domingo, 7 de janeiro de 2018

SENTA QUE LÁ VEM TEXTÃO E ESSE É IMPORTANTE DEMAIS, JURO.
uma verdade incontestável que todos ignoram: os enfermeiros e médicos não gostam de suicidas. eu arriscaria dizer até que eles nos odeiam e não fazem questão de disfarçar. acredite, a gente também não gosta de ser assim, tanto que tentamos acabar com nossa vida, pra ver se a dor insuportável e avassaladora para.
precisamos urgentemente de profissionais da área da saúde mais preparados do que os nossos ou tornar os nossos preparados. precisamos ensinar a eles como lidar com seres humanos. ensinar a serem humanos.
enfermeiras causam dor proposital aos pacientes suicidas com a justificativa de que se doer muito não vamos tentar de novo, e eu achando que o ponto da profissão era fazer o paciente se sentir melhor. isso é mais comum do que vocês imaginam. eu fui maltratada nas 3 tentativas, então acredito que sou a prova viva de que esse método não está adiantando, certo? simplesmente não é assim que as coisas funcionam.
chega a ser patético alguém de 18 anos ter que chamar a atenção de pessoas formadas e ensinar a fazer seu trabalho da maneira certa, porque olha, tá tudo MUITO errado. ninguém fala sobre isso, mas eu vou.
eles têm raiva por ter que dar atenção a quem não quer mais viver e não para os “verdadeiros doentes”. sim, “depressão não é doença e os doentes de verdade estão na outra sala.” minha mãe, abalada, morrendo de medo de perder a filha, teve que escutar isso em um dos piores dias da sua vida só porque disse que eu estava doente. pode ter certeza de que eu trocaria em um piscar de olhos minha vida com quem está lutando contra a morte, mas não posso e a culpa não é minha, então não me trate como se fosse.
pelo menos sou doadora de órgãos, será que eles seriam menos cruéis se soubessem? e se dissessem que eu adoro ler livros, escrever, ver meus amigos, meus cachorros, contassem que eu rio, choro, dou conselhos, faço piada e sou uma das pessoas mais leais que eu conheço, que fazia mais de um ano da última vez que tentei me matar e aguentei firme até não dar mais? será que assim eu seria enxergada como uma pessoa de verdade e não um estorvo?
o que eles não sabem — e deveriam — é que a gente não quer querer morrer, ideação suicida nada mais é que um SINTOMA da depressão. se acha que pode contestar isso, por favor, apresente seu CRP. é vergonhoso agentes da saúde serem ignorantes a respeito de algo que faz parte de seu trabalho.
as pessoas que deveriam cuidar de mim me machucaram e maltrataram a minha família, já fragilizada, que nem tinha culpa do que eu fiz. nem tentavam esconder a raiva, o desgosto que sentiam por mim. a sorte é que eu estava inconsciente, mas ouvir as histórias doeu tanto quanto. fui julgada por desconhecidos que não fazem ideia da minha história, da minha bagagem. fui julgada por pessoas que deveriam ser as últimas a fazer isso.
que profissionalismo é esse? o trabalho é cuidar das pessoas, independentemente de quem elas sejam, do que elas fizeram. se você não concorda, deveria trocar de profissão.
eu estava desacordada e a enfermeira perguntou à minha mãe em um tom ríspido se eu tinha namorado e tinha brigado com ele (claro, porque todos os problemas femininos têm a ver com homens). minha mãe disse que não. “e por que ela não tem namorado?”, ela indagou, ainda ríspida.
alguém pode me explicar como essas informações seriam relevantes para o meu tratamento e, pior, tinha que perguntar justo naquela hora, no estado em que minha mãe estava?

a mesma enfermeira fez minha mãe preencher uns documentos justo no ambiente em que eu estava, sendo que isso poderia ter sido feito em outra sala. a enfermeira provavelmente queria fazer ela ver minha condição: inconsciente em uma maca e me debatendo. eu só posso definir isso como sadismo.
eu queria poder perguntar a todos eles, se estivesse consciente: “por que você tem nojo de mim por algo que não é minha culpa? você também odeiam diabéticos? por que você atua nessa área? o que eu te fiz?”
“existem várias pessoas no mundo querendo viver e você aí, não dando valor”, eles dizem. meu deus, como eu já ouvi isso na minha vida. gente. por favor. vocês precisam entender que eu quero muito querer viver também, mas meu cérebro trabalha de um jeito diferente dos outros então fica mais difícil. é só isso. e eu estou trabalhando nisso. um passo de cada vez.
é imprescindível capacitar esses profissionais o mais rápido possível. o despreparo é gritante e a falta de sensibilidade também.
eu nunca fiquei tão decepcionada e assustada na minha vida ao ouvir as histórias que minha família contou. pessoas que não me conhecem desejando a minha morte, falando sobre mim com desprezo até para meus próprios pais... as pessoas PRECISAM mudar e se conscientizar o mais rápido possível.
estamos em 2018 e tem gente que nem vê depressão como patologia, mesmo com toda a informação que temos por aí. em 2020 a depressão vai ser a doença mais incapacitante do mundo. e aí a gente faz o quê? varre pra debaixo do tapete?
moça, eu não tentei me matar porque acho gostoso quando me colocam uma sonda que me machuca horrores ou porque eu amo as dores no corpo inteiro ou gosto de carvão ativado. não gosto dos meus hematomas. eu nem gosto de hospitais. eu tentei me matar porque eu estou doente, porque acho que o mundo pode ser um lugar terrível e vocês enfermeiras fizeram um ótimo trabalho confirmando isso, parabéns.
pelo amor do amor, nós todos precisamos trabalhar a nossa empatia e acabar com esse estigma. precisamos ser atendidos por quem tem competência para tal, por quem nos vê como seres humanos, como uma pessoa acometida por qualquer outra doença. alguma coisa PRECISA ser feita. não podemos mais permitir que esse tipo de coisa aconteça.
eu, pelo menos, não consigo mais ficar calada diante de tudo isso.
dói falar sobre suicídio e depressão? dói.
é tabu? é.
é pesado? é.
é necessário? é também, porque fingir que o problema não existe não resolve nada.
e a gente precisa, imediatamente, começar a achar um jeito de resolver.


Publicado por Laleska Alves em 04 de janeiro de 2018.

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