domingo, 17 de setembro de 2017

Artigo: Tentativas de suicídio e o acolhimento nos serviços de urgência: a percepção de quem tenta

Resumo

A maioria dos casos de tentativa de suicídio é atendida em serviços médicos de emergência, o que deveria ser uma excelente oportunidade para que os profissionais de saúde realizassem alguma intervenção preventiva e terapêutica. No entanto, nem sempre essa oportunidade é aproveitada pela equipe, que geralmente exibe condutas caracterizadas por hostilidade e rejeição. Este trabalho pretende investigar, a partir da percepção do usuário, como se dá o acolhimento ao indivíduo que tenta suicídio e sugerir estratégias que possam favorecer o vínculo com a equipe de saúde. Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, desenvolvido com pacientes ambulatoriais referenciados pelo serviço de urgência de Barbacena, Minas Gerais. Foram entrevistadas 28 mulheres com histórico de tentativa de suicídio. A identificação e a classificação das unidades de análise fizeram emergir três categorias: discriminação, negação do ato, encaminhamento. Cada categoria foi submetida à análise qualitativa. A baixa capacitação das equipes de atendimento e as deficiências estruturais dos serviços induzem os profissionais a se posicionarem de maneira impessoal e com dificuldade de atuação de forma humanizada. A análise dos dados indica a necessidade de melhorar a formação dos profissionais da saúde, em especial os que trabalham nos serviços de pronto atendimento.

Palavras-chave: tentativa de suicídio; pesquisa qualitativa; saúde mental; medicina de emergência.

 "Eles  falaram  assim  “não  é  possível,  tanta  coisa  pra  gente  fazer e socorrer e fulano tentando morrer... e tem que fazer lavagem, que frescurada, aí é que dá vontade de matar mesmo”.  As  pessoas  acham  que  é  sem-vergonhice.  Eles  não vêem o que se passa na nossa mente". (P8)

"No  hospital  eu  lembro  que  o  médico  chegou  perto  de  mim, bateu no meu ombro, falou que eu não tinha nada, que eu era uma moça bonita, pra viver minha vida, que era pra arrumar um namorado
". (P7)


 "As enfermeiras falavam 'toma chumbinho, água de bateria, não adianta vir pra cá, tomar remédio, só dá trabalho pra gente'. Eu me sentia um rato quando tentava, quando elas me falavam ficava pior ainda. Por que elas não falaram que eu precisava era de um psiquiatra? Elas falavam 'vai pra casa e dorme bastante, isso não é nada, isso vai passar' ”.

"Lesões   autoprovocadas   sem   intenção   suicida   também   são  atendidas  em  serviços  de  urgência.  A  incidência  desses  agravos  tem  aumentado  nos  últimos  anos e  esse  comportamento  pode  ser  um  fator  de  risco  para  ideação  suicida. Independente  do  grau  de  intenção  suicida,  os  pacientes  que  exibem comportamento    autoagressivo    representam    um    grande desafio para a equipe de atendimento e podem gerar atitudes ambivalentes na condução do tratamento".

"A  reação  das  pessoas,  dos  médicos,  quando  eu  tomava  remédio e ia pro hospital, sempre que eu chegava, as enfermeiras  e  o  médico  falavam  ‘tem  juízo  não?  vaso  ruim  não quebra, entra na frente de um trem [...] remédio não mata não, remédio melhora". (P12)

"Mas aqui não tem nada pra ajudar os deprimidos, aqueles que tentam. Lá no postinho também é assim, parece que a receita já ta pronta. O médico não quer escutar a gente".

"A equipe reage com descaso, deve ser por eles acharem que é errado tentar, deixam a gente jogado, ficam fazendo comentário entre eles, ficam rindo, no dia que fizeram a lavagem eles falaram 'tá doendo? na hora de tomar os remédios não doeu, né?' "

"Avaliar um paciente suicida comumente desperta fortes sentimentos no médico examinador, especialmente ansiedade  por  um  erro  de  conduta  e  temor  das  consequências.  O  profissional  pode  experimentar  também  sentimentos  de  impotência e mobilizar emoções de caráter negativo".


Link do trabalho completo: http://www.scielo.br/pdf/cadsc/v21n2/02.pdf

 

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