quarta-feira, 4 de novembro de 2015

"Embora a prevenção do suicídio seja bastante avançada nos Estados Unidos, onde o assunto é tratado como questão de saúde pública, mesmo naquele país há uma tendência em lidar com o suicida como um doente que precisa de diagnóstico e medicamento. Dr. Edwin Schneidman, responsável pela abertura do primeiro centro de prevenção ao suicídio nos Estados Unidos, em 1958, defende o oposto:

'Atualmente, o suicídio é identificado como um tipo de depressão, o que intelectualmente vem da Psiquiatria do século XIX. O Manual de Diagnóstico Estatístico, DSM-IV, o trata como se fosse um fígado ou rim. Eu acredito que existe uma enorme quantidade de dor psicológica no mundo sem suicídio, mas não há suicídio sem uma enorme dor psicológica.

O nome dessa dor é dor psíquica, ou seja, localizada na mente do indivíduo. É a dor da emoção negativa como vergonha e solidão. O suicídio é um estado de perturbação aguda, a pessoa está infeliz sobre o status quo e quer modificá-lo, portanto, o ato é um esforço no sentido de parar o fluxo da dor.

Minha abordagem clínica não é estabelecer um diagnóstico psiquiátrico, nem mesmo saber seu histórico familiar. Ambos são importantes, mas não são centrais. O foco é responder a duas perguntas: 'onde dói?' e 'como posso ajudá-lo?'. A maneira de prevenir o suicídio é identificar a fonte da dor, depois endereçá-la corretamente. O suicídio não é uma doença do cérebro, é uma perturbação da mente, uma tempestade psicológica".

In: Suicídio: o futuro interrompido - Guia para sobreviventes, de Paula Fontenelle.  


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