domingo, 26 de novembro de 2017

Perder um filho é sempre uma experiência difícil. Mas quando se trata de um suicídio, o luto pode ser ainda mais complexo, pelas perguntas que ficarão sem respostas e pela diversidade de sentimentos que aparecem. Neste processo, os sobreviventes buscam diferentes formas de seguir em frente. 

O casal Terezinha e Joseval resolveu criar uma página para compartilhar sua experiência com outras pessoas e também como forma de homenagear sua filha, Marina.

"Em seu perfil no WhatsApp ela havia escrito a frase em Catalão “Si us plau, no m’oblidis” = “por favor, não me esqueça”. Frase que levamos meses após sua partida, para descobrir o seu significado e logo depois resolvemos fazer este blog para falar como é viver depois que se perde alguém que se ama por suicídio, contar nossas experiências e descobertas".

Terezinha escreveu no texto "O luto do sobrevivente":

 
"O Luto é uma fase de mudanças e adaptações, é um período muito difícil para qualquer pessoa que perde alguém que ama, e o luto por suicídio é um luto ainda mais  complicado, pois além de sofrer com a perda do ente querido, ainda sofremos pela forma que se deu, ficamos em choque  e assimilar tudo é bem difícil. E ainda fica aquela dúvida se houve ou não culpa, se realmente fizemos tudo que estava ao nosso alcance e o motivo de uma atitude tão radical.
É um  misto de sentimentos e eu pensei que ficaria louca, e pior é um  luto solitário. Sentia o desconforto das pessoas quando falava no assunto, então veio o isolamento, as pessoas passaram a se afastar, eu precisava falar e por vezes não tinha ninguém para me ouvir.
Passei a pesquisar na internet sobre o assunto e descobri os grupos de apoio ao enlutado por suicídio e na primeira reunião, quase 1 mês depois da morte da minha filha, aprendi o que é a Posvenção e  que somos chamados de sobreviventes, que   cada luto é único e deve ser vivenciado,   que não é possível dimensionar a dor do outro, que realmente para algumas pessoas  falar é necessário, que nós sobreviventes somos estigmatizados de uma forma muito cruel, que alguns sentem vergonha, medo, desamparo e que o luto por suicídio é mais longo que os demais.
Descobri que todos os sentimentos que me afligiam são comuns nos casos de enlutados por suicídio, que o afastamento das pessoas também é normal, já que ninguém sabe lidar com a questão, que a maioria das pessoas incluindo profissionais da área da saúde  não sabem muita coisa a respeito dos suicídios.
Me senti acolhida e a  empatia dos demais sobreviventes enlutados e dos facilitadores me fez sentir um alívio que até então não havia tido desde a partida da Marina, não me senti julgada pois a maioria ali está na mesma condição.
Infelizmente, são poucos os grupos de apoio específicos  e pouco é falado sobre o luto de quem fica, assim como é pouco divulgado sobre o suicídio de uma forma esclarecedora sem sensacionalismo. Por ser tabu  o sofrimento de quem perde alguém querido por suicídio só aumenta com esse silêncio, incluindo o do próprio sobrevivente enlutado que por vezes nem sabe que não está só".

Com textos delicados, informações sobre grupos de apoio, vídeos e outros materiais, a página vale a visita.




domingo, 19 de novembro de 2017

Suicídio e manejo psioterapêutico em situações de crise: uma abordagem gestáltica


 Autoras:
Karina O. Fukumitsu e Karen Scavacini

RESUMO

O suicídio é um gesto de comunicação e, ao mesmo tempo, de falta de comunicação, de recusa e de surpresa. O artigo tem como objetivo apresentar relações entre o suicídio e a Gestalt-terapia, bem como a compreensão dos mecanismos neuróticos e do manejo e das intervenções em situações de conflito e crise experienciados pela pessoa que percebe, no suicídio, uma alternativa para eliminar seu desespero e sofrimento. Além disso, pretende-se incentivar a discussão do tema e suas repercussões nas lides acadêmicas, principalmente nos cursos que lidam com o humano, pois se trata dos aspectos relacionados à vida, e o profissional, ao deparar com o desespero existencial do cliente, pode perceber sua falta de instrumentalização para manejar situações de crise. O conflito, segundo o aporte gestáltico, é configurado como um distúrbio do campo e significa a possibilidade de crescimento, uma vez que oferece ao indivíduo o confronto com novas figuras.


Palavras-chave: Suicídio; Intervenção na Crise; Prevenção do suicídio; Gestalt-terapia.

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672013000200007



domingo, 12 de novembro de 2017

Fique!

