domingo, 13 de setembro de 2020

Setembro Amarelo: cuidados para contribuir com a prevenção do suicídio

"Fica o convite à reflexão aos que pretendem falar sobre suicídio neste mês (mas não somente nele).
No dia 10 de setembro acontece o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, proposto em 2003 pela Organização Mundial da Saúde e a International Association for Suicide Prevention (IASP) com o objetivo de incentivar ações de conscientização e prevenção do suicídio. Desde então, diversas atividades são realizadas nesta data em todo o mundo.
No Brasil, inspirados por este marco, o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) criaram em 2015 a campanha Setembro Amarelo, expandindo essas ações até então concentradas no dia 10 para todo o mês de setembro.
A partir de então, nota-se um crescente aumento de eventos e profissionais das mais diversas áreas propondo atividades de prevenção do suicídio. Embora falar sobre o suicídio seja fundamental para a quebra do estigma e para a construção de políticas públicas, é necessário que se tenha responsabilidade e ética aliados ao conhecimento científico para tratar de um tema tão complexo. Infelizmente, percebe-se a cada ano o aumento de eventos com propostas e narrativas equivocadas, irresponsáveis e sem um compromisso teórico e ético com o tema, deixando de lado objetivo central da campanha: a prevenção do suicídio e o suporte aos que estão em intenso sofrimento.
Durante o III Congresso Brasileiro de Prevenção realizado pela ABEPS neste ano (2020), o Dr. José Manuel Bertolote, um dos idealizadores do Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, trouxe um importante alerta ao apontar que um mês inteiro voltado para ações em prevenção pode trazer uma fadiga da data e um esmorecimento dessas ações. Nesse sentido, é importante reavaliarmos a qualidade das ações ofertadas durante este mês para que não tenhamos um efeito iatrogênico, intensificando assim o sofrimento daqueles que já estão demasiadamente fragilizados".








Autora: Elis Regina Cornejo, psicóloga e fundadora do site "Posvenção do Suicídio"

domingo, 6 de setembro de 2020

Setembro está chegando. Então aqui vão algumas dicas importantes:

1. Não fale nem entre em discussão sobre métodos de suicídio (sobre o que mata mais, ou sobre o que é mais ou menos letal).

2. Se você vai falar para alguma audiência que não trabalha com saúde mental, esteja certo de que há planos a serem seguidos caso alguém se sinta angustiado com alguma coisa que você venha a falar (onde a pessoa pode buscar ajuda, ou o que fazer se ela não se sentir bem). Inclua número de telefone e emails ou sites de organizações de caridade ou saúde que possam atender a pessoa caso algo aconteça.

3. Se for fazer slides, *não* - por favor! - não use imagens de pessoas se autolesionando, ou em frente a um precipício, ou qualquer outra imagem que sugira um método de suicídio. Da mesma forma, evite fazer descrições sobre os detalhes de um suicídio ou de episódios de autolesão. Pessoas que sobreviveram a uma tentativa de suicídio (e estarão na tua palestra) podem desenvolver uma crise de TSPT evocada pela tua palestra (eu já vi isso acontecer em congressos!).

4. Tente (se conseguir) não usar termos considerados estigmatizantes pela comunidade de sobreviventes do suicídio: "cometer", "obter sucesso", "fracassar", "automutilador", "pessoas suicidas", etc.

5. Não fale sobre suicídio com crianças (a menos que seja uma situação altamente específica - e se for fazer, faça-o sob supervisão/orientação de algum especialista).

6. Cuidado ao falar sobre suicídio ou autolesão com adolescentes! Em geral, suicide clusters ocorrem mais entre adolescentes do que em pessoas de outras faixas etárias.

7. [Essa dica talvez não vai agradar a muitos]: Se você não é um profissional da área de saúde mental, evite se voluntariar ou aceitar convites para falar sobre o tema. Ofereça ajuda para organizar o evento (ou palestra que seja) e a convidar pessoas que tenham experiência com esse tema - mas não seja 'o palestrante'.

8. Cuidado com algumas "mensagens positivas" e prescrições comportamentais (i.e., "faça isso" ou "não faça aquilo"). É comum que tais mensagens contribuam com que o ouvinte se sinta pior do que está.

- Tiago Zortea:Suicidologia (Facebook)