domingo, 21 de janeiro de 2018

SUICÍDIO: Meu filho tentou suicídio, e agora? ___________ Marta Batista

É na adolescência que nos confrontamos, de forma séria e mais estruturada, com a angústia e com o medo. Este é um período muito turbulento, em que as mudanças físicas e emocionais acontecem e se cruzam com inquietações que nos forçam a amadurecer. Trata-se de uma transição muito difícil em alguns casos, levando algumas vezes à confusão mental, ao isolamento e até mesmo à ideação suicida. O desespero e rejeição estão quase sempre por trás destes casos, bem como por trás de todas as tentativas de suicídio na adolescência. Porém, em algumas situações existem problemas especificos que podem levar a esta situação tais como:  Pode ser difícil lembrar como era ser um adolescente, viver em um lugar preso entre a infância e a idade adulta. Mas quem se lembrar saberá que é um período de grande confusão, ansiedade, angústia e medo de crescer, assumir responsabilidades. Há pressão para se ajustar socialmente, para acabar os estudos, prestar vestibular, faculdade e “ainda” agir de forma responsável. Há o despertar de sentimentos sexuais, a crescente construção da identidade, e uma necessidade de autonomia que, muitas vezes, entra em conflito com as regras e expectativas criadas por outros.

Um adolescente que possui uma rede de apoio adequada de  família, afiliações religiosas, grupos, ou atividades extra-curriculares pode ter a melhor saída e meios para lidar com as frustrações cotidianas. Mas, muitos jovens, não acreditam que eles as têm e sentem-se desligados e isolados da família e dos amigos.

Em alguns casos, a tentiva de suicídio ocorre na sequência de um estado depressivo. É possível prevenir alguns sinais e fatores de risco, que são considerado sinais de alerta. O suicídio entre adolescentes muitas vezes ocorre após um evento estressante, tais como uma falha percebida na escola, uma relação que acabou, o falecimento de um ente querido ou um grande conflito familiar.

Um adolescente que está pensando em suicídio pode apresentar alguns sinais (embora os mesmos não sejam necessariamente sinais de suicídio):

Falar sobre o suicídio ou morte em geral
Querer pintar o quarto da cor preta
Ficar o tempo todo no escuro sem ver a luz
Falar em “ir embora”
Falar de um sentimento de desespero ou de se sentir culpado
Afastar-se dos amigos ou da família
Perder o interesse nas coisas que normalmente gostava muito de fazer
Ter dificuldade em concentrar-se ou pensar claramente
Mudar os hábitos de comer e dormir
Ter um comportamento auto-destrutivo (álcool, drogas ou conduzir muito rápido, por exemplo)
Como  os pais podem fazer para ajudar o seu filho?
A maioria dos adolescentes que comete tentativa de suicidio deu algum tipo de aviso, que pode não ter sido percebida. Portanto, é importante que os pais se aproximem mais do seu filho, conversem, pratiquem atividades de lazer em conjunto e conheçam os sinais de alerta para que as crianças/adolescentes que poderiam ser suicidas possam conseguir a ajuda que precisam.

Olhe e Escute seu filho
Mantenha um olhar atento sobre um adolescente que parece deprimido e afastado. Quando boas notas passam para más notas, por exemplo, pode sinalizar que se passa algo com o adolescente.

É importante manter as linhas de comunicação abertas e manifestar a sua preocupação, apoio e amor. Se o adolescente confia em você, mostre que você leva a sério essas preocupações. Uma briga com um amigo/a pode não parecer grande coisa para você, mas para um adolescente pode fazer muito sentido. Não apoiar o adolescente sobre o que se está passando, pode aumentar a sua sensação de desesperança.

Se o adolescente não se sente confortável falando com você, sugira uma pessoa mais neutra, como um outro parente, um membro da igreja, um conselheiro da escola, ou o médico, psicólogo.

Como ajudar o meu filho com pensamentos suicidas
Se o adolescente está em uma situação de crise, o serviço de emergência local pode conduzir a uma avaliação psiquiátrica abrangente e encaminhá-lo para os recursos apropriados. Se você está inseguro sobre se você deve levar o seu filho para a sala de emergência, entre em contato seu médico para o ajudar.