Quando me sentei no confortável sofá de padrões azuis no consultório de minha terapeuta, aninhada no meio das almofadas suaves de pelúcia brancas, girava meu suporte de rabo de cavalo ao redor do meu pulso repetidamente, quando ela me perguntou:
"Para onde você se transportou agora?"
“Lugar algum. Eu simplesmente me distraí." Respondi, enquanto olhava para o sol, cujos raios dançavam pelo peitoril da janela.
Mas isso estava longe de ser verdade. Eu estava pensando sobre a vida e a morte, o significado da minha existência, meu nível de desesperança e como eu queria muito acabar com a dor e, finalmente, acabar de vez com a minha vida.
Eu tenho pensado muito nisso ultimamente. Então, hoje, quando minha terapeuta me deu a tarefa de escrever cartas para mim; cartas que eu possa ler durante os períodos difíceis ou sem esperança, pensei: que melhor carta para escrever do que um lembrete para ficar por aqui.
Aqui está - minha carta de lembrete para me manter viva e ficar por aqui:
“Para mim, quando eu precisar lembrar.
Eu sei que as coisas não têm sido fáceis ultimamente e a dor que geralmente sinto é demais para suportar. A morte parece ser uma opção muito mais aceitável do que esperar que as coisas melhorem ou se tornem mais fáceis. Você vive dizendo a si mesma que está cansada, que é uma doente crônica, uma fracassada e que não tem solução - mensagens que você realmente acredita definirem o núcleo do seu ser. Você realmente não consegue enxergar além da escuridão que circunda o seu dia a dia. A luz cobiçada no final do túnel? Não é mais do que uma miragem fugidia que você sempre está perseguindo sem nunca conseguir alcançar.
Você está cansada de lutar em uma batalha implacável com doenças mentais. Qualquer pessoa entenderia porque você está exausta. Faz sentido - assim como querer por um fim definitivo à dor também faz sentido. A depressão tem uma maneira de encolher seu mundo para uma única sala solitária. Ela faz o mundo se resumir aos pensamentos negativos, aos sentimentos desesperadores e ao desejo de morte que dominam dentro das quatro paredes do seu quarto, te impossibilitando de sair da cama.
O que você não percebe é que existe um mundo além dessas cortinas densas de pensamentos, sentimentos e desejos obsessivos e escuros. Um mundão lá fora grande e brilhante e que está à espera de ser descoberto. Embora pareça aterrorizante nesse momento pensar em abraçar o ruído, o caos e a luz - eu prometo que nem sempre se sentirá tão esmagada. Você só tem que segurar a onda e ficar o tempo suficiente para ver isso por si mesma as coisas na tua vida se transformando. Por isso:
Fique!
Fique quando sentir vontade de entrar no quarto. Fique quando tudo em você estiver gritando por alívio. Fique o suficiente para ver as faíscas inflamarem-se em chamas e a esperança arder em você mais uma vez. Fique mais um dia. Fique para ver uma outra pessoa sorrir. Talvez um dia seja você quem vai sorrir também. Fique para assistir a outro pôr-do-sol e respire fundo enquanto contempla os tons de algodão doce que cobrem a vastidão do céu. Fique por algum tempo, até ter a chance de ouvir sua voz falar mais alto. Você ainda tem muito a dizer e a fazer e pode ser uma força poderosa se você se permitir ficar. Fique para que possa experimentar mais uma xícara de café. Pelo menos saberá que alguma coisa te provoca sensações gostosas. Fique para que possa fazer mais uma viagem e tirar fotos que ficarão guardadas para sempre na forma de memórias. Fique mesmo sabendo que vai chorar mais uma vez. Lembre-se de que você é humana, e ser humano é uma coisa bagunçada e dolorosa, mas também, ocasionalmente, linda. Fique para que você possa segurar a mão de alguém. Fique para ver as mudanças acontecendo ao seu redor. Fique para sentir seu coração ficar pleno e você se sentir cheia de viva, mesmo tendo certeza de que esses sentimentos não durarão. Fique para ter essas experiências. Peço-lhe que fique, por favor. O mundo precisa, sim, de você, mesmo que não acredite no momento. Você é digna e amada e merece ocupar o seu espaço na vida.
Então, fique um pouco mais nesse mundo.
Conquiste o seu espaço.
Faça ouvirem sua voz.
Experimente a vida em toda sua bagunçada beleza.
Deixe sua marca neste mundo. Só ficando por aqui é que você pode causar um impacto nas outras pessoas, e não importa quão pequeno você possa sentir que esse impacto possa ser.
Você ficará bem. Acredite. Talvez não hoje ou mesmo amanhã, mas se você optar por ficar então será a primeira a testemunhar a incrível força, poder e bravura que você possui. Você, minha querida, é corajosa.
Fique.
Te vejo amanhã.”
Morrer, partir! Muitas vezes sentimos ser essa a escolha mais acertada. Pensamos que essa decisão significaria alívio e um final para uma história de vida que, quem sofre, nunca quis ter. É vital, especialmente quando os pensamentos depressivos se tornam agressivamente dominantes, que os lembretes permaneçam: para me lembrar de porque eu preciso ficar. Não importa o quão ridículo ou bobo possam parecer para alguém de fora. Os meus motivos para ficar podem parecer diferentes dos seus, e está tudo bem. Crie seus próprios motivos, mantenha-os próximos e acesse-os quando estiver equivocadamente acreditando que deixar esse mundo é mais atraente do que ficar. Como minha terapeuta me disse uma vez: "O mundo levaria um grande golpe se você não estivesse aqui, porque você é inerentemente digna de viver." O mundo precisa de nós, mesmo que ainda não possamos acreditar. Fique um pouco mais.
Siga sua jornada, aqui.


domingo, 5 de novembro de 2017

Em 2001, alarmada com os altos índices de suicídio entre seus profissionais, a Polícia Militar de São Paulo lançou uma campanha na TV que tinha como objetivo emocionar os PMs. A ideia era tentar fazê-los desistir de cogitar a possibilidade de dar cabo da própria vida. A garota-propaganda escolhida foi Bruna Marquezine, então uma criancinha bochechuda de 5 anos.

https://www.youtube.com/watch?v=G8TcP7PeLkU