domingo, 10 de junho de 2018

Texto de Pablo Villaça

Publicado no Facebook de Pablo Villaça em 08/06/2018


"Passei o dia inteiro evitando ler e comentar sobre a morte de Anthony Bourdain porque... não estou numa fase muito boa no que diz respeito à depressão. E não há como não ficar abalado quando mais um companheiro de batalha cai.

Eu conhecia Bourdain apenas superficialmente; tinha noção de que era um chef famoso e apresentador de programas de culinária e só. Portanto, meu abalo não é como fã, mas como indivíduo e como alguém que passou duas vezes pela rua do suicídio e não parou nesta por pouco. Mas mortes como a do chef e a de Kate Spade (sobre a qual eu sabia menos ainda) são alertas importantes sobre a depressão e o suicídio, demonstrando através da tragédia como, ao contrário da visão desinformada de boa parte das pessoas, depressão não é escolha nem se cura com "força de vontade" ou "Deus".

Mortos no espaço de uma semana, Bourdain e Spade eram pessoas bem-sucedidas profissional, financeiramente e, não duvido, também pessoalmente. Tinham pessoas que as amavam e às quais também dedicavam amor. Sim, a depressão pode ser agravada pela solidão, mas desta independe. Cada contexto é pessoal e único.

É por isso que o suicídio não revela "coragem" ou "fraqueza", "egoísmo" ou "desapego"; a única coisa que escancara é a dor de quem partiu. E não há receita ou fórmula para saber como "salvar" quem sofre desta DOENÇA chamada depressão. Mas demonstrar apoio e amor sempre ajuda.

Em vez de mandar um whatsapp, ligue pra pessoa; em vez de dizer que "se precisar de algo, me fale", vá até a casa dela para ver um filme, bater papo, jogar baralho ou apenas sentar-se ao seu lado em silêncio solidário.

Ou respeite seu espaço sem afastar-se.

Pois quando notícias sobre vítimas de suicídio tomam conta da mídia (algo inevitável no caso de famosos), o perigo sempre se torna maior para quem já estava à beira do abismo. Não duvido, por exemplo, que a morte de Spade tenha afetado Bourdain - e que a deste afete outros. "Se nem (fulano) que era famoso, rico e saudável conseguiu escapar, que chance eu tenho?" - esta é a pergunta que costuma destrancar a porta que se abre para o penhasco. Mas (fulano) não era exatamente saudável; tinha ao menos uma doença grave: justamente a que o matou.

Peço, portanto, que se mantenham especialmente atentos aos familiares ou amigos que já lutam diariamente com a depressão. Ofereçam carinho, ombro, lanches gostosos ou apenas sua presença. Não julguem. Não digam "você precisa ser forte". Ou "você tem que valorizar a vida ótima que tem". Ou "você tem tudo para ser feliz". Ou "você tem que se esforçar para sair da cama". Ou "tem tanta gente com problemas maiores por aí". Ou "ore e peça ajuda a Deus".

Diga "eu estou aqui". Isso já vale o mundo.

E saibam, companheiros de luta, que também estou aqui. Sei que não é fácil, sei que dói, conheço a sensação fria do vazio que angustia mais do que a tristeza e reconheço a atração que o fim exerce.

Mas vocês não estão sozinhos. Eu e muitos outros estamos ao seu lado.

Um beijo imenso e carinhoso em vocês".




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