Se você já tem agendada uma consulta com um profissional de saúde mental, certifique-se de manter o compromisso, mesmo se o adolescente diga que ele ou ela está se sentindo melhor. Os pensamentos suicidas tendem a ir e vir, no entanto, é importante que o adolescente obtenha ajuda para desenvolver as habilidades necessárias para diminuir a probabilidade de que os pensamentos e comportamentos suicidas assumam o controle em situações de crise.

Se o adolescente se recusa a ir para tratamento, discuta isso com o profissional de saúde mental, e considere participar na sessão e trabalhar com o médico para se certificar de que o seu filho adolescente tem acesso à ajuda necessária. O médico também pode ser capaz de ajudá-lo a criar estratégias para ajudar o seu filho adolescente a obter ajuda.

Lembre-se que todos os conflitos em curso entre pais e filho(s) pode alimentar o fogo de um adolescente que está se sentindo isolado, incompreendido, desvalorizado ou suicida. Obtenha ajuda e resolva o assunto de uma maneira construtiva. Também deixe o profissional de saúde mental saber se existe um histórico de depressão, abuso de substâncias, violência familiar, ou outros stress em casa, como um ambiente contínuo de crítica.

Dentre as diversas formas de tratamento, hoje sabe-se que a terapia familiar é particularmente eficaz na redução dos pensamentos suicidas e dos sinais clínicos de depressão na adolescência. A maioria dos tratamentos incide sobre o trabalho individual com os adolescentes, ajudando-os a aprender novas estratégias de enfrentamento e resolução de problemas. Mas o caos e os conflitos familiares podem contribuir para o suicídio dos jovens, tanto quanto o amor da família, a confiança e a comunicação clara podem reduzir os pensamentos suicidas.

http://www.psicologiasdobrasil.com.br/suicidio-meu-filho-tentou-suicidio-e-agora/








domingo, 14 de janeiro de 2018

Carta ao amigo que se matou ______________ Luis Nassif


Hoje foi um dia muito triste para mim. Fiquei sabendo que um grande amigo morreu de depressão. No dia 14 de novembro, não aguentou o tranco e deu fim à vida, num mergulho de 223 metros de altura. O corpo só foi encontrado 40 dias depois, na véspera do Natal. Imagino o terrível Natal e fim de ano para a família dele. Depois de 40 dias de buscas, foram mais dois dias até que se conseguisse fazer a identificação. Por algum motivo ou outro, as minhas irmãs só me avisaram hoje.

Não foi a primeira vez. Ele já havia tentado o suicídio há uns três anos, ligando o carro dentro de uma garagem fechada. Foi levado às pressas para o pronto-socorro e sobreviveu. Assim, de longe, parecia que ele havia melhorado.

Nos últimos tempos, a gente se falava muito pouco. Coisas da vida. Não havíamos brigado. Simplesmente, a distância física e o tempo trataram de nos afastar daquele contato do dia-a-dia.

Era um sujeito brilhante. Tinha uma facilidade impressionante para aprender idiomas. E era divertidíssimo. Ainda ontem, conversando com um amigo em comum, lembrávamos das palhaçadas e das brincadeiras de 20 anos atrás. Como se fosse ontem... Mal sabíamos que ele já havia chegado ao ponto final.

É o segundo amigo que perco para a depressão. Muita gente acha que depressão é "frescura". Não é. É uma doença muito grave. O doente não pode parar de se medicar. A pessoa, em razão do remédio, recupera e mantém o equilíbrio emocional. Aí, com o tempo, acha que já está curada e pára de tomar o remédio. Algum tempo depois, fatalmente, a depressão volta. E, na hora da crise, a pessoa não vê nenhuma outra saída, a não ser acabar com a própria vida. O Paulinho se foi faz três anos (é isso, Tomás?). Dia 14 de novembro, foi-se o Andrew. O cemitério onde ele foi enterrado acaba de ser inaugurado. Na verdade, ele foi a primeira pessoa a ser enterrada. Como eu, Andrew era ateu, mas, nessa hora, a vontade da família falou mais alto. Porém, durante o enterro, ele ainda deu um jeito de ter a palavra final, teimoso que era: como era a inauguração do cemitério, houve um problema com o tamanho do caixão. Era maior do que a cova. Resultado: todos que ali estavam, que conheciam o Andrew, começaram a rir. O clérigo ficou sem entender nada. Pelo que entendi (o meu filho estava muito inquieto e quem conversou com a ex-esposa dele, que também é nossa amiga, foi a minha esposa), tiveram de "aparar" o caixão, para que coubesse, e ele acabou sendo enterrado dois dias mais tarde.

