar os sintomas da depressão".





domingo, 15 de dezembro de 2019

"Embora a perda de um paciente como resultado do suicídio possa representar um tipo de rito de passagem, cuja superação atesta a força do terapeuta e sua adequação para realizar o trabalho da profissão, para muitos terapeutas esse evento tem impacto a longo prazo e pode influenciar todo o seu trabalho futuro. Alguns terapeutas tendem a tentar aprofundar seus conhecimentos sobre o tema do suicídio, demonstrando mais cuidado em manter registros de seus casos e tornando-se mais atentos e capazes de identificar e tratar pacientes em risco. Outros, em vez disso, podem se inclinar a prescrever mais drogas do que o necessário, insistem na
admissão de pacientes para evitar incorrer em um novo luto traumático. Para reduzir os riscos associados ao luto do terapeuta, o treinamento preparatório específico e o apoio do supervisor, colegas, família ou grupo de autoajuda são de fundamental importância. Desta forma, a busca de respostas não leva ao desespero, mas ao crescimento pessoal e profissional, talvez descobrindo um sentido mais profundo da vida (RATKOWSKA ET AL, 2014, p. 113, TRADUÇÃO NOSSA).

Por ser um tabu, o profissional também pode ter dificuldade para encontrar um espaço para falar do seu próprio luto. De acordo com Guedes (2018, p. 90), “há uma dificuldade de se encontrar espaços onde esses profissionais se sintam autorizados a validar suas experiências, em que possam expressar suas emoções e seus pensamentos ao vivenciarem a perda de um cliente por suicídio”. A autora propõe questionamentos importantes: 

O que sente um psicólogo que perdeu um cliente por suicídio? O que pensa? Que tipo de vínculo havia estabelecido com o cliente no processo terapêutico? Após a morte, o contato com a família se deu em um tom de respeito e receptividade mútua ou o sistema familiar responsabilizou o profissional pelo acontecimento? Este, por sua vez, culpa-se por não ter conseguido evitar a morte? Conseguiu ou teve vontade de participar dos rituais fúnebres? Reconhece o próprio pesar frente à perda e consegue expressá-lo para alguém? Tem medo do julgamento de seus pares? (GUEDES, 2018, p. 90-91).

- Retirado do meu trabalho "ESPECIFICIDADES DO MANEJO DO LUTO POR SUICÍDIO NA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL", disponível em: https://cetcc.com.br/wp-content/uploads/2019/06/Luciana-Fran%C3%A7a-Cescon.pdf.


domingo, 8 de dezembro de 2019

Carta a alguém em depressão _______________ Leonardo Collares


"De alguém que esteve aí onde você está agora, e que quer que você saia, assim como eu saí.

Você está vivendo um episódio de depressão. Eu sei porque já estive aí e pode ser que volte em alguma hora. Bem, quero aproveitar este momento em que me encontro aqui do lado de fora para te escrever esta carta com base no eu que já esteve aí e neste outro que um dia pode voltar.

Não tenho a pretensão de te ajudar. Quero apenas te fazer companhia por alguns momentos, como um desconhecido que se senta do teu lado num banco público, reconhece a tua solidão e puxa uma conversa, tentando respeitar sua aflição e tomando cuidado para não perturbar a segurança precária do teu isolamento.

Talvez, enquanto eu fale ou escreva, você continue sentindo uma tristeza, um desânimo e um vazio que te acompanham até demais, só que tudo isso não te impede de trabalhar, de cuidar da vida e fingir que está tudo bem quando a ocasião requer. Ou talvez você esteja paralisado e sozinho, duvidando que possa realmente sair do buraco algum dia.

Quero ser franco contigo, porque sei que nessa condição temos pouca paciência para papo furado. A depressão pode mesmo levar ao suicídio. Em outros casos, ela pode ser uma pena longa e severa, anos e anos de prisão intelectual, afetiva e funcional. A vida se derramando no ralo do tempo.

Acho bom encarar isso. É preciso reconhecer a dimensão desse obstáculo. Primeiro, para nos darmos conta de que essa condição demanda nossa atenção e cuidados imediatos e continuados. Depois, para estarmos seguros de que estão errados aqueles que, por não a terem experimentado, e por estarem mal informados, subestimam ou estigmatizam a depressão. Com isso, contribuem para criar dificuldades ao enfrentamento adequado de um problema de saúde pública mundial. Também contribuem para agravar o sofrimento de pessoas próximas. Eu tinha minhas dúvidas quando estava aí onde você está, mas hoje é bastante claro para mim: depressão não é sinal de fraqueza. Pode ser, antes, indício de sensibilidade e de inteligência (ainda que muitas pessoas sensíveis e inteligentes não sofram com ela, felizmente). Não é motivo de culpa, e sim uma enfermidade que pode e deve ser tratada.

