domingo, 25 de novembro de 2018

6 coisas que pessoas com depressão gostariam que você soubesse

Há dois anos, fui diagnosticada com depressão. No auge dos meus 25 anos, interpretei como um atestado de fracasso, pois enquanto meus amigos cresciam nas carreiras e na vida pessoal, eu precisei me afastar do trabalho e me sentia esquisita trocando a cerveja do bar por gotinhas de inibidores seletivos da recaptação da serotonina — os remédios mais comuns para o tratamento da depressão e transtornos de ansiedade.

Com o tempo, porém, entendi que não havia nada de esquisito no meu diagnóstico, pelo contrário, eu estava exatamente no grupo de maior prevalência: mulheres com entre 18 e 25 anos, segundo o Instituto Nacional de Saúde Mental (NIH), dos Estados Unidos.  
E percebi que falar sobre o assunto é importante não só para me ajudar a lidar com os sintomas do distúrbio, quanto para conscientizar outras pessoas sobre um transtorno que já é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de problemas de saúde e incapacidade em todo o mundo.  Por isso, baseando-me em experiências próprias e conversas com outras pessoas que também têm ou tiveram depressão, reuni 6 coisas que gostaríamos que você soubesse:

1. Depressão não é sinônimo de tristeza
O sentimento de tristeza, que é muito mais uma sensação desesperança e falta de perspectiva em relação ao futuro do que vontade de ficar na cama chorando o dia inteiro, é só um dos sintomas do distúrbio. Muita gente, inclusive, reclama da inabilidade total de conseguir de fato derramar lágrimas.

2. Nem de preguiça
No auge de um episódio depressivo, até atividades de lazer, como assistir a um filme, podem se tornar difíceis. Isso porque a capacidade de concentração praticamente desaparece, e a única tarefa que não exige foco é ficar deitado — mas isso não necessariamente significa dormir. A insônia, aliás, é um dos sintomas mais comuns, ao contrário do que muita gente parece acreditar.

3. Nós somos os que mais duvidamos dos sintomas
Antes de sugerir que tudo possa ser “só uma fase” ou que “vá dar uma volta para melhorar o astral” a algum amigo que relata sintomas de depressão, saiba que tudo isso provavelmente já passou pela cabeça dele. Eu levei mais de seis meses de terapia, duas consultas em um clínico geral e uma em um psiquiatra para aceitar que o que eu tinha era real, e não um monte de frescuras e loucuras, e que eu devia tomar o remédio. Se você sente que precisa sugerir ou dar algum conselho, o melhor é oferecer ajuda para buscar recomendações de médicos ou mesmo acompanhar em alguma consulta.

4. E achamos que somos culpados por eles
Uma das maiores sacanagens da depressão é o sentimento de culpa não só pela situação, como por todos os problemas do mundo. O que não faz o menor sentido quando você vê de fora e está bem, mas menosprezar o sentimento, com frases do tipo “você está exagerando” ou “pare de frescura”, não ajudam em nada.

5. Não é só tomar um remedinho
Ao contrário de outras doenças, que têm um remédio feito sob medida para o tratamento, existem diferentes tipos de medicamentos para a depressão — e não estamos falando de genérico e não genérico, até porque a maioria deles é bem cara (alô, mundão, está na hora de deixar esse tratamento mais acessível, né?). Encontrar o ideal para cada pessoa pode levar tempo e mais tempo ainda pode levar até começarem a fazer efeitos: em média, três semanas. Tudo isso enquanto se aguenta no osso efeitos colaterais como náusea, boca seca, dor de cabeça. Como se estivesse com ressaca o tempo todo, não bastassem todos os outros sintomas.

6. Não se assustem
Depressão não é doença crônica, mas é quase como se fosse, por causa dos altos e baixos. Estou há alguns meses tentando parar de tomar o remédio, em vão. É claro que com o tempo a gente aprende a conviver e a identificar gatilhos que desestabilizam a química do cérebro, embora dificilmente haverá um momento de “cura”. Portanto, não se assustem se um dia estivermos bem e, no minuto seguinte, quisermos ir embora da festa. Acontece. É bom saber que você se importa e tem empatia, mas reações exageradas também incomodam — procure dar abertura para o deprimido conversar e só ouça o que ele tem a dizer.

MARILIA MARASCIULO

https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2018/09/6-coisas-pessoa-com-depressao-gostaria-que-voce-soubesse.html


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