Quando isso acontece, quando a gente perde um amigo que acabou ficando distante, a gente tem uma vontade de falar com todos os nossos amigos distantes de uma só vez. De poder mandar um abraço do tamanho do mundo. De dizer a todos o quanto eles foram e são importantes para nós, apesar do afastamento por conta das circunstâncias da vida.

***

Andrew, sei que você não vai ler estas linhas nunca, mas elas me ajudam a lidar com a realidade. Hoje, a R. e eu ficamos aqui em casa, vendo fotos e mais fotos. Rimos e choramos lembrando das palhaçadas e dos bons momentos que pudemos passar juntos. Quando ligamos para a sua mãe, não consegui falar. Comecei a chorar. Foi a R. que acabou falando com ela. O D. não entendeu nada: "Mamãe, por que você tá chorando? Papai, por que você tá chorando?" Logo em seguida, já estávamos rindo, e ele parava de perguntar. Amanhã, vamos visitar os meus pais. A minha mãe já está sabendo, pois falamos com ela hoje. O meu pai ainda não sabe. Acho que ele também vai sentir muito. Volta e meia, ele falava sobre você: "Sabe quem ia gostar disso aqui? O Andrew."

Um abraço do seu irmão mais velho.



https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/carta-ao-amigo-que-se-matou




domingo, 7 de janeiro de 2018

SENTA QUE LÁ VEM TEXTÃO E ESSE É IMPORTANTE DEMAIS, JURO.
uma verdade incontestável que todos ignoram: os enfermeiros e médicos não gostam de suicidas. eu arriscaria dizer até que eles nos odeiam e não fazem questão de disfarçar. acredite, a gente também não gosta de ser assim, tanto que tentamos acabar com nossa vida, pra ver se a dor insuportável e avassaladora para.
precisamos urgentemente de profissionais da área da saúde mais preparados do que os nossos ou tornar os nossos preparados. precisamos ensinar a eles como lidar com seres humanos. ensinar a serem humanos.
enfermeiras causam dor proposital aos pacientes suicidas com a justificativa de que se doer muito não vamos tentar de novo, e eu achando que o ponto da profissão era fazer o paciente se sentir melhor. isso é mais comum do que vocês imaginam. eu fui maltratada nas 3 tentativas, então acredito que sou a prova viva de que esse método não está adiantando, certo? simplesmente não é assim que as coisas funcionam.
chega a ser patético alguém de 18 anos ter que chamar a atenção de pessoas formadas e ensinar a fazer seu trabalho da maneira certa, porque olha, tá tudo MUITO errado. ninguém fala sobre isso, mas eu vou.
eles têm raiva por ter que dar atenção a quem não quer mais viver e não para os “verdadeiros doentes”. sim, “depressão não é doença e os doentes de verdade estão na outra sala.” minha mãe, abalada, morrendo de medo de perder a filha, teve que escutar isso em um dos piores dias da sua vida só porque disse que eu estava doente. pode ter certeza de que eu trocaria em um piscar de olhos minha vida com quem está lutando contra a morte, mas não posso e a culpa não é minha, então não me trate como se fosse.
pelo menos sou doadora de órgãos, será que eles seriam menos cruéis se soubessem? e se dissessem que eu adoro ler livros, escrever, ver meus amigos, meus cachorros, contassem que eu rio, choro, dou conselhos, faço piada e sou uma das pessoas mais leais que eu conheço, que fazia mais de um ano da última vez que tentei me matar e aguentei firme até não dar mais? será que assim eu seria enxergada como uma pessoa de verdade e não um estorvo?
o que eles não sabem — e deveriam — é que a gente não quer querer morrer, ideação suicida nada mais é que um SINTOMA da depressão. se acha que pode contestar isso, por favor, apresente seu CRP. é vergonhoso agentes da saúde serem ignorantes a respeito de algo que faz parte de seu trabalho.
as pessoas que deveriam cuidar de mim me machucaram e maltrataram a minha família, já fragilizada, que nem tinha culpa do que eu fiz. nem tentavam esconder a raiva, o desgosto que sentiam por mim. a sorte é que eu estava inconsciente, mas ouvir as histórias doeu tanto quanto. fui julgada por desconhecidos que não fazem ideia da minha história, da minha bagagem. fui julgada por pessoas que deveriam ser as últimas a fazer isso.
que profissionalismo é esse? o trabalho é cuidar das pessoas, independentemente de quem elas sejam, do que elas fizeram. se você não concorda, deveria trocar de profissão.
eu estava desacordada e a enfermeira perguntou à minha mãe em um tom ríspido se eu tinha namorado e tinha brigado com ele (claro, porque todos os problemas femininos têm a ver com homens). minha mãe disse que não. “e por que ela não tem namorado?”, ela indagou, ainda ríspida.
alguém pode me explicar como essas informações seriam relevantes para o meu tratamento e, pior, tinha que perguntar justo naquela hora, no estado em que minha mãe estava?