Em alguns casos, a angústia é intensa ao ponto de fazer a morte parecer um alívio. Foi assim para mim, em alguns momentos. Aqui de fora, é fácil perceber como o horizonte fica mais sombrio através das lentes da tristeza crônica. Com o olhar desimpedido, paisagens alternativas, que sempre existiram, ficam mais claras.

Nota do autor: no contexto de um transtorno mental como a depressão, a tentativa de suicídio não é uma decisão racional ou decorrente de livre arbítrio, ao contrário do que pode parecer; é importante, em caso de risco, buscar ajuda adequada, como a orientação de um psicólogo ou psiquiatra - disponível gratuitamente nos Centros de Atenção Psicossocial da rede pública -, ou ainda de entidades como o Centro de Valorização da Vida, que realizam um importante trabalho de prevenção, inclusive em momentos de crise. Pesquisas sobre o tema ressaltam, entre outros aspectos, os efeitos traumáticos sobre familiares e pessoas próximas nos casos consumados, bem como, por outro lado, os numerosos exemplos de recuperação do bem-estar psíquico e da qualidade de vida por meio de acompanhamento adequado.

De todo modo, não temos muito tempo. A vida é uma projeção temporária, disse um pensador; como um filme, com começo, meio e fim. Sendo assim, mais vale fazer o melhor possível no tempo contado que temos. Mesmo com todas as limitações, mesmo em meio à depressão.

Num dia de melancolia é possível fazer bem a alguém. Você pode fazer bem a si mesmo, por exemplo, fazendo uma boa refeição, ou se exercitando. Pode ouvir alguém que precise desabafar. Fazer um elogio, encorajar. Então mais vale arriscar e tentar fazer algo de significativo, ainda que seja um passo aparentemente minúsculo. Vai que uma hora saímos desse buraco e voltamos a ganhar bons momentos no tempo que nos resta, quem sabe até fazemos uma diferença positiva na vida de outras pessoas… E o fato é que há grandes chances de isso acontecer.

A depressão pode consumir tempo de vida, mas também pode passar. Eu atravessei diversos episódios depressivos desde a adolescência, e o mais recente durou cerca de oito meses. Passei dias inteiros, do nascer ao pôr do sol, dormindo ou olhando pro teto. Deixei de trabalhar. Fui torturado sem trégua por meus pensamentos. Me senti sozinho e incompreendido no meu inferno pessoal. Tentei aguentar, tentei me ajudar, recebi ajuda. E um dia vi que tinha superado o período de depressão.

Não me iludo, sei que posso escorregar de volta. Depois de horas incontáveis de estudo, reflexão, conversas e psicoterapia, não sei dizer com precisão o que ela é, tenho ideias vagas de suas causas e não tenho a fórmula da cura. Mas conheço o lugar onde ela nos aprisiona. Eu estive aí onde você está, e trouxe comigo algo valioso: a experiência de ter saído. É pouco, reconheço, mas o que tenho de mais importante para te dizer é o que não podia ver aí de dentro: dá para sair.

Para mim, faz sentido pensar na depressão como um feitiço ou um pesadelo. Um filme de terror. Um porre brabo, uma pedra no rim. É terrível, mas uma hora acaba (não digo que acabe por si só; é mais provável que requeira um esforço consciente, prolongado e considerável, na maior parte dos casos).

Além disso, como em todos esses exemplos, sair da depressão tornou muito claro para mim que eu não sou aquilo que sinto quando estou deprimido. Aqueles pensamentos, emoções e comportamentos são manifestações de um corpo e de uma mente em depressão; não são minha essência. A mente abriga e manifesta outras identidades. Alguém pode estar deprimido, mas nunca é deprimido, não importa a duração desse estado. Posso te dar um exemplo simples: basta lembrar de algum período da vida em que você não estava em depressão. Ela chega e ela vai. Espero que você encontre outras pessoas que se libertaram, que pare para ouvi-las, e que decida acreditar nisso. Espero que se lembre disso quando estiver no coração das trevas. Dá para sair.

