domingo, 27 de agosto de 2017

Tico Santa Cruz em 14/04/2017

Eu lido com a ideia do suicídio desde a adolescência. Fantasio essa morte. Perdi a conta de quantas vezes só me faltou coragem para ir adiante. Os motivos sempre foram dos mais variados. Não sofri Bullying na escola, na minha época o Bullying não tomava as proporções que a internet potencializou. Minha questão estava relacionada com a sensação de rejeição que eu sentia por parte das pessoas próximas. Da incompreensão. Da não aceitação da minha maneira de ver o mundo de viver a vida. Dos conflitos intermináveis que vivi dentro da minha casa com minha família. Do sentimento de que esse lugar aqui é hostil demais para mim.
Lembro quando sentei na janela do prédio onde morava e fui vasculhando cada espaço entre os miolos do meu cérebro para encontrar o impulso que desse fim ao meu sofrimento. Não consegui. Me senti um covarde.
Eu me imaginava fincado na grade de segurança do prédio. No fundo eu queria me vingar do mundo, das pessoas.
À medida que fui crescendo, o pensamento nunca deixou de frequentar minha mente. Nos momentos mais complicados, e não foram poucos, só essa saída me parecia viável.
Não quero expor outras pessoas, mas fiz contato com o suicídio ou a tentativa dele por gente que eu amo muito, algumas vezes.
Quando comecei a fazer sucesso como artista, você pode imaginar que a realização do meu sonho me daria milhares de motivos para continuar a viver. Eu tive um filho e uma companheira forte e corajosa. Mas o contato com o outro lado da cortina - os bastidores - me revelou ainda mais farsas, falsidades, mentiras, egocentrismos, vaidades, manipulações e muitas limitações. Isso
me conduziu a um quadro de depressão e ansiedade. Comecei a ter crises de pânico diante de tantos compromissos, noites sem dormir, pequenas pressões, brigas, desgastes infinitos.
Quando tudo isso atingia o meu limite, começava a buscar novamente minha saída de emergência.
E fantasiava cortando os pulsos numa banheira, entupido de remédio e álcool para não sentir dor.
É o desespero. A falta de esperança. A falta de caminhos, perspectivas e a dificuldade de buscar outras formas de resolver as questões que mais inflamavam minha existência.

Ainda está aí?
Foi então que resolvi procurar uma terapia. Era isso ou a morte. Porque eu já sentia que estava bem perto de conseguir concretizar meu objetivo.
E encurtando um pouco outros episódios, foi que comecei a administrar meus fantasmas e meus anseios mais obscuros.
Sim!!! Foi a terapia quem me salvou. Foram os dias e dias, semanas, meses, anos de uma rotina terapêutica com a ajuda de uma especialista, que soube me conduzir a um encontro comigo mesmo que me ensinou a domar e lidar com essa questão.

Até hoje tenho meus pensamentos suicidas! Não sei... É algo que de fato está presente na minha cabeça. Contudo estou muito mais preparado para lidar com eles. E nunca tive vergonha de pedir ajuda. Ajuda mesmo!
Nestes três anos que se passaram onde eu entrei no olho do furacão dessa loucura que virou a questão política do Brasil, tive minha imagem exposta de diversas formas horríveis. Fui humilhado, bloqueado em meu trabalho, acusado de receber dinheiro que nunca recebi, rejeitado, apontado, ofendido, difamado, inclusive pelos meus próprios fãs. Exposto a linchamentos públicos por pessoas que considerava meus amigos. Minha família foi AMEAÇADA de morte, recebi milhares de mensagens de ódio com conteúdos absurdamente doentios. Vi tudo que eu havia construído com muita dedicação e amor, ser atingido por todo tipo de ataques.
Só que eu já me conhecia bem. A Terapia me deu todas as armas que eu precisava para lutar contra esse caos.
Você não tem a menor ideia do que é ser uma pessoa pública, um artista, e se ver diante de tanto ódio e tanta exposição negativa.
Calhou também de eu ter optado por ficar limpo, não estar usando nenhuma droga nesse período. Porque a droga te mina, deixa sua cabeça mais fraca, te fragiliza, te dá paranóias. Então se eu estivesse usando drogas nesse momento que passei, certamente não teria conseguido segurar a onda.
Teria dado um tiro na cabeça e resolvido tudo.

Porém, eu sou forte. Aprendi a ser forte! Encarei meus desafios de cabeça erguida. Continuo encarando. A ideia do suicídio ainda aparece para mim? Sim... Mas eu sei lidar com ela, graças a terapia.
Ver essa série que trata sobre o esse ponto tão delicado da existência humana, tem mexido muito comigo. Eu sei o que é aquilo ali, de forma diferente, mas sei. Me angustia profundamente. Eu choro sem querer. Me identifico. Lido com um turbilhão de sensações. Não consigo assistir mais de 2 capítulos seguidos. Ainda não terminei.
Mas me motivou a abrir essa parte da minha vida publicamente. Para dizer que apesar de tudo, vale a pena continuar vivendo e lutando contra meus monstros. Vale a pena seguir acreditando que seja possível vencer as barreiras, as rejeições, o ódio, e todo esse cenário de medo e desespero que estamos vivendo.

Tenho razões claras para dizer a você que assim como eu já pensou ou já chegou bem perto de dar fim a própria vida. Procure ajuda! Lute! Não desista!
A gente está aqui para aprender e o sofrimento nos ensina muito! A maturidade vem. É possível seguir!
Acredite em mim.




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