a mesma enfermeira fez minha mãe preencher uns documentos justo no ambiente em que eu estava, sendo que isso poderia ter sido feito em outra sala. a enfermeira provavelmente queria fazer ela ver minha condição: inconsciente em uma maca e me debatendo. eu só posso definir isso como sadismo.
eu queria poder perguntar a todos eles, se estivesse consciente: “por que você tem nojo de mim por algo que não é minha culpa? você também odeiam diabéticos? por que você atua nessa área? o que eu te fiz?”
“existem várias pessoas no mundo querendo viver e você aí, não dando valor”, eles dizem. meu deus, como eu já ouvi isso na minha vida. gente. por favor. vocês precisam entender que eu quero muito querer viver também, mas meu cérebro trabalha de um jeito diferente dos outros então fica mais difícil. é só isso. e eu estou trabalhando nisso. um passo de cada vez.
é imprescindível capacitar esses profissionais o mais rápido possível. o despreparo é gritante e a falta de sensibilidade também.
eu nunca fiquei tão decepcionada e assustada na minha vida ao ouvir as histórias que minha família contou. pessoas que não me conhecem desejando a minha morte, falando sobre mim com desprezo até para meus próprios pais... as pessoas PRECISAM mudar e se conscientizar o mais rápido possível.
estamos em 2018 e tem gente que nem vê depressão como patologia, mesmo com toda a informação que temos por aí. em 2020 a depressão vai ser a doença mais incapacitante do mundo. e aí a gente faz o quê? varre pra debaixo do tapete?
moça, eu não tentei me matar porque acho gostoso quando me colocam uma sonda que me machuca horrores ou porque eu amo as dores no corpo inteiro ou gosto de carvão ativado. não gosto dos meus hematomas. eu nem gosto de hospitais. eu tentei me matar porque eu estou doente, porque acho que o mundo pode ser um lugar terrível e vocês enfermeiras fizeram um ótimo trabalho confirmando isso, parabéns.
pelo amor do amor, nós todos precisamos trabalhar a nossa empatia e acabar com esse estigma. precisamos ser atendidos por quem tem competência para tal, por quem nos vê como seres humanos, como uma pessoa acometida por qualquer outra doença. alguma coisa PRECISA ser feita. não podemos mais permitir que esse tipo de coisa aconteça.
eu, pelo menos, não consigo mais ficar calada diante de tudo isso.
dói falar sobre suicídio e depressão? dói.
é tabu? é.
é pesado? é.
é necessário? é também, porque fingir que o problema não existe não resolve nada.
e a gente precisa, imediatamente, começar a achar um jeito de resolver.


Publicado por Laleska Alves em 04 de janeiro de 2018.

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