Tenho outra coisa para te dizer com franqueza. Ninguém vai te salvar, a não ser você mesmo. Esta tampouco é uma verdade absoluta, eu sei, apenas outra lição dolorosa e enriquecedora da minha própria vivência. Com isso, não quero dizer que não precisamos de ajuda e que não é importante contar com a compreensão, a paciência e a generosidade de familiares, amigos e médicos. Eu não teria conseguido sem eles e tenho gratidão eterna por ter podido receber sua ajuda. O que quero dizer é que todo o apoio dessa rede de pessoas, e mesmo os medicamentos, podem te ajudar até certo ponto. A partir desse ponto, você tem de caminhar sozinho.

Esse ponto é aquele em que você decide que vai se ajudar. Não é uma grande e única decisão. São muitas e pequenas escolhas diárias: se abrir com um amigo, pedir ajuda, procurar um psicólogo ou psiquiatra, levantar da cama, dar uma caminhada, passar tempo com quem está disposto a te apoiar, exercitar o corpo, evitar o álcool e outras drogas com efeito depressivo (estou me referindo aqui ao caso da pessoa deprimida), buscar coisas que te façam brilhar os olhos, prosseguir no caminho sem fim de dar significado à vida. Só você pode fazer essas coisas. Mergulhar no escuro da depressão é deparar-se com o fato de que, no fundo, estamos sozinhos. A porção que nos cabe do sofrimento inevitável da vida nós experimentamos sozinhos. Sós, podemos optar por aprender a lidar com ele, e podemos buscar os meios e a ajuda de que precisamos para isso.

Paradoxalmente, a depressão nos mostra ao mesmo tempo que não estamos sozinhos. Ela me forçou a me abrir e expor minha vulnerabilidade a um maior número de pessoas, às vezes nem tão próximas, seja para pedir ajuda, seja porque eu simplesmente não podia esconder a dificuldade por que passava. Isso me fez aprofundar algumas amizades de um modo que não teria sido possível fora desse contexto. Também me fez iniciar amizades, com uma confiança e uma proximidade maiores do que as relações costumam ter no começo. O processo de cura como um todo foi uma lição valiosa de interdependência, mostrando como meu bem-estar depende da qualidade das minhas relações - comigo mesmo, com os outros, com o meio -, da minha inserção em redes de confiança e ajuda mútua, da troca de afeto. São presentes que recebi da depressão.

Tenho vontade de compartilhar contigo algo mais sobre essa “viagem ao fim da noite” (o romance de Céline não trata expressamente de depressão, mas se relaciona ao que vou dizer, de certa forma). Ao cabo dessa viagem, não encontrei nada. Não há nada, a não ser o sofrimento. Por certo tempo durante essa incursão nas sombras, esperei fazer descobertas sobre o sentido da existência, acreditei que minha rebelião silenciosa contra a vida usual me permitiria finalmente encontrar um eixo de significado. Mas não. Nada. Tive, sim, insights e epifanias, revi hábitos e adquiri maior consciência de alguns fatores de bem-estar e de sofrimento. Mas a resposta a minhas indagações existenciais mais profundas não estavam nessa cela escura.

Entendi que não seria me abandonando que eu me redimiria.

Talvez a depressão, dor crônica da mente, seja como a dor do corpo, um alarme disparado denunciando a enfermidade de nossos modos costumeiros de interpretar e tocar a vida. Mas o remédio e a prevenção não estão na dor. É na vida de todos os dias, em meio a meus afazeres e preocupações corriqueiros, que sinto ter de encontrar, ou definir, os rumos de uma existência significativa.

A depressão me deixou mais sensível à relevância e urgência dessa busca, fez dela minha prioridade zero. Tenho buscado. Há muitas vozes no mar de informações e conselhos despejados diariamente em nossos ouvidos, e entre elas há verdadeiros amigos, profissionais de saúde e professores de vida. E há pessoas como você e eu, buscando curar-se da normalidade patológica. Espero que você as encontre, que se deixe ajudar e que as ajude. Há muito que aprender a fim de superar e prevenir a depressão, e, de modo mais amplo, viver melhor. Por exemplo, adquiri o hábito de me lembrar todo dia dos muitos aspectos favoráveis da minha vida, como ela é hoje.

Terá sido uma lição singela, mas experimentei a dor que estar à deriva na existência pode trazer e ao menos sei que a busca de significado depende de mim. Você não está sozinho nessa viagem. Te desejo força e sorte. Desejo que você possa transformar  esse sofrimento em liberdade.


- Leonardo Collares