domingo, 19 de julho de 2015





"Não podemos esquecer que há uma coexistência de desejos e atitudes antagônicas que capturam a indecisão do indivíduo frente à vida. Ele deseja morrer e, simultaneamente, deseja ser resgatado ou salvo. Atos estereotipados de tomar psicotrópicos e telefonar em seguida para conhecidos solicitando ajuda expressam ambas as faces do ato. A maioria dos pacientes suicidas é ambivalente, incorpora uma batalha interna entre o desejo de viver e o desejo de morrer".

"O profissional sente-se, frequentemente, entre dois pólos: de um lado, deve respeitar os sentimentos da pessoa, incluindo seu desejo de morte, ou sua ambivalência entre viver e morrer; de outro, já ao final de um primeiro atendimento, deve tomar medidas concretas para evitar que um paciente atormentado se mate, o que inclui uma possível decisão de uma internação involuntária.

É inegável que diante da urgência e da angústia que a tentativa ou a ideação suicida nos impõe, cuidadores e profissionais de saúde podem ser levados a tentar conduzir o paciente para algo em que realmente acreditam (uma ideologia, uma fé). No entanto, separar estas crenças, sentimentos ou desejos, sem as negar, faz parte do treinamento, complexo e geralmente sofrido, dos profissionais de saúde."

"Em síntese, podemos dizer que os elementos básicos do atendimento de uma pessoa em crise suicida são:
• ouvir. Em geral, precisa-se ouvir muito, pois o paciente necessita falar sobre seus pensamentos e sentimentos. Há situações, no entanto, em que o profissional precisa ser mais ativo, incentivando o diálogo em busca de soluções, ou tomar ele próprio decisões emergenciais de proteção à vida;
• aceitação dos próprios sentimentos, incluindo-se tolerância à ambivalência (que é a coexistência, bastante perturbadora, de sentimentos opostos). O profissional deve se aliar à parte do paciente que deseja sobreviver;
• um ponto de apoio, como uma boia a qual a dupla terapeuta/ paciente possa tomar fôlego e continuar depois. Às vezes, já ao fim do primeiro contato, é preciso vislumbrar um ponto por onde começar a organizar o caos emocional. Um ponto de esperança, poderíamos também dizer."

Detecção do risco de suicídio nos serviços de emergência psiquiátrica

- José Manoel Bertolote, Carolina de Mello-Santos e Neury José Botega.

Artigo completo disponível em: 


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