domingo, 24 de setembro de 2017

Cartilha Suicídio: Informando para prevenir



"O suicídio pode ser definido como um ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de  forma  consciente  e  intencional,  mesmo  que  ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal. Também fazem parte do que habitualmente chamamos de comportamento  suicida:  os  pensamentos,  os  planos  e  a  tentativa  de  suicídio". (p. 09)

"Os dois principais fatores de risco são:
• Tentativa prévia de suicídio: É o fator preditivo isolado mais importante. Pacientes que tentaram suicídio previamente têm de cinco a seis vezes mais  chances  de  tentar  suicídio  novamente.  Estima-se  que 50% daqueles que se suicidaram já haviam tentado previamente.

• Doença mental: Sabemos  que  quase  todos  os  suicidas  tinham  uma  doença  mental,  muitas  vezes  não  diagnosticada,  frequentemente não tratada ou não tratada de forma adequada"(p. 16).

"Os  transtornos  psiquiátricos  mais  comuns  incluem  depressão,  transtorno  bipolar,  alcoolismo  e  abuso/dependência de outras drogas e transtornos de personalidade e esquizofrenia. Pacientes com múltiplas comorbidades psiquiátricas têm um risco aumentado, ou seja, quanto mais diagnósticos, maior o risco". (p. 17)

"Destacam-se outros fatores de risco:
• Desesperança, desespero, desamparo e impulsividade: Sentimentos  de  desesperança,  desamparo  e  desespero  são  fortemente  associados  ao  suicídio. 
É preciso  estar  atento, pois a desesperança pode persistir mesmo após a remissão de outros sintomas depressivos.
Impulsividade,  principalmente  entre  jovens  e  adolescentes, figura como importante fator de risco. A combinação de impulsividade, desesperança e abuso de substâncias pode ser particularmente letal" (p. 18)

"Eventos adversos na infância e na adolescência:
Maus tratos, abuso físico e sexual, pais divorciados, transtorno  psiquiátrico  familiar,  entre  outros  fatores,  podem  aumentar  o  risco  de  suicídio.  Na  assistência  ao  adolescente, os  médicos, os professores e os pais devem estar atentos  para  o  abuso  ou  a  dependência  de  substâncias associados  à  depressão,  ao  desempenho  escolar  pobre,  aos conflitos familiares, à incerteza quanto à orientação sexual,  à  ideação  suicida,  ao  sentimento  de  desesperança e à falta de apoio social.
 
Um fator de risco adicional de adolescentes é o suicídio de  figuras  proeminentes  ou  de  indivíduo  que  o  adolescente  conheça  pessoalmente.  Existe,  também,  o  fenômeno  dos  suicidas  em  grupo  ou  comunidades  semelhantes que emitem o estilo de vida.
 
• História familiar e genética: O  risco  de  suicídio  aumenta  entre  aqueles  com  história  familiar  de  suicídio  ou  de  tentativa  de  suicídio.  Estudos  de  genética  epidemiológica  mostram  que  há  componentes genéticos, assim como ambientais envolvidos. O risco  de  suicídio  aumenta  entre  aqueles  que  foram  casados com alguém que se suicidou". (p. 21)

"Fatores protetores: São menos estudados e geralmente são dados não muito consistentes, incluindo: autoestima elevada; bom suporte familiar;  laços  sociais  bem  estabelecidos  com  família  e  amigos;  religiosidade  independente  da  afiliação  religiosa  e  razão  para  viver;  ausência  de  doença  mental;  estar  empregado;  ter  crianças  em  casa;  senso  de  responsabilidade  com  a  família;  gravidez  desejada  e  planejada;  capacidade  de  adaptação  positiva;  capacidade  de  resolução  de  problemas  e  relação  terapêutica  positiva,  além  de  acesso  a  serviços  e  cuidados  de  saúde  mental".  (p. 24)

"A  OMS  aponta  três  características  psicopatológicas  comuns no estado mental dos suicidas. São elas:
 
1.  Ambivalência: o  desejo  de  viver  e  de  morrer  se  confundem no sujeito. Há urgência em sair da dor e do sofrimento com a morte, entretanto há o desejo de sobreviver a esta tormenta. Muitos não aspiravam realmente morrer, apenas queriam sair do sentimento momentâneo de infelicidade, acabar com a dor, fugir dos problemas, encontrar descanso ou final mais rápido para seus sofrimentos. Se for dado  oportunamente  o  apoio  emocional  necessário  para  reforçar o desejo de viver, logo a intenção e o risco de suicídio diminuirão.
 
2. Impulsividade:  o suicídio, por mais planejado que seja, parte de um ato que é usualmente motivado por eventos negativos.  O  impulso  para  cometer  suicídio  é  transitório  e  tem  duração  de  alguns  minutos  ou  horas.  Pode  ser  desencadeado  por  eventos  psicossociais  negativos  do  dia  a  dia e por situações como: rejeição; recriminação; fracasso; falência;  morte  de  ente  querido;  entre  outros.  Acolher  a  pessoa  durante  a  crise  com  ajuda  empática  adequada  pode interromper o impulso suicida do paciente.
 
3.  Rigidez: quando  uma  pessoa  decide  terminar  com a  sua  vida,  os  seus  pensamentos,  sentimentos  e  ações  apresentam-se  muito  restritivos,  ou  seja,  ela  pensa  constantemente sobre o suicídio e é incapaz de perceber outras maneiras  de  enfrentar  ou  de  sair  do  problema.  Estas  pessoas  pensam  rígida  e  dramaticamente  pela  distorção  que  o  sofrimento  emocional  impõe.  Todo  o  comportamento  está inflexível quanto à sua decisão: as ações estão direcionadas ao suicídio e a única saída possível que se apresenta é a morte; por isso é tão difícil encontrar, sozinho, alguma alternativa.
 
O  funcionamento  mental  gira  em  torno  de  três  sentimentos:   intolerável   (não   suportar);   inescapável   (sem   saída);  e  interminável  (sem  fim).  Existe  uma  distorção  da  percepção  de  realidade  com  avaliação  negativa  de  si  mesmo, do mundo e do futuro. Há um medo irracional e uma  preocupação  excessiva.  O  passado  e  o  presente  reforçam seu sofrimento e o futuro é sombrio, sem perspectiva e com ausência de planos. Surge a ideação e a tentativa  de  suicídio,  que  pode  culminar  com  o  ato  suicida.  O  peso  da  decisão  de  morrer  repousa  na  interpretação  dos  eventos  e  a  maioria  das  pessoas,  quando  saudável,  não  interpreta  nenhum  evento  como  devastador  o  suficiente para justificar o ato extremo. (p. 24-26)


 Fonte:  Associação Brasileira de Psiquiatria. Suicídio: informando para prevenir   Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio. – Brasília: CFM/ABP, 2